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Luiz Carlos de Almeida

Consultor da Entomol Consultoria

Op-AA-48

Pragas na cultura da cana-de-açúcar
O crescimento contínuo da população humana, bem como as demandas por recursos básicos de subsistência, sobretudo no que diz respeito à produção de alimentos, tem exigido cada vez mais o desenvolvimento de estratégias inovadoras ou a produção de novas informações, que venham a auxiliar na aplicação de técnicas sustentáveis de produção agrícola. O atendimento para a crescente necessidade de produção de alimentos tem levado à prática intensiva de sistemas de cultivo agrícola, e o uso de novas tecnologias tem permitido práticas agrícolas com capacidade de atender às necessidades de produção.

Mas, ao mesmo tempo em que a produção aumenta, surgem diversos problemas, e, dentre eles, o aumento de pragas, que pode ter consequências sociais e ambientais indesejadas. A área de cana-de-açúcar plantada no Brasil e os níveis de produção alcançados tornam o Brasil o maior produtor mundial de açúcar e o segundo produtor mundial de etanol. As pragas que ocorrem nas lavouras canavieiras causam danos aos colmos, aos perfilhos, às folhas, ao sistema radicular e à base de colmos, desde a implantação até a reforma do canavial, ocorrendo, em geral, maior infestação nos canaviais com maior número de cortes.

O dano causado por elas reduz a produção agrícola e afeta a qualidade da matéria-prima a ser industrializada, reduzindo, também, o rendimento dos processos de produção de açúcar e álcool. A contenção dos prejuízos somente pode ser feita com planejamento estratégico do manejo de pragas, o qual se inicia com avaliação da ocorrência da praga para conhecer as medidas de controle, fundamentadas nos levantamentos de campo. Assim, abordagens multissistêmicas e multidisciplinares são extremamente importantes para a geração de novas informações e na produção de novas tecnologias que venham permitir a prática sustentável de uma agricultura moderna.

 
No manejo de pragas da cultura da cana-de-açúcar, o monitoramento é o principal componente para o sucesso na redução populacional da praga, mantendo-a em níveis de equilíbrio e promovendo a racionalização dos métodos de controle. Para a elaboração de um programa de manejo sustentável de pragas, são levadas em consideração diversas etapas, que incluem o reconhecimento das pragas-chave com estudos taxonômicos e biológicos, o estudo dos fatores climáticos que afetam a dinâmica populacional da praga, a avaliação dos inimigos naturais, a determinação dos níveis de dano econômico, de controle ou de equilíbrio, a avaliação populacional por meio de amostragens e a avaliação dos métodos mais adequados para o controle da praga-alvo.
 
Existe cerca de 1 milhão de insetos no mundo, e, desses, 1.300 espécies adaptadas à cultura da cana-de-açúcar, 500 nas Américas, e 30 espécies catalogadas em cana no Brasil. As principais pragas da cana podem ser listadas de acordo com a sua ocorrência, e, dentre elas, podemos citar a broca-da-cana, do gênero Diatraea, cigarrinha-das-raízes e das folhas, do gênero Mahanarva, bicudo-da-cana, do gênero Sphenophorus, cupins, broca-gigante, do gênero Telchin, broca-dos-rizomas, do gênero Migdolus, nematoides, formigas cortadeiras, do gênero Atta, e lagarta-elasmo. A broca da cana-de-açúcar, Diatraea spp, é uma das principais pragas dessa cultura e ocorre em todas as regiões canavieiras do Brasil.

Nas usinas onde os níveis populacionais são elevados, o manejo da praga tem sido realizado com sucesso, utilizando-se o controle biológico com liberações dirigidas de parasitoides. Esses inimigos naturais da praga, além de proporcionarem resultados econômicos positivos, não provocam desequilíbrios ecológicos. A adoção da colheita mecanizada de cana crua equacionou a questão econômica relacionada aos custos de produção e proporcionou inúmeros benefícios agronômicos e ambientais. Em contrapartida, a eliminação da queima e a presença de palha no ambiente modificaram, dentre outros aspectos, o perfil de pragas da cultura, destacando-se o caso da cigarrinha-das-raízes da cana-de-açúcar, Mahanarva fimbriolata.

 
Nesse novo ambiente, a cigarrinha encontrou condições mais favoráveis de sobrevivência, pois a destruição de formas biológicas pela ação de fogo, especialmente ovos em diapausa que estão presentes em maior quantidade na época da colheita na região Sudeste, deixou de ocorrer. Além disso, o acúmulo de palha no ambiente contribuiu para um aumento significativo da quantidade de raízes superficiais e, portanto, dos locais de alimentação das ninfas, para a manutenção de temperaturas mais estáveis e para a elevação da umidade do solo, além de proporcionar maior proteção das formas imaturas contra o ressecamento. 
 
O principal parâmetro determinado no monitoramento e levado em consideração para a tomada de decisão sobre a necessidade da adoção ou não de medidas de controle é o número de ninfas por metro. Embora o nível de controle (NC) e a densidade populacional da praga em que se justifica a adoção de medidas de controle sejam variáveis, em função do valor econômico da cultura, variedade cultivada, método de controle utilizado e de uma série de outros fatores, tem-se recomendado a aplicação do fungo M. anisopliae quando forem encontradas populações superiores a 2 ninfas/m.
 
Sphenophorus levis, conhecido como bicudo-da-cana, se destaca pela severidade dos danos e, principalmente, pelas dificuldades de controle relacionadas ao comportamento e habitat de adultos e larvas. Os prejuízos econômicos são decorrentes de perdas na produtividade agrícola, que variam de 20 a 30 toneladas de cana por hectare, perdas na qualidade da matéria-prima, redução da longevidade do canavial e elevação dos custos de produção, devido às ações de monitoramento e controle que se fazem necessárias. A importância de S. levis para a cultura da cana-de-açúcar foi reconhecida em 1977, com a descoberta de um foco no município de Santa Bárbara do Oeste-SP.

Sua distribuição ficou restrita à região de Piracicaba por quase duas décadas, apresentando um ritmo de expansão relativamente lento nesse período. Entretanto a área de abrangência dessa praga em 30 municípios teve um crescimento significativo a partir do ano de 2000, sendo confirmada sua nova presença em mais de uma centena de municípios nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. As pragas de solo, de maneira geral, são responsáveis por elevados prejuízos econômicos à cultura da cana-de-açúcar. Dentro desse grupo, cupins, Telchin, Migdolus e nematoides se destacam pela severidade dos danos e, principalmente, pelas dificuldades de controle relacionadas ao comportamento e ao habitat.

Os prejuízos econômicos são decorrentes de perdas na produtividade agrícola, que variam de 10 a 30 toneladas de cana por hectare, perdas na qualidade da matéria-prima, redução da longevidade do canavial e elevação dos custos de produção, devido às ações de monitoramento e controle que se fazem necessárias. Os prejuízos anuais com as pragas, que afetam a cultura da cana-de-açúcar no Brasil chegam a R$ 6,7 bilhões. Dessas pragas, as duas principais são a broca-da-cana Diatraea, que ocorre em 8 milhões de hectares, e a cigarrinha Mahanarva, em 3 milhões de hectares, respondendo, juntas, por perdas que somam R$ 4,73 bilhões do total. Para o controle dessas pragas, deve-se priorizar o controle biológico, sempre que for possível, adotando uma visão mais geral do problema e da interferência dos métodos de controle sobre outras pragas e principalmente sobre o ambiente, pensando sempre em um manejo sustentável.