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João Carlos de Figueiredo Ferraz

Presidente da Brasil Álcool

Op-AA-08

Brasil álcool: uma ferramenta preciosa

A crise que o setor sucroalcooleiro passou no ano de 1998, em razão da sua mal implementada desregulamentação, por parte do governo federal, trouxe o caos a esta atividade, levando o setor à beira do abismo financeiro. De um momento para outro, fomos obrigados a negociar nosso álcool combustível com um setor de distribuição ordenado por uma política comercial comum e com interesses convergentes que, num sistema de leilão predatório, fez com que o preço de venda dos produtos (anidro e hidratado) chegassem bem abaixo do custo de produção.

Um dos fatores que pesaram decisivamente nesta implacável diminuição de preço do álcool combustível foi o enorme estoque de passagem, de uma safra para outra, que o setor vinha carregando. Com o apoio do então governo federal, tomamos a iniciativa de organizar o setor, num processo de autogestão, criando uma empresa que se chamou Brasil Álcool, da qual participou a quase totalidade dos produtores da região Centro-Sul do Brasil.

Este projeto começou com a venda do estoque, então disponível, para a Brasil Álcool, por um preço acordado entre os produtores, o que fez com que a oferta deste volume excedente não agredisse o mercado. Este procedimento, além da reação esperada por nós, de equilibrar as forças de oferta e demanda no mercado local, trouxe também a visão da oportunidade de poder trabalhar o mercado externo com segurança, tanto para o abastecimento do mercado local, quanto para os importadores interessados em contar com um fluxo constante de remessa.

Esta empresa foi capaz de executar, nos seus primeiros meses de vida, a maior exportação de álcool já realizada, em todos os tempos, pelo Brasil. O interesse internacional pelo álcool combustível brasileiro intensificou-se com a segurança que a empresa Brasil Álcool transmitia e o mercado interno acalmou-se, sabendo que o estoque estratégico, na mão dos produtores, garantiria o abastecimento.

Mas a recuperação dos preços do álcool, a níveis de realização iguais aos praticados antes da desregulamentação, não agradou aos intermediários, que se apropriavam do diferencial dos preços, e viram suas margens decrescerem. Fomos denunciados ao CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, por prática de ato de concentração econômica.

Depois de muitas seções de avaliação e análise, fomos julgados e absolvidos por este conselho que, apesar de considerar o nosso ato legítimo, em função do momento em que o praticamos, sentenciou-nos a dissolver a empresa Brasil Álcool.

No breve espaço de tempo em que pudemos trabalhar com essa preciosa ferramenta do estoque estratégico, compreendemos a absoluta necessidade que tem, não apenas o setor produtivo, mas toda a cadeia responsável pela segurança e abastecimento do mercado local de álcool combustível, de que não venhamos a sofrer pelas oscilações, ou de falta de produto, ou de preço, como as que tivemos neste recentíssimo passado.

Tentamos outra iniciativa semelhante, porém com objetivos diferentes, com a Etanol Trading, empresa que visava simplesmente atuar no mercado externo, mas que também foi rechaçada pelas autoridades competentes, sob o mesmo argumento. Hoje vemos os compradores internacionais inseguros quanto à garantia de continuidade de fornecimento para exportações e os consumidores locais insatisfeitos com as oscilações de preço no período da entressafra. A solução para este problema existe, todos sabem exatamente qual é. Se o setor produtivo não pode usá-la, que a faça o governo federal, pela exigência de lei que o obriga a ter estoques de segurança de combustíveis. Enfim, não pode o consumidor ser prejudicado pela falta de garantia do mercado.