Diretor-presidente da Authomathika Sistemas de Controles
Op-AA-33
Em um evento recentemente promovido pela Prefeitura Municipal de Sertãozinho, por iniciativa do prefeito da cidade, mais de trezentas pessoas, dentre empresários, sindicalistas, políticos e representantes de entidades de classe, debateram a difícil situação por que, mais uma vez, passa o setor sucroenergético nacional.
Um rico ciclo de palestras ministradas durante o evento demonstrou, por meio de fortes argumentos muito bem embasados em números recentes, o enorme potencial de mercado que produtos como o etanol e uma série de outros produtos do agronegócio têm para um crescimento sustentável nas próximas décadas.
Sob todos os ângulos, considerando todos os números, o que se tem é um cenário no qual todos os produtos do agronegócio brasileiro, incluindo o etanol, têm demanda e têm mercados ávidos por adquiri-los, em todas as partes do mundo.
Esse quadro deveria levar-nos a uma situação, senão de euforia, ao menos de grande otimismo em relação aos negócios, à geração e à distribuição de riquezas, além do desenvolvimento de novas regiões e novas fronteiras agroindustriais no Brasil.
No entanto o que assistimos é a algo diametralmente oposto a essa expectativa: o setor produtivo de etanol envolto em uma situação de forte desaceleração de investimentos (nenhum projeto de novas plantas) e alto grau de endividamento; o setor agrícola como um todo enfrentando fortíssimo lobby contra a aprovação do Código Florestal que permita seu desenvolvimento sustentável e economicamente viável – tendendo a criar uma situação crítica que poderá trazer um verdadeiro desastre a esse setor fundamental para o desenvolvimento do País.
Na falta de respostas, vem a tal pergunta: a quem pode interessar a derrocada do agronegócio? Vejamos os seguintes aspectos. Nos últimos meses, temos observado seguidos pacotes de incentivos a segmentos distintos de nossa economia, com o objetivo de promover o aumento de vendas de produtos. Setores particularmente beneficiados têm sido o automobilístico, produtos da “linha branca” – refrigeradores, fogões e similares, dentre outros.
Recentemente, aprovaram-se pacotes de desoneração, especialmente de folha de pagamentos, em certos setores da economia, enquanto outros ainda aguardam, neste final de julho, regulamentações no Senado Federal e sanção presidencial para entrarem em prática. Os incentivos de desoneração invariavelmente recaem sobre a redução, ou suspensão, de forma temporária, de tributos – notadamente o IPI, de âmbito federal.
Um olhar um pouco mais crítico sobre esses incentivos revela alguns aspectos realmente inquietadores; vejamos o que eles têm em comum:
• são sempre segmentos nos quais o Brasil não representa grande potencial para obter uma liderança global em termos de tecnologia, produção e domínio de mercados;
• são segmentos relacionados fundamentalmente ao consumo de bens duráveis, que movimentam parte significativa da economia, mas que, de outro lado, promovem um endividamento por vezes excessivo da população;
• são linhas de produtos que, indiretamente, melhoram também as condições de comercialização dos produtos importados que chegam ao mercado interno – o que certamente beneficia outros países interessados no mercado consumidor local;
• são produtos que geram imediato retorno político, já que, rapidamente, aumentam a percepção do ganho de poder de compra em determinados produtos – o que sempre é agradável a todos e reflete-se em “gratidão” aos líderes que, em tese, proporcionam tais benesses.
Nada contra o incentivo à economia; com a carga tributária extremamente elevada e complexa vigente no Brasil, é sempre um alento perceber eventuais reduções de tributos, ainda que apenas em parte da economia. No entanto, o que realmente provoca inquietação é o conjunto de fatos que envolvem o agronegócio, em que a história é bastante diferente:
• se, de um lado, a população e as sociedades civis organizadas – e, leia-se aqui, principalmente, algumas ONGs –, aceitam com grande naturalidade a redução ou a suspensão de impostos nos segmentos “incentivados”, rebelam-se
e protestam contra supostos (e inexistentes) subsídios ao etanol, por exemplo;
• se tributos são retirados da gasolina (como no caso da CIDE) para que o preço da gasolina na bomba possa ser artificialmente mantido, ninguém reclama – ainda que o valor de mercado da Petrobras venha despencando mês a mês com o “congelamento” do preço do produto, e o governo federal, evidentemente, perca receitas;
• artistas e intelectuais protagonizaram recentemente uma lamentável campanha com relação ao Código Florestal em trâmite no governo federal, chegando ao cúmulo da campanha “Veta Tudo, Dilma!”;
• se o preço do etanol passa a famosa barreira dos 70% em relação ao preço deturpado da gasolina, a grande mídia nacional rapidamente declara: “O etanol agora praticamente não é viável em nenhum estado da federação!”.
Ninguém parece sequer fazer contas em que, na imensa maioria das vezes, a diferença de preço resume-se a poucos centavos, os quais, no fim do mês, geram uma economia ridícula, se levarmos em conta os benefícios ambientais e de saúde, e mesmo da conservação dos veículos, quando abastecidos com etanol em vez de gasolina.
Portanto estou cada vez mais inclinado a pensar que possam existir interesses muito poderosos por trás desses ataques contínuos ao agronegócio brasileiro e ao nosso etanol combustível; não por acaso, estes são segmentos nos quais o Brasil tem, indubitavelmente, a vocação para não apenas liderar, mas também para dominar os mercados mundiais em futuro bem próximo.
Agora, imagine o Brasil dominando áreas absolutamente estratégicas, como os setores de produção de alimentos e de biocombustíveis. Será que as ONGs internacionais “martelam” as ideias de que o etanol é ruim para o planeta porque realmente creem que o produto deixa pegadas de carbono ao longo de sua produção? Mentira! Ou será que estão corretas procurando trabalho análogo ao trabalho escravo no campo e nas indústrias, ocupação da Amazônia, dentre outras pérolas, e espalhando essas falácias ao resto do mundo, buscando prejudicar nossa imagem e comprometer nossas atividades? Mentira!
Tão preocupante quanto a atuação das ONGs é o papel de incrível desinformação que significativa parte da imprensa promove em relação, especialmente, ao etanol, seus preços e supostos subsídios. O mundo sempre será palco de interesses conflitantes; achar que com o agronegócio – e com o etanol em particular – poderia ser diferente talvez seja inocência de nossa parte.
Portanto é importante identificar a quem interessa a derrocada desses setores e, eventualmente, quem financia esses ataques ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro para que, no mínimo, a batalha seja mais equilibrada. Parece que vale muito aquela velha máxima da língua espanhola: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.