Me chame no WhatsApp Agora!

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da ABAG e Diretor da Canaplan

OpAA78

Os parâmetros atuais ideais de governança
“O ser capaz mora perto da necessidade.”
Pitágoras

O processo acelerado de mudanças globais guarda relação direta com os acontecimentos verificados com a reglobalização iniciada no bojo das reações negativas das sociedades face ao aprofundamento das diferenças entre os ricos e pobres, mesmo com a sensível melhoria provocada pela globalização no campo do comércio internacional. A pronunciada queda nas ações liberalizantes do comércio e a subida efetiva nas medidas protecionistas são o lado mais escuro das mudanças que têm ocorrido. Com isso, a Guerra Fria EUA-China, a invasão russa à Ucrânia e, agora, o ataque do grupo Hamas a Israel, entre outras guerras no mundo, criou um ambiente geopolítico, carregado negativamente, às vésperas do ano de 2024, quando haverá as eleições nos EUA.
 
Os impactos profundos observados nos países pós-pandemia, como inflação e crise logística, são percebidos na redução do crescimento da economia de nações-chave como os EUA, os países da União Europeia e China, dificultando as ações efetivas na lógica da descarbonização, ocorrendo o contrário do que foi estabelecido no Acordo de Paris, com maior utilização de combustíveis fósseis e lenta adoção do uso de energias renováveis.

Outro aspecto no processo global de mudanças é a pressão pela melhoria na forma de produzir e consumir, sempre na rota de se buscar a mitigação das emissões de carbono e, ao mesmo tempo, buscar a segurança alimentar e energética do planeta.

Os programas lançados pela União Europeia (Green Deal) e pelos EUA (IRA), sem visão multilateral, e, portanto, sem a governança essencial da OMC – Organização Mundial do Comércio, são ações nitidamente unilaterais que trazem ainda maior complexidade às relações comerciais, perturbando o melhor equilíbrio global obtido no pós-Segunda Guerra Mundial.

Em síntese, há uma grave ruptura na governança global, com tentativas de imposição de políticas internas dos países ricos ocidentais e seu unilateralismo, acarretando dificuldades ao comércio internacional.

Esse desequilíbrio traz problemas a um país como o Brasil, que tem raízes ocidentais, mas  tem seu grande mercado externo no Oriente. Por enquanto, não se sente uma ação unilateral de países como a China, mas a pressão vinda dos países líderes ocidentais pode pressionar os chineses a, também, adotarem medidas unilaterais, o que é preocupante.

Uma consequência desses fatos é a pressão dos grandes importadores e das empresas externas com essas novas medidas e seus impactos no processo de governança das empresas brasileiras, como as certificações e a rastreabilidade, entre outras.

O agronegócio tem mostrado, no Brasil, diferentes evoluções na questão do carbono. A cadeia da cana-de-açúcar, do milho e dos óleos vegetais está à frente das demais cadeias produtivas, em face da lei dos biocombustíveis que levou aos CBIOs e a um mercado moderno na B3 – RenovaBio. As outras cadeias, seja a da pecuária ou a dos grãos, têm procurado se ajustar  à nova realidade e às métricas fundamentais relativas às emissões de carbono.
 
De alguma forma, a pressão dos agentes financeiros no Brasil tem apresentado resposta positiva das empresas do setor sucroenergético na governança, com profissionalização, conselhos montados e abertura de capital. São medidas cobradas pelos agentes citados para a renovação ou para novos recursos de crédito, o que é positivo.

A evolução da governança no agronegócio trará maior consistência aos investimentos, melhor análise das ameaças e oportunidades e maior abertura no networking das empresas. Segundo o ItaúBBA (ItaúBBA, Agroschool, Trilha da Governança Agro, agosto-22), o negócio agrícola, como qualquer outro, precisa ser tocado com bom nível de governança, com estratégia, com planejamento operacional e com gestão profissional.

O mesmo se diz em termos da governança aplicada ao Executivo (federal/estadual/municipal), e no preparo público-privado às negociações internacionais.

Há um desconcerto nas ações dos poderes do Brasil para o tema. Enquanto o Legislativo brasileiro trabalha as novas leis (Mercado de Carbono, entre outras), o Executivo tenta agir e o Judiciário atropela ambos os poderes citados, gerando confrontações.

Independentemente disso, há um esforço de adaptação do setor produtivo do agro para viabilizar-se nesse novo mundo, que, por seu lado, preocupa-se com o protagonismo brasileiro no campo da segurança alimentar, energético e na luta pela transição energética!

Em geral, uma nova ordem protecionista deveria trazer ao Brasil um senso de urgência em políticas públicas, que permitam capacidade competitiva ao produtor brasileiro, em ações de defesa da OMC, do multilateralismo e nas ações internas do governo federal, as quais transmitam confiança e, com ela, os investimentos fundamentais pelo setor produtivo.

O que se vê hoje no Brasil é um preocupante e crescente grau de disputa entre os Poderes (Legislativo/Executivo/Judiciário) trazendo inseguranças e volatilidade no mercado. Tem-se, também, apoio interno ao MST ou apoio externo a governos totalitários, assim como a divisão do agronegócio em vários Ministérios, com invasões a propriedades agrícolas e um grau permanente de possíveis medidas ao setor produtivo agroindustrial, gerando desconfiança.

É difícil entender por que o processo político brasileiro não procura aprofundar, cada vez mais, serenas relações público-privadas. Elas são e serão essenciais ao desenvolvimento das políticas públicas e aos investimentos privados, notadamente, os externos.

A governança requerida significa, por um lado, custos adicionais razoáveis, o que pressupõe impacto nos preços e na inflação. Isso é verdade no Green Deal europeu e aos consumidores da União Europeia, assim como, também, será no Brasil. 

Também, será fundamental o preparo do setor produtivo, via aperfeiçoamento profissional, no processo de governança das empresas privadas, familiares ou não. Como foi salientado, muitas dessas empresas no setor da cana-de-açúcar estão preparadas ou em preparo com Conselhos Deliberativos ou Consultivos, profissionais na gestão executiva e com compromissos e formas de atuação engrenadas no processo global atual. 

As entidades que defendem e atuam globalmente (Agência Internacional de Energia, FAO-ONU, OCDE) lutam para buscar coordenação, o que é difícil em ambiente global tenso e de confrontações. Internamente, no Brasil, a luta por equilíbrio fiscal, juros mais baixos e investimentos depende das ações do executivo e do legislativo e das relações público-privadas. Tensas relações mal efetivadas entre os poderes e potenciais oportunidades perdidas, na ânsia de gastos públicos e na ausência de uma reforma administrativa, não aliviam o Custo Brasil.

No campo da transição energética, o mundo busca o SAF (combustível sustentável de aviação) e o Brasil poderá ser a Arábia Saudita desse combustível; procura o Hidrogênio Verde ao transporte rodoviário; procura legislar segundo o interesse dos mais ricos; procura questionar subjetivos desmatamentos indiretos para gerar dificuldades a países como o Brasil e seu claro e potencial protagonismo nas coisas do Agro.

Isso requer senso de urgência, profissionalismo e integração público-privada. Não se chega a lugar nenhum sem integração e eficiência e, não se vai a lugar algum, sem planejamento ou com populismo.

Ameaças crescem e vêm do mundo externo. Sabe-se que em democracia deve-se respeitar as diferenças. Mas, sempre, governar é preciso!