Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e UniEthos
Op-AA-09
A Agenda 21, proposta na Rio-92, tornou-se o paradigma contemporâneo da busca do desenvolvimento sustentável: crescimento econômico equilibrado e menos desigual. Desde então, a agroindústria brasileira da cana vem apontando respostas para este desafio, criando, de fato, novos paradigmas para o desenvolvimento sustentável, nas diversas etapas dos seus processos.
Isso inclui a reutilização de resíduos – o que melhora a fertilidade dos solos, sem poluir o meio ambiente – a geração de energia limpa e renovável e, principalmente, a disseminação, em larga escala, de um combustível com menor emissão de poluentes e gases de efeito estufa. Considerado como uma alternativa para a dramática necessidade de novas fontes de energia renovável, o etanol, um dos derivados da cana, tem sido apontado por especialistas do mundo inteiro como uma resposta competitiva para a grande necessidade de novas fontes de energia renovável.
É certo que os biocombustíveis, deverão suprir uma importante demanda, criada pela incerteza da oferta de combustíveis fósseis, a médio e longo prazo. Essa realidade reflete na crescente demanda de etanol no mercado internacional nos últimos anos. O Brasil é o maior produtor, exportador e consumidor de etanol, além de deter 40% do mercado mundial do açúcar.
Até meados de 2002, as exportações brasileiras de álcool eram insignificantes, mas com o aumento da demanda de biocombustível, o volume exportado cresceu de 565 milhões de litros em 2003, para 2,1 bilhões, no período de janeiro a novembro de 2005. Este cenário explica porquê a expansão sucroalcooleira no Brasil tem atraído cada vez mais a atenção de mega-empresários, que pensam em investir em energias limpas, alternativas ao petróleo.
Bill Gates, quando veio ao Brasil em 2005, quis ver de perto como funcionava a agroindústria da cana-de-açúcar. Os milionários “irmãos Google” também visitaram lavouras, usinas e indústrias de açúcar e de álcool, no interior do estado de São Paulo. Não há dúvidas de que o Brasil apresenta-se como um país detentor de tecnologia para oferecer uma alternativa à matriz energética atual, baseada unicamente no petróleo. Por isso, as perspectivas para a agroindústria da cana-de-açúcar são promissoras.
No entanto, a responsabilidade social empresarial, cada vez mais se torna condição para participar do mercado global. Assim, é necessário ficar atento para que esse desenvolvimento aconteça de modo sustentável, preservando suas bases ecológicas e levando em conta os impactos de suas atividades, na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade.
Há a necessidade de que as usinas de cana-de-açúcar olhem para sua gestão, reflitam sobre a forma em que estão desenvolvendo seus negócios e adotem as práticas da responsabilidade social empresarial. É este o sentido – de disseminar os valores, princípios e práticas da RSE – que norteia o convênio firmado entre o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo - Única, em abril deste ano. Pioneiro no setor do agronegócio brasileiro, este acordo prevê a aplicação dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social em 98 usinas, localizadas em São José do Rio Preto, Araraquara, Ribeirão Preto e Piracicaba, no interior paulista.
Para quem não sabe, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social são ferramentas de auto-avaliação, usadas pelas empresas para verificarem o estágio em que se encontra a incorporação das práticas de RSE, ao planejamento estratégico e ao desempenho geral. Em termos de desenvolvimento humano, os benefícios são incalculáveis. A agroindústria da cana-de-açúcar emprega 1 milhão de pessoas. São Paulo lidera, não apenas o ranking de produção, mas concentra mais de 400 mil trabalhadores do setor.
Isso quer dizer que pode haver melhorias significativas nas condições de trabalho, saúde, segurança, maior liberdade de expressão, políticas de remuneração, gestão participativa, entre outros benefícios, que vão atingir diretamente os trabalhadores rurais e cortadores de cana. Considerado um setor polêmico da economia, as usinas de cana-de-açúcar têm hoje uma grande oportunidade de se tornarem altamente competitivas para o mercado internacional e, ao mesmo tempo, darem um grande passo para a diminuição das desigualdades sociais do nosso País.