Há vários anos temos visto recorrentes debates acerca da transição energética, tema que ganhou centralidade no debate global a partir das ambições para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). No setor de energia, uma série de diferentes estratégias é apontada para a promoção da descarbonização e redução das emissões de GEE.
Entretanto, questões de ordem econômica e técnica influenciam o ritmo de implementação e a escala de alcance dessas alternativas, de tal modo que, para o cumprimento das metas climáticas globais acordadas para 2050, a conjugação personalizada de múltiplas frentes tem-se mostrado um caminho promissor a ser adotado.
Nesse contexto, os biocombustíveis emergiram como uma alternativa sustentável e renovável, essencial para a diversificação da matriz energética. No Brasil, a ampla disponibilidade de recursos naturais e o desenvolvimento de tecnologias avançadas de produção colocam o país em uma posição de destaque na oferta e demanda de biocombustíveis, como etanol, biodiesel, biogás e os novos biocombustíveis que vêm sistematicamente ganhando participação na matriz energética mundial.
O Brasil, com sua matriz energética predominantemente renovável, tem uma oportunidade única de liderar essa transição, especialmente aproveitando o potencial dos biocombustíveis. A produção de combustíveis renováveis, entretanto, não apenas ajuda a reduzir as emissões de GEE, mas também impulsiona a economia local, promovendo a segurança energética e gerando empregos, especialmente em áreas rurais.
Mas os desafios da descarbonização global impõem irmos além e avançarmos no desenvolvimento de soluções inovadoras no setor de bioenergia. Nesse contexto, duas tecnologias despontaram mais recentemente como também essenciais para o processo de transição para economias de baixo carbono: a captura e armazenamento de carbono (CCS) e o hidrogênio de baixo carbono.

A captura de carbono aplicada à bioenergia, por exemplo, pode transformar usinas de etanol em emissores negativos de carbono, retirando CO2 da atmosfera e armazenando-o de forma segura. Isso significa que o Brasil poderia fortalecer seu compromisso com as metas climáticas ao mesmo tempo em que agrega valor ao setor sucroenergético.
Estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que a captura de CO2 em usinas de etanol é uma solução tecnicamente viável e economicamente atrativa, particularmente em um mercado de créditos de carbono em expansão. A Agência Internacional de Energia (IEA) reforça essa visão, destacando que o desenvolvimento de padrões comuns para biocombustíveis sustentáveis e sua integração com CCS são fundamentais para impulsionar essa transição.
Cenários tanto da IEA quanto do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que a captura de carbono (CCS) e a captura de carbono biogênico (bioCCS) são essenciais para que o mundo atinja emissões líquidas zero até 2050. Outro elemento chave nessa equação é o hidrogênio de baixo carbono, conceito que abrange diferentes rotas tecnológicas além da eletrólise, incluindo a reforma do gás natural com CCS, a gaseificação da biomassa e o hidrogênio proveniente de biocombustíveis avançados.
O Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2) reconhece essa diversidade de rotas e propõe diretrizes para o desenvolvimento do mercado de hidrogênio sustentável no Brasil. No contexto da bioenergia, a integração dessas tecnologias pode fortalecer a competitividade do país na economia de baixo carbono, com a produção de hidrogênio a partir da biomassa (por meio da gaseificação de resíduos ou da reforma do etanol, por exemplo) se apresentando como uma alternativa promissora, permitindo a utilização eficiente dos vastos recursos do Brasil.
Estudos preliminares da EPE indicam que essa abordagem pode oferecer vantagens em termos de custo e emissões reduzidas, consolidando o país como um dos principais produtores de hidrogênio renovável. Para que essas tecnologias avancem, são necessárias políticas públicas eficazes e investimentos robustos. O RenovaBio, programa que promove a sustentabilidade dos biocombustíveis através dos CBIOs, é um exemplo bem-sucedido. Aprovada em 2024, a Lei do Combustível do Futuro soma-se a esses esforços destravando investimentos e demonstrando o compromisso do Brasil com a transição energética global, focando na responsabilidade ambiental e na inovação tecnológica.
Para completar esse importante conjunto de marcos legais e políticas públicas, também em 2024 aprovamos o Marco Legal do Hidrogênio de Baixo Carbono, que tem o potencial de também ser um divisor de águas ao proporcionar segurança regulatória e atrair investimentos.
Em 2025, o debate acerca do papel da bioenergia retorna ao cenário global por ocasião da COP30, a ser realizada no Brasil. A transição global para uma economia de baixo carbono é urgente. Mas essa urgência não pode justificar soluções que desconsiderem as realidades locais.
O Brasil tem uma posição única e estratégica para liderar a transição com base em sua abundância de recursos renováveis, e a transição para um sistema bioenergético mais sustentável no país passa, inevitavelmente, pela aceleração da adoção dessas soluções inovadoras. Para isso, iniciamos o ano com um compromisso firme com a inovação, a regulação adequada e a mobilização de investimentos. O futuro da bioenergia está sendo escrito agora, e é fundamental que o Brasil assuma o protagonismo nessa história.