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Luis Andrade

Gerente de Relações Institucionais da BP Bunge Bioenergia

AsAA21

A virada de chave
Não é de hoje que a humanidade vem sendo alertada sobre as consequências e os impactos da ação antrópica no que se refere à perenidade do planeta e à prosperidade das gerações futuras. Há décadas, acordos internacionais e sucessivos encontros de cúpulas globais têm alertado para a necessidade de reação imediata, com  propostas que, na sua essência, provocam governos para que revisem suas políticas públicas, convocam empresas e instituições para se unirem no estabelecimento de iniciativas mais sustentáveis e clamam para que membros da sociedade civil e indivíduos revisitem seus hábitos e comportamentos perante o planeta. 
 
Segundo o recente relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (2021), o aquecimento global, inequivocamente, tem a influência humana e ultrapassará 1,5 °C antes do meio do século, antecipando que a chance de se evitar a catástrofe anunciada está numa ambiciosa e imediata meta de redução de emissões. Na mesma esteira, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs, em 2015, uma Agenda Global Sustentável e definiu diretrizes que estabeleceram os chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Portanto, a se julgar pelo que estamos testemunhando atualmente, tudo indica que a virada de chave não tem mais volta, e o momento é para ontem. 

Basta observar, por exemplo, o movimento no setor privado: empresas e corporações estão indo muito além das publicações tradicionais de relatórios de sustentabilidade e passam a incorporar estratégias e compromissos públicos em suas agendas de longo prazo, pautados, sobretudo, em iniciativas que fomentam uma economia de baixo carbono.

Não se limitando a esse fato, temas como mudança climática e preocupações socioambientais vêm ganhando escala no discurso das principais autoridades globais, especialmente às vésperas da COP26 (26ª Conferência das Nações Unidas), que deverá estruturar a implementação do Acordo de Paris, dito o maior compromisso multilateral para clima em anos, além de trazer, como uma das principais pautas, a criação de soluções para o funcionamento do mercado regulado de carbono.

O fluxo financeiro global também tem tomado nossos rumos, investidores e fundos condicionam, cada vez mais, a destinação de seus recursos às empresas e aos projetos que atrelam ao seu plano de negócio e à sua estratégia operacional as métricas e os parâmetros ESG, sigla em inglês para Environment (Ambiente), Social (Social) e Governance (Governança). O próprio termo ESG vem sendo estampado cada dia com maior frequência nos principais noticiários corporativos e tem se tornado pauta constante na rotina de líderes e executivos, inclusive no nosso setor. Mas, diante de todo esse cenário, quais são as oportunidades que surgem para o Brasil e qual é o papel que nosso setor assume nesse contexto? 

Numa avaliação macro, é sabido que a matriz energética brasileira é única no mundo, majoritariamente oriunda de fontes renováveis; o País detém o maior patrimônio ambiental do globo, rica disponibilidade de recursos naturais e ampla diversidade de espécies e tem nas atividades do agronegócio a principal mola propulsora de sua economia, já os biocombustíveis aqui produzidos são responsáveis por 25% da produção mundial (IEA, 2020). Ou seja, o Brasil possui amplo acesso às ferramentas necessárias para capitalizar as oportunidades de desenvolver setores capazes de liderar o movimento de descarbonização, sem citar o potencial latente de se tornar peça central nas relações comerciais globais, sobretudo nos mercados de carbono. 

E é diante desse movimento que o setor sucroenergético precisa se projetar como protagonista da mudança, ativamente, reconhecendo com seriedade seu papel na transição energética que o mundo impõe. Precisamos não somente estar presentes, mas adotar postura ativa em fóruns e debates internacionais, influenciar o reordenamento de prioridades e a renovação de valores corporativos.

O setor possui vantagem competitiva na agenda sustentável, somos parte de um negócio que sempre foi desafiado ao longo dos anos, tendo atravessado – e superado – inúmeras crises e incertezas na nossa história, e, mesmo assim, fomos hábeis para gerar inúmeros ciclos de evolução. A adoção de tecnologia de ponta e a automação agroindustrial nunca colaboraram tanto para o desempenho e a prosperidade do nosso negócio. Somos geradores de emprego, atuamos para o desenvolvimento de comunidades e investimos constantemente na busca por soluções mais sustentáveis, a exemplo dos crescentes investimentos em biogás e etanol de segunda geração. 
 
Não restam dúvidas da geração de valor para a sociedade. Estamos diante de uma oportunidade única, e é preciso tomar posse do assento preferencial que o cenário global nos oferece.