Coautor: Gabriel de Oliveira Teixeira, Economista, Mestrando em Administração na FEA-USP e Consultor na Markestrat Group
A maneira de se gerar energia de forma sustentável é uma das principais discussões da atualidade. Medidas para produção de energia elétrica e combustíveis para minimizar o impacto no meio ambiente e na saúde das pessoas têm sido tomadas no mundo todo e discutidas constantemente em importantes eventos internacionais, como nas Conferências das Partes (COPs) promovidas anualmente pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Nesse contexto, o Brasil certamente é um dos países de maior destaque. A produção e o consumo de etanol há muito tempo é uma tradição no nosso país, uma vez que esta ocorre em larga escala por meio da cana-de--açúcar, desde a década de 1970, quando foi implantado o Proálcool e, desde então, tem impactado positiva e continuamente a geração de renda e o trabalho para a população, promovendo um desenvolvimento econômico de forma singular. Mais recentemente, inúmeras novas oportunidades têm surgido e prometem levar o setor de bioenergia para um patamar ainda mais alto por meio da expansão de novos produtos e tecnologias.
A Política Nacional da Biocombustíveis, o RenovaBio, tem se fortalecido nos últimos três anos; pode ser considerada um importante marco para o setor com um papel de enorme relevância no crescimento de biocombustíveis, como o biometano, o bioquerosene de avião, o biodiesel e do próprio etanol, o qual tem ganhado força também por meio da sua produção a partir do milho. O aumento da oferta desses produtos irá tornar nos próximos anos a matriz energética brasileira cada vez mais sustentável. Pesquisas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Agência Internacional de Energia (IEA) do ano de 2022 mostram que cerca de 45% da produção energética do Brasil utiliza fontes renováveis.
Esse número é 3 vezes maior quando comparado ao do resto do mundo, que possui apenas 15% da sua energia produzida a partir dessas mesmas fontes. Com a tendência de crescimento da energia sustentável no país, até o ano de 2050 deverá ser alcançada a neutralidade de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e a bioenergia terá um papel primordial neste acontecimento. Para se ter uma ideia desse impacto, o biogás, por exemplo, tem 98% do seu potencial a ser ainda explorado atualmente, sendo conhecido como o “pré-sal caipira”.
Ele pode ser transformado em biometano e utilizado em veículos pesados como combustível sustentável ou queimado para a geração de energia elétrica. Tem, também, a vantagem de ser uma fonte de energia não intermitente, ou seja, que pode ser gerada durante todo o ano sem interrupção.
O crescimento da produção de biometano tende também a fazer com que haja um aumento da frota de caminhões que utilizam esse combustível em vez do diesel. Isso gera não só um grande benefício ambiental, mas também econômico, semelhante ao que tem ocorrido com a utilização do biodiesel, já que seu uso diminui a dependência brasileira do combustível fóssil, que é, em grande parte, importado e pode ter fortes variações de preços conforme o câmbio e o valor do barril de petróleo.
Além disso, quando produzido a partir dos resíduos da cana-de-açúcar, como a vinhaça ou a torta-de-filtro, o biogás pode promover um interessante modelo de economia circular, já que a energia elétrica gerada e o biometano podem ser utilizados na produção da indústria sucroenergética é ainda transformar resíduos considerados passivos ambientais em ativos energéticos.
De forma semelhante, dados da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM) do ano de 2022 mostram que a produção de etanol a partir do milho deve apresentar crescimento acentuado nos próximos anos, chegando a representar 20% da produção total do biocombustível até 2030.
Assim como o biogás, a sua industrialização também consegue gerar um modelo de economia circular, nesse caso podendo ser integrada à cana-de-açúcar e à pecuária, uma vez que há, como coproduto da sua cadeia produtiva, a bioeletricidade que pode ser consumida pela própria usina (ou vendida) e o DDG (Dried Distillers Grains) que pode ser utilizado na alimentação animal, que, por sua vez, gera esterco que, ao ser tratado, serve como fertilizante para o milho e para a cana.
Estudos mostram que o biometano e o etanol têm potencial para abastecer os veículos mais ecologicamente corretos. Estima-se que um automóvel híbrido a biometano consiga emitir 4,5 vezes menos carbono na atmosfera, quando comparado a um modelo semelhante a gasolina. Porém, um carro híbrido que utilize etanol tem potencial de liberar 3,5 vezes menos CO2, o que gera uma redução incrível nas emissões.
Outra fonte de energia promissora oriunda do agronegócio brasileiro é o bioquerosene de aviação, conhecido como BioQav ou SAF (Sustainable Aviation Fuel). O Brasil tem potencial para produzir o biocombustível de forma que seja possível substituir toda a demanda nacional de querosene por parte da aviação, que, atualmente, é de 6 bilhões de litros, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A aviação é responsável pela emissão de 17 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. O bioquerosene destaca-se por possuir sinergia com o setor sucroenergético, já que podem ser utilizados como matérias-primas para a sua produção, o etanol e os resíduos da cana-de-açúcar.
Por fim, vale lembrar que a produção do hidrogênio verde, conhecido como “combustível do futuro”, deve atrair investimentos nas próximas décadas. Com capacidade energética três vezes superior à da gasolina, o hidrogênio, além de ter potencial de substituir o derivado do petróleo, pode ser utilizado para a produção de amônia e fertilizantes derivados dela, como a ureia e o nitrato de amônio, que são atualmente importados e geram dependência do Brasil em relação a outros países.
As oportunidades brasileiras na área de bioenergia são inúmeras e podem crescer muito, uma vez que a preocupação com o desenvolvimento sustentável é uma pauta global e faz com que novos investimentos nacionais e internacionais sejam atraídos para os produtos do nosso agronegócio.