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Oded Grajew

Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e UniEthos

Op-AA-13

Visão estratégica da sustentabilidade social

O momento em que vivemos é fundamental para refletirmos sobre nossas atitudes, diante do que será o futuro não tão distante, repercutindo diretamente em nossa geração e comprometendo as possibilidades para aquelas que virão. O segmento estratégico de bioenergia, que se apresenta para o setor de açúcar e álcool, põe-nos diante de inúmeras possibilidades. Tomara que não escolhamos as piores.

Os empresários do setor devem estar atentos ao que o movimento de responsabilidade social acumulou de história até aqui e deve aprofundar sua visão de sustentabilidade do agronegócio, com todas as potencialidades que o Brasil representa. Em 1987, um movimento de empresários formou o Pensamento Nacional das Bases Empresariais, PNBE.

Os objetivos defendidos à época eram: aprofundar a democracia no Brasil, enfrentar os abusos de poder econômico, buscar melhor distribuição de renda, optar pela negociação como melhor processo para resolução de conflitos, aceitar a diversidade como elemento enriquecedor dos processos e defesa do patrimônio material e humano do país.

Em 1998, foi fundado o Instituto Ethos, para mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios, de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. Passados 20 anos, nós podemos contar com apenas mais 20 anos para lidar com os desafios que a sustentabilidade impõe-nos, dentre os quais o mais dramático é o de lidar com a mudança climática e todas as conseqüências catastróficas que ela representa.

O Instituto Ethos defendeu, no Manifesto pelo Desenvolvimento Sustentável do País, lançado em 2006, que, “Já que conhecemos os riscos do atual modelo de desenvolvimento, temos recursos e tecnologia e sabemos o que deve ser feito para alcançar a justiça social e cuidar do planeta, a opção pelo desenvolvimento sustentável depende apenas da vontade política dos governos e da sociedade. Ou seja, trata-se de uma escolha ética.”

A escolha ética dos empresários do setor de açúcar e álcool deve levar em conta que este negócio não pode se basear exclusivamente em um dos tripés da sustentabilidade, a dimensão econômica, com a manutenção das vantagens competitivas da produção nacional no mercado internacional e no equilíbrio adequado entre a expansão da produção e ampliação da demanda interna e externa dos produtos.

Para gerir seus negócios, considerando os aspectos sociais e ambientais, uma agenda mínima deve ser seguida, sobretudo porque a imagem que este setor construiu junto à sociedade, definitivamente, não é das melhores. Há “fantasmas” presentes no imaginário da sociedade e, de fato, muito a avançar.

A pergunta é: Por onde começar? Ou: Quais são os passos mínimos que o setor deve dar e em que direção sua expansão deve apontar? No ano passado, a Unica, e seu então presidente Eduardo de Carvalho, entendeu que buscar respostas a estas perguntas era fundamental para se preparar para a expansão do setor e, por isso, em parceria com o Ethos, celebrou um convênio para que pudéssemos facilitar a aplicação dos Indicadores Ethos de RSE, em diversas usinas de açúcar e álcool, filiadas à entidade.

Esta experiência revelou que é possível esperar mais do que a busca exclusiva por lucros ou a expansão desenfreada, sem avaliar os impactos no meio ambiente de seus empresários. A agenda mínima para o setor deve contemplar os seguintes aspectos:

 

  • A agenda do trabalho decente deve ser observada em toda a cadeia de valor, no segmento de açúcar e álcool. O trabalho escravo ainda está associado ao setor, porque não há a visão de que haja co-responsabilidade das usinas e dos produtores rurais.
  • A legislação ambiental deve ser seguida à risca, sobretudo quanto aos impactos ambientais, decorrentes da expansão da produção canavieira. Institutos como Reserva Legal, as Áreas de Proteção Permanente e até mesmo os Corredores Ecológicos podem e devem ser valorizados e incentivados, como diferencial de posicionamento estratégico do setor.
  • A força da expansão dos negócios deve incorporar a economia solidária, sobretudo a pequena produção familiar. A equação de crescimento dos negócios deve contemplar a geração de trabalho e renda, como aspecto social positivo.
  • O governo também tem seu papel, que é o de compreender a condição estratégica de ser o maior produtor de etanol como combustível alternativo aos de origem fóssil, combinando parâmetros socioambientais a essa realidade.
  • Apesar do reconhecido esforço pela profissionalização dos dirigentes de empresas familiares, o aperfeiçoamento dos valores, transparência e governança nas companhias produtoras de açúcar e álcool é fundamental para assegurar que as companhias assumirão posturas voltadas ao desenvolvimento sustentável e justo.

No manifesto citado acima, apontamos que “as quatro maiores auditorias do mundo (Deloitte, Ernst & Young, PricewaterhouseCoopers e KPMG) aplicam, com mais freqüência, critérios não-financeiros para analisar balanços, reconhecendo que os princípios contábeis, hoje vigentes, tornam-se progressivamente obsoletos para avaliar o impacto socioambiental das atividades das empresas, bem como sua viabilidade econômica.” Para o setor, pensar estratégico em termos de sustentabilidade é não poupar esforços para incorporar critérios socioambientais em seus planos de negócios. Os maiores auditores desse esforço serão nossos filhos, netos e bisnetos.