Presidente da Empresa de Pesquisa Energética – EPE
Op-AA-29
A matriz energética brasileira se destaca no contexto mundial pela sua renovabilidade. Nosso País, dotado de fontes limpas, naturais e com custo de mercado competitivo, conta hoje com 45% da sua matriz oriunda de oferta renovável, contra uma média de 13% nos países integrantes da OCDE e de apenas 8% no âmbito mundial.
Merece destaque o aumento da participação dos produtos da cana-de-açúcar, que, em 2008, ultrapassou a da hidreletricidade e se tornou a segunda mais importante fonte de nosso País. Em 2010, os derivados da cana-de-açúcar atingiram cerca de 18% da matriz energética, fruto do aumento do uso de etanol no setor de transportes.
As perspectivas da economia nacional são favoráveis em termos de investimento, crédito e mercado de trabalho, gerando forte expansão do nível de atividade doméstica. Um dos efeitos é o aumento da motorização, que passará de 6,5 habitantes por veículo em 2010 para 3,9 em 2020.
O aumento do parque automobilístico, que deve atingir 50 milhões de veículos até 2020, será acompanhado pelo crescimento da frota de veículos flex fuel. Atualmente, os carros flex representam cerca de 90% das vendas de veículos leves no País. Nesse ritmo, a participação desses automóveis na frota nacional em dez anos chegará a 80%.
Em seus estudos, a Empresa de Pesquisa Energética – EPE estima que a participação desse combustível na categoria flex seja de 70% em 2020. Nesse cenário, a demanda doméstica de etanol hidratado atingirá a marca de 56 bilhões de litros em 2020. Uma extraordinária expansão alavancada pelo aumento da frota flex. Além disso, as projeções indicam que o Brasil manterá a liderança internacional no médio prazo, exportando pelo menos 7 bilhões de litros no ano de 2020.
Por outro lado, a redução do uso da gasolina faz com que caia levemente a demanda por etanol anidro, que é estimada em 7 bilhões de litros em 2020. Em paralelo, a produção de etanol destinado a outros usos continua inexpressiva, cerca de 3,5 bilhões de litros.
O efeito líquido das transformações do setor é uma importante expansão da demanda total de etanol, a qual deverá crescer quase três vezes mais nos próximos 10 anos, passando dos atuais 27 para 73 bilhões de litros em 2020. Para fazer frente a esse crescimento da demanda, estimam-se, para os próximos dez anos, investimentos da ordem de R$ 100 bilhões para aumento da oferta de etanol – usinas de produção e infraestrutura dutoviária e portuária.
Toda essa expansão significará um substancial aumento do potencial nacional de cogeração a partir do bagaço de cana-de-açúcar. Desde 2004, o Governo Federal contratou cerca de 1.300 MW médios através do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa) e dos leilões de comercialização de energia.
Ainda há muito a se fazer, pois o potencial técnico do setor é bem mais expressivo. Investindo numa maior eficiência das instalações, pode-se exportar a eletricidade excedente para o Sistema Interligado Nacional, além de atender ao consumo próprio das unidades.
Com o forte crescimento da produção de etanol, aumentará também a disponibilidade de bagaço e, consequentemente, o potencial de venda do excedente de energia gerado pelas usinas. De acordo com dados do Balanço Energético Nacional - BEN, aproximadamente 44% dos 135,4 milhões de toneladas de bagaço consumido para fins energéticos no ano de 2009 foram destinados à produção de etanol.
A tendência é que, ao longo do horizonte do Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2020, o combustível passe a deter a maior fatia na absorção da biomassa da cana no setor energético, seja pelo aumento da oferta da matéria-prima, seja pela maior dinâmica do mercado de combustíveis líquidos frente ao de açúcar.
As projeções para a demanda de bagaço de cana, que cresce 5,7% anuais entre 2010 e 2020 no País, chegam a cerca de 238 milhões de toneladas consumidas ao final da década. Com isso, o setor de etanol teria condições de gerar até 10.000 MW médios em 2020 com o bagaço disponível.
É importante citar que investimentos em tecnologias poderão expandir o potencial produtivo da cana e diversificar seus produtos, como o diesel renovável e o etanol celulósico a partir do bagaço e da palha. Dessa forma, o País se manterá na vanguarda da renovabilidade no médio prazo. As estimativas da EPE indicam que, em 2020, 46% da matriz energética brasileira será respondida por fontes limpas, naturais e renováveis, sendo que praticamente metade desse percentual – aproximadamente 22% – virá dos derivados de cana-de-açúcar.