A produção de cana-de-açúcar no Brasil vivencia um momento de transição marcado por desafios e oportunidades. Desde os avanços tecnológicos e mudanças nos paradigmas produtivos até as dificuldades financeiras, cada elo desta cadeia desempenha um papel crucial na superação da crise atual. Grandes grupos e pequenos produtores, diante de um mercado cada vez mais competitivo e globalizado, são pressionados a evoluir para garantir a sustentabilidade e a viabilidade do setor.
Ao longo de mais de 20 anos, o setor passou de práticas rudimentares, como o corte manual da cana queimada, para colheitas mecanizadas e, mais recentemente, para a automação e uso de sistemas de inteligência artificial. No entanto, apesar dessas inovações, muitos pequenos produtores, que sustentam parte da produção nacional, enfrentam dificuldades em implementar essas mudanças de forma plena. Com isso, tornam-se vulneráveis à dinâmica do mercado global.
A competitividade crescente do etanol de milho, com grupos atingindo o primeiro e o terceiro lugares na produção nacional, acentuou essa pressão, mas também abriu espaço para que o setor sucroenergético brasileiro busque novas soluções em produtividade, sustentabilidade e eficiência. Este artigo explora as principais estratégias para a valorização da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, abordando desde inovação tecnológica até questões de gestão e regulamentação.
Desenvolvimento de variedades mais resilientes: A base de qualquer desenvolvimento sustentável na produção de cana-de-açúcar está no melhoramento genético. O desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes a pragas, doenças e situações climáticas extremas, como secas prolongadas, é fundamental para aumentar a produtividade. Pesquisas realizadas por instituições como a Embrapa e o CTC e diversas universidades brasileiras têm apresentado avanços significativos nesse campo, possibilitando elevações de até 30% na produtividade em determinadas regiões.
Além das variedades tradicionais, a diversificação de cultivares adaptadas a diferentes condições edafoclimáticas diminui os riscos associados à monocultura. Aliado a isso, tecnologias de biotecnologia têm o potencial de agregar características específicas às variedades, ampliando sua resiliência e reduzindo custos relacionados ao uso de insumos químicos.
Para os pequenos produtores, que frequentemente possuem menor margem de adaptação, a adoção gradual dessas variedades pode ser uma saída viável para otimizar os resultados agrícolas e garantir maior estabilidade frente às incertezas climáticas.
Mecanização e processos otimizados:
Outro pilar indispensável da competitividade do setor é o avanço da mecanização. Ferramentas como tratores inteligentes, sensores de precisão, drones e máquinas de plantio e colheita automatizadas vêm permitindo aos produtores maior eficiência operacional, economia de recursos e precisão nas aplicações, como fertilizantes e defensivos agrícolas.
Avanços como esses minimizam os tempos de execução de tarefas e ajudam na redução de custos diretos e indiretos. Entretanto, para os pequenos produtores, o alto custo inicial da mecanização pode ser uma barreira. Soluções como condomínios para compartilhamento de máquinas ou subsídios governamentais poderiam reduzir esse gargalo e democratizar a adoção dessas tecnologias.
Sustentabilidade e controle de custos: Uma variável-chave para os produtores é o custo de produção, especialmente diante da alta volatilidade de preços dos insumos agrícolas. A gestão detalhada e o controle preciso de cada etapa do processo produtivo são indispensáveis. Aquelas propriedades que conseguem implementar práticas agroecológicas, como o manejo integrado de pragas (MIP), o uso de bioinsumos e a economia circular – que reaproveita resíduos como o bagaço e a vinhaça para geração de bioenergia – têm obtido vantagens significativas em competitividade.
Novas fronteiras energéticas: A diversificação de fontes energéticas está no horizonte da competitividade brasileira. Além da cana-de-açúcar, biomassas não convencionais, como resíduos agrícolas e orgânicos, oferecem alternativas para reduzir custos e abrir novos nichos de mercado.
A produção de biocombustíveis avançados, como o etanol 2G e o biodiesel, representa uma possibilidade de atender às demandas de mercados internacionais por soluções sustentáveis e de baixa emissão de carbono.
Resiliência agrícola: O crescente uso de bioinsumos na agricultura consolidou-se como uma das grandes inovações do setor. Produtos como bioestimulantes e bioinoculantes aumentam a eficiência no uso de nutrientes e melhoram a resistência das plantas a adversidades.
Ainda, biofertilizantes desenvolvidos com base em microrganismos otimizados têm elevado a produtividade em sistemas integrados. Essas práticas, além de ambientalmente positivas, são economicamente viáveis no médio prazo, reduzindo significativamente a dependência de produtos químicos tradicionais.
Gestão avançada: Na era da transformação digital, a modernização da cadeia produtiva é decisiva para a consolidação de qualquer negócio. Ferramentas de informação e plataformas integradas de gestão, como sistemas ERP com inteligência artificial, oferecem aos produtores a capacidade de monitorar todas as etapas do processo produtivo em tempo real.
A qualidade e a veracidade das informações imputadas, bem como a velocidade com que a informação é processada, serão fundamentais para que os sistemas com Inteligência Artificial interpretem os dados, transformando esses dados em relatórios operacionais e enviando esses relatórios operacionais aos gestores para que os mesmos procedam às correções necessárias em tempo real, gerando aumento na qualidade e redução dos custos.
A análise inteligente dos dados permite não apenas a otimização da produtividade, mas também um controle eficiente de custos, o que é essencial para mitigar riscos e maximizar os lucros.
Conclusão: O setor sucroenergético brasileiro, embora construa sua história sobre os pilares na resiliência de seus produtores e transformações tecnológicas profundas, enfrenta uma encruzilhada. A concorrência global, combinada aos desafios impostos por crises econômicas e climáticas, requer um reposicionamento estratégico urgente.
Produtores de cana-de-açúcar, usinas e fornecedores e as suas associações precisam caminhar juntos, integrando tecnologias avançadas, promovendo práticas sustentáveis e estabelecendo modelos de negócios com foco no resultado financeiro de toda a cadeia produtiva. A iniciativa conjunta, com o apoio de políticas públicas inteligentes e investimentos contínuos em produção de fertilizantes, de biotecnologia e mecanização, será o diferencial para garantir a competitividade do setor.
Embora oscilações de mercado sejam inevitáveis, o setor precisa consolidar um modelo com uma visão colaborativa, fundamentada na gestão eficiente e na inovação. Assim, o setor sucroenergético nacional continuará a desempenhar seu papel estratégico no desenvolvimento econômico do Brasil e na construção de soluções energéticas globais sustentáveis.