Diretor da Bioagência
Op-AA-16
Neste ano, veremos o consumo de álcool no país igualar-se ao de gasolina, trazendo à tona um dos principais desafios do setor sucroalcooleiro, que é tornar adequado o sistema logístico da distribuição do álcool, com a crescente oferta do produto para o mercado interno. Se por um lado, este fato traz uma enorme euforia ao setor, há também um grande desafio a ser superado, de forma rápida.
Não há mais tempo para questionar se isto acontecerá ou não, as decisões que resolverão este tema, de forma duradoura, terão que ser tomadas, imediatamente. O aumento da frota de veículos flex tem colocado esta questão como a mais importante do setor, nos próximos anos. O consumidor já tomou a sua decisão, o desafio agora é ter o produto nos postos de abastecimento espalhados pelo país.
A plataforma de aumento da produção do setor sucroalcooleiro já está formada, com dezenas de novos projetos, tanto das tradicionais usinas estabelecidas no setor, quanto dos novos investimentos já aportados no Brasil, para atender o crescimento da demanda. Esta oferta adicional de produto precisa de canais de escoamento para ser colocada no mercado interno e externo, e isto requer um investimento em infra-estrutura, da mesma dimensão desses novos projetos.
No mercado interno, com o crescimento, sem precedentes, da frota de veículos flex, e a constante competitividade do álcool frente à gasolina, seremos levados a uma substituição da demanda de gasolina por álcool. Cabe lembrar que as refinarias de petróleo, hoje instaladas no Brasil, estão localizadas, de forma estratégica, próximas aos grandes centros de consumo, muito diferente da produção de álcool, que cada vez mais está se distanciando dos grandes centros, empurrada pelos altos custos das áreas tradicionais e pela oportunidade que os centros mais distantes oferecem aos novos projetos.
Tome-se, por exemplo, a Grande São Paulo, que concentra cerca de 40% do consumo de combustíveis da região Centro-Sul. Toda a gasolina da Grande São Paulo é suprida por dutos, oriundos das refinarias próximas à região, tais como Paulínia, que atende, principalmente, a região Oeste; São José dos Campos, que atende as Bases da região Norte e Leste; e Cubatão, que atende parte das regiões Leste e Sul.
Com a renovação acelerada da frota de São Paulo, o consumo de gasolina vem diminuindo de forma muito rápida e o consumo de álcool vem aumentado, na mesma proporção. A conseqüência desta mudança é que, a cada dia, estão trocando modais rápidos, eficientes, não poluentes, por um modal ineficiente, caro, lento, poluente, agravado pelas circunstâncias atuais do trânsito na Grande São Paulo, pois todo o álcool consumido nesta região é originado do interior de São Paulo, ou, em muitos casos, em outros estados.
Há a necessidade urgente de encontrarmos soluções capazes de resolver este problema, para que o álcool continue a sua trajetória de crescimento, pois toda plataforma de evolução da produção de cana-de-açúcar já está devidamente estabelecida. Não podemos esquecer, neste contexto, do mercado externo, que se apresenta muito promissor, dadas as políticas de incentivo à utilização dos combustíveis renováveis ao redor do mundo, que está sendo acelerada pelos atuais preços do petróleo, acima de US$ 100 o barril.
A logística de exportação só vem agravar o quadro atual do suprimento do mercado interno, pois concorre com os equipamentos disponíveis para este mercado. As restrições que estão sendo impostas ao tráfego de veículos pesados nas grandes cidades tornam este quadro ainda mais alarmante. Não podemos deixar de ser competitivos com a gasolina, e esta será a premissa que norteará o crescimento do mercado de álcool combustível nos próximos anos.
Olhando para o passado, onde os volumes a serem movimentados eram bem menores e decrescentes, vemos a necessidade de mudanças urgentes neste processo. O mercado de álcool combustível cresce a impressionante 3.500.000 m³, a cada ano. Este incremento de volume, por si só, já dá a dimensão do desafio que estamos sendo chamados a resolver.
Trata-se de um problema de infra-estrutura, que requer tempo, um capital elevadíssimo e taxas de retorno bem reduzidas. Para que possamos fazer a transição, em busca de um sistema eficiente e permanente, temos que, neste primeiro momento, adequar os modais existentes, investir em terminais mais próximos aos centros de consumo, formando estoques para entrega, mais próximos ao cliente final.
Existe a possibilidade de reabilitarmos os Centros de Coletores de Álcool já existentes no interior, movimentando uma expressiva parte da demanda através das ferrovias, que necessitarão investir em vagões e tração. Todas estas iniciativas são fundamentais, para que mantenhamos este processo de crescimento sustentável da demanda de álcool combustível, enquanto as medidas definitivas, que é a construção de um alcoolduto de grande capacidade, não se tornam realidade. O mercado de álcool continuará a crescer nos próximos anos, cabe a todos os agentes da cadeia sucroalcooleira de hoje adequar a base para aquilo que está mais próximo do que imaginamos.