Me chame no WhatsApp Agora!

Paulo Adalberto Zanetti

Presidente da Vale do Ivaí - Açúcar & Álcool

Op-AA-13

Certificação é indispensável. Zoneamento é fundamental.

Somente pode ser considerado como sustentável o desenvolvimento de um negócio, se for baseado em um tripé ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. Isto não é conversa de ambientalista, mas de qualquer administrador preocupado com a saúde e a continuidade de um negócio, em qualquer ramo de atividade.

Não existe um negócio que seja 100% sustentável, mas o equilíbrio deste tripé deve ser buscado continuamente. Na administração diária da empresa, tomamos decisões que podem privilegiar uma ou outra perna deste tripé, entretanto, nunca devemos desprezar as duas outras. No médio e longo prazos, este negócio não se sustentará e cairá do lado da perna sacrificada.

É de se imaginar que o empresário pense apenas em tornar seu negócio economicamente viável, mas, se assim agir, esquecendo-se das questões sociais ou ambientais, mais cedo ou mais tarde, deverá voltar para reparar os danos causados. Isto, se tiver tempo. Cada atividade econômica tem um grau de importância diferenciada para cada perna deste tripé.

Quando se administra um negócio agrário, as questões sociais e ambientais são muito latentes e evidenciadas. Embora não seja tido como tal, os cuidados com a terra têm, para o empresário agrário, um peso muitíssimo importante. A terra faz parte de seu patrimônio. Cuidar bem dela é preservar sua propriedade. Falo isto por vivência pessoal. Lido com terras desde que comecei a trabalhar, ainda criança.

Conheço muita gente nesta área, pessoas que respeitam os quesitos do tripé da sustentabilidade e têm se dado muito bem com isto e alguns, muito poucos, que agindo de forma diferente, acabam tendo dificuldades para dar continuidade ao seu negócio. O agir diferente é a exceção, mas tenho visto as exceções serem interpretadas como regras.

É compromisso comum à maioria absoluta dos empresários do setor sucroalcooleiro, aliar as exigências e condições empresariais do mercado com suas economias cada vez mais integradas, com a geração e a estabilidade de empregos, renda e as demais questões sociais, e, em igual nível de importância, com a conservação dos recursos naturais, disponibilizados em suas terras.

No que se refere às questões sociais, uma usina relaciona-se com a sociedade de 5 a 10 cidades que a circundam, que, via de regra, transcende em muito a relação de capital-trabalho e, quanto mais segura, ampla e profunda esta relação for, maiores benefícios surtirá para ambos os lados. Em relação às questões ambientais, a instalação de uma usina é um projeto de longo prazo, onde a integração de fatores como a terra, água, clima e natureza influenciam diretamente no sucesso do empreendimento.

Como o empresário que investe neste setor vai permanecer no local, explorando os recursos naturais por um longo período, não desenvolve características típicas do extrativismo, já que seu desejo é melhorar, a cada safra, suas condições de produção. Há um cuidado enorme no cultivo da cana-de-açúcar, para que melhore as condições, a fertilidade, através dos tratos culturais adequados e de investimentos nos fatores de produção do campo e da conservação do solo.

Considerando ser um projeto de longo prazo, o empresário preocupa-se muito mais com o futuro, com o que vai fazer nos próximos anos. É muito importante lembrar que esta empresa prevalecerá sobre esta e suas próximas gerações; não são empresas de especulação ou de ciclo curto. O Brasil possui, em muitas regiões acima do paralelo 24, áreas muito vastas, com boas condições de clima, solo e topografia, ideais para a presença da cana-de-açúcar, envolvendo, assim, diversas condições de colonização, culturas e realidades.

A expansão da cana tem sido feita, numa proporção bastante significativa, em substituição à pastagem, onde as terras são exploradas de forma rudimentar ou até mesmo extrativista e, uma menor parte, em substituição a outras culturas já instaladas, que já não garantem uma boa e segura rentabilidade ao agricultor. De acordo com a atividade que foi substituída, a cana foi estabelecendo um cenário com condições sociais bem diferentes.

No passado, na região do Paraná, foram derrubadas matas para o plantio do café, que exigia mão-de-obra intensiva e grande geração de empregos. Mais tarde, o café foi substituído pelo algodão, também exigente de mão-de-obra intensiva, e depois substituído pela cultura da cana-de-açúcar, requerente do mesmo tipo de mão-de-obra, dependendo da tecno-logia aplicada para a colheita.

No meio deste panorama de evoluções e rotações, algumas culturas foram substituídas por pastagens ou pela soja, provocando um êxodo para os grandes centros, facilitando, pela desqualificação da mão-de-obra envolvida, a formação de favelas. A evolução natural destes cenários foi consolidando realidades completamente diferentes, que, aliadas à instalação de indústrias na região, acabaram por formar micro-regiões.

Isto fez com que, às vezes, cidades vizinhas acabassem por apresentar realidades completamente diferentes. A cultura da cana-de-açúcar, em função da disponibilidade de mão-de-obra local, utiliza uma grande quantidade de mão-de-obra, ou pela sua carência, os recursos da mecanização. O assunto do momento é a Certificação.

Isto é uma necessidade inquestionável para o setor, que consolidará procedimentos, uniformizará boas práticas de produção, derrubará argumentos e, junto com eles, as barreiras não-tarifárias. A Certificação buscará a sustentação, sob o equilíbrio do tripé social, ambiental e econômico. Mas, não existe um procedimento mais injusto que tratar os desiguais de forma igual.

Não há como colocar todas as usinas do país debaixo da mesma condição, pois estão, historicamente, assentadas em realidades completamente diferentes. No Paraná, existem usinas que sustentam as economias de 5 a 10 pequenas cidades, sem nenhuma ou uma quase inexistente disputa com a indústria e serviço, ocupando quase a totalidade da mão-de-obra disponível.

No Nordeste, planta-se cana em áreas com topografias adversas, mas agora não adianta falar isto, a usina está lá e representa sozinha, às vezes, toda a economia da região. Se forem obrigadas, pelos interesses ambientais, a banirem a queima da cana, imediatamente, sem seguir um programa que estabeleça um processo, as usinas do Paraná, de modo geral, resolverão esta questão ampliando sua mecanização e demitirão, criando um caos social nas cidades delas dependentes.

Algumas usinas do Nordeste, fecharão, pois nem opção da mecanização poderão se utilizar, e com elas as cidades que delas dependem. A perna ambiental confronta aqui não apenas com a econômica, mas também com a social. Estamos sempre falando de tripé, de equilíbrio. Assim como o econômico não pode suplantar o ambiental e o social, o ambiental não pode ignorar os recursos do econômico, tampouco as necessidades do social.

No equilíbrio está a razão. A certificação poderá ser considerada sustentável, à medida que respeite as características de cada micro-região. Portanto, torna-se indispensável o estabelecimento de um zoneamento, que considere de forma bastante apurada tais diferenças regionais. Tão importante quanto os quesitos solo, clima e topografia, é a instalação antecipada e racional de indústrias e estruturas operacionais de serviços, que planejem a ocupação da mão-de-obra que será disponibilizada pelas usinas, envolvendo iniciativas privadas e públicas, locais e nacionais, assumindo compromissos de curto, médio e longo prazo, de forma séria e apartidária, sem pressas inconseqüentes e inoportunas, com consciência e responsabilidade. Que haja Certificação. Ela é indispensável. Mas que haja um Zoneamento precedendo e estruturando a Certificação. Ele é fundamental.