Me chame no WhatsApp Agora!

José Gustavo Teixeira Leite

Diretor-superintendente do CTC

Op-AA-32

Reinventando o CTC

Inovação é a questão central da competitividade de qualquer país. Em um mundo cada vez mais tecnológico, ela é o principal fator de diferenciação entre líderes e seguidores, sem a qual não há verdadeira prosperidade econômica. Com isso em mente, o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, embarca numa nova era, visando dobrar a taxa de inovação e competitividade da indústria sucroalcooleira nacional.

Com 42 anos de existência, o Centro de Tecnologia Canavieira – o mais importante centro de pesquisas de todo o mundo na área –, contribuiu com diversas inovações que trouxeram ao setor sucroalcooleiro nacional imensos ganhos de produtividade, tanto nas atividades agrícolas, quanto nas da indústria.

Nesse período, viu-se a produtividade agroindustrial sair de 2.600 para mais de 7.000 litros de etanol por hectare, enquanto seu custo de produção caiu de cerca de R$ 3,00 para menos de R$ 1,00 por litro.

Novas variedades possibilitaram a expansão dos canaviais brasileiros por novos 3 milhões de hectares. As diversas tecnologias e produtos desenvolvidos pelo CTC geraram ganhos de mais de R$ 500 bilhões para o setor, nessas quatro décadas.

Há algum tempo, porém, o setor passa por importantes mudanças, a maioria delas vindas no bojo das possibilidades oferecidas pelo bioetanol. Diferentemente do que ocorria há uma década, hoje existe um sem-número de empresas globais atuando num setor outrora quase exclusivamente formado por grupos nacionais de pequeno e médio portes.

O desenvolvimento tecnológico, especialmente através da biotecnologia, proporcionou saltos de produtividade a diversas culturas, especialmente ao milho e à beterraba, alternativas para a produção de etanol e açúcar nos Estados Unidos e na Europa, respectivamente. Nos últimos 15 anos, a produtividade dessas duas culturas cresceu de três a quatro vezes mais que a da cana.

Além disso, a complexidade do material genético da cana – que tem de três a quatro vezes mais cromossomos que a maioria das outras culturas – torna seu desenvolvimento particularmente caro e moroso: uma variedade de qualidade leva de 10 a 15 anos para ser desenvolvida, a um custo aproximado de R$ 150 milhões.

A despeito do elevado custo de seu desenvolvimento, o volume de recursos aplicados no desenvolvimento do material genético da cana é muito baixo. Representa menos que 0,3% dos custos de produção da cana, enquanto, em outras culturas, como o milho ou a soja, fica entre 10 e 15%. Ao todo, são menos de R$ 100 milhões por ano, sob a forma de royalties, contribuições e outras formas de dotação.

Enquanto isso, apenas as seis principais multinacionais do ramo de melhoramento genético investem, anualmente, cerca de US$ 3 bilhões. A maioria desses recursos é direcionada às culturas de milho e soja, em função da escala global ocupada por essas culturas (6 a 8 vezes maior que os cerca de 20 milhões de hectares de cana plantados no mundo), de sua importância para os seus países de origem e por se tratar de material genético mais fácil de se manipular.

Assim, é mandatório que aumentemos substancialmente os recursos dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento, bem como os usemos de maneira mais seletiva. Aliados ao potencial único da cana para converter energia e às características das terras brasileiras, tais recursos serão fator primordial para assegurar a liderança da indústria sucroalcooleira do Brasil.

Para encarar tal desafio, uma nova estratégia se fez imperativa, e o primeiro passo foi transformar o CTC em uma sociedade anônima, cujos acionistas – produtores de açúcar, etanol e cana –, juntos, respondem por 60% da capacidade de moagem do País. Tal arquitetura possibilitará alianças que tragam mais recursos tecnológicos e financeiros ao CTC.

O passo seguinte foi o desenvolvimento de um plano de negócio que possibilitasse ao CTC entregar, de maneira economicamente sustentável, os ganhos de produtividade tão almejados. Tal plano, aprovado no primeiro trimestre deste ano, baseia-se em três pilares:
1. concentrar o foco nas atividades onde o CTC tem excelência e posição única;
2. assegurar sua sustentabilidade econômica; e
3. estabelecer parcerias com empresas de tecnologia de ponta.

Dessa forma, uma das áreas de foco escolhidas foi o Melhoramento Genético, uma vez que o CTC detém o maior banco de germoplasma de cana-de-açúcar do mundo e papel destacado nos campos do melhoramento convencional e da biotecnologia aplicados à cana. A segunda área de enfoque, Novas Tecnologias, explorará tecnologias disruptivas de segunda geração, com destaque para o etanol celulósico.

A sustentabilidade econômica e o custeio das pesquisas virão através da divisão dos ganhos gerados pelas tecnologias do CTC junto a seus clientes. Seja através de royalties cobrados pelo uso das nossas variedades, seja pelos ganhos advindos de tecnologias industriais de segunda geração, o CTC só será viável se sua produção de conhecimento gerar valor adicional ao setor.

Através do conhecimento integrado da cadeia de valor sucroalcooleira, o CTC domina cada fase do processo produtivo, do desenho das plantas aos diversos produtos finais delas extraídos. Isso nos dá um papel estratégico único na integração de novas tecnologias ao setor. Tal vantagem abre a oportunidade para o estabelecimento de alianças que viabilizem o aporte tecnológico e financeiro necessário para assegurar a competitividade da indústria sucroalcooleira do Brasil.

Como uma usina de produção de ideias, as pessoas e a forma de elas interagirem são o maior diferencial do CTC. Com isso em mente, investiremos pesadamente no contínuo aprimoramento de nosso pessoal, bem como na atração de talentos daqui e de outras partes do mundo. A história do CTC, bem como nosso entendimento da necessidade de “reinventá-lo”, nos dá a confiança de que a missão à frente, por mais desafiadora que seja, está ao alcance de nossa competência. Assim, desejo a todos um excitante futuro, muito sucesso e... mãos à obra!