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Bertholdino Teixeira Junior

Gerente Corporativo de Sustentabilidade do Grupo Coruripe

AsAA25

Temos de nos adaptar e agir
Somos uma empresa nordestina com sotaque mineiro; fizemos o caminho inverso ao do Rio São Francisco, que nasce em terras mineiras e desagua em solo alagoano. Nós da Usina Coruripe nascemos em Alagoas e crescemos e nos desenvolvemos em Minas Gerais. Temos, portanto, o DNA nordestino com características mineiras.
 
E, como todo bom nordestino, desde sempre convivemos com as variações climáticas, com muito sol e calor em uns períodos e outros com chuvas mesmo que de forma limitada, porém previstas. Existe uma máxima no Nordeste que nunca devemos reclamar do clima, ainda mais se for chuvoso. Em terras mineiras, viemos certos de encontrar um clima mais definido e estável, onde cada estação seria bem determinada, com períodos de chuvas regulares alternando com períodos de estiagem. Nas duas regiões, temperaturas variando dentro da normalidade.

Lidar com o clima sempre foi o grande desafio da agricultura. Essa realidade em que tínhamos estações definidas e claras não é mais a verdade. No Nordeste, chuvas mais acentuadas e concentradas, porém com variações irregulares a cada safra; no Sudeste, secas devastadoras e duradoras com períodos chuvosos incertos e totalmente desproporcionais. Nas duas regiões, hoje a grande certeza é que, a cada safra aumenta, o desafio pois não podemos mais trabalhar com dados históricos, uma vez que não existe mais uma previsão com tanta credibilidade como tínhamos no passado.

Estamos falando de mudanças climáticas e eventos extremos, em que as estações chuvosas variam a cada ciclo com uma instabilidade tamanha que fica quase impossível fazer um planejamento adequado e preciso. E com isso vem o grande desafio: como se planejar e se preparar.

A boa notícia é que já temos tecnologia para enfrentar esta nova era, mas requer grandes investimentos e principalmente disciplina. Nesta nova realidade, o planejamento passa por mudar a forma de observar a natureza e de interagir com ela.

No Nordeste, aprendemos cedo e investimos em preservação de água (temos um grande reservatório privado de água doce), que garante água em constância e ainda equilibra e controla a vazão do Rio Coruripe. E para abastecer e garantir o fluxo hídrico nessa represa, recuperamos as áreas de preservação permanente e aumentamos a preservação em áreas nativas para retenção e absorção de chuvas, além de realizarmos e praticarmos a agricultura regenerativa, onde o manejo adequado do solo com técnicas conservacionistas ajuda na retenção e absorção de água. 

O caminho para o Centro-Sul deverá ser o mesmo: investimentos significativos em reserva de água através de barragens, tendo como objetivo mais importante reter o máximo possível de chuvas que se precipitam irregularmente. Projetos de irrigação robustos e de preferência direcionados para diminuir o consumo, priorizando irrigação em gotejamento com menor consumo de água. Uma política robusta de recuperação de áreas de preservação permanente aliada ao reflorestamento de áreas nativas para complementar o ciclo.

Citei um exemplo da questão hídrica, mas devemos nos preparar para todo tipo de desequilíbrio nos próximos anos. Vale lembrar dos grandes incêndios que nos assolaram no ano passado, com grandes prejuízos por perdas de canaviais e com baixas produtividades que estão refletidos inclusive nesta safra. Daqui para frente teremos de ter brigadas de incêndios profissionais e específicas.

Pragas e doenças também estão nessa nova realidade das mudanças climáticas, pois estão surgindo novas e perigosas espécies adaptadas, que até então não nos afetavam e que agora têm de estar no nosso radar. Um bom exemplo é a mosca-de- estábulo, praga da pecuária que se adaptou e agora está causando prejuízos e nos dando uma grande dor de cabeça.

Somos um setor estratégico nessa nova realidade de eventos climáticos, uma vez que produzimos um combustível renovável e limpo, que é uma das principais soluções para a descarbonização de nosso planeta. Além disso, somos um dos setores que mais preservam o meio ambiente, com programas e práticas robustas de Sustentabilidade, sendo exemplo para os demais setores e para o mundo. Temos de nos adaptar e agir o mais breve,  pois muitas de nossas ações atuais definirão o futuro das próximas gerações.