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Tirso Meirelles

Presidente do Sistema Faesp/Senar

AsAA25

Inovação é fator estratégico para pequeno produtor
O agronegócio brasileiro sempre foi marcado por sua capacidade de se reinventar e responder com agilidade aos desafios impostos pela natureza, pelo mercado e pela sociedade. Nos últimos 50 anos, o País se tornou referência mundial na produção de alimentos, fibras e energia renovável, sobretudo pela ciência aplicada ao campo, que viabilizou a tropicalização de cultivos, o desenvolvimento de novas tecnologias de manejo e o melhoramento genético vegetal e animal.

Porém, o que se observa no presente é uma mudança de escala: se antes as inovações demandavam anos, até décadas, para chegar ao mercado, hoje a velocidade das implantações é fator estratégico para a competitividade e para a sustentabilidade da produção.
 
No centro dessas transformações, a pesquisa tem atuado na construção de sementes cada vez mais resilientes, capazes de enfrentar estresses hídricos, pragas e doenças com maior eficiência. O objetivo é duplo: ampliar o potencial produtivo e aumentar o valor nutricional, sobretudo proteico, dos alimentos. Em um mundo onde a demanda por proteínas cresce de forma acelerada, atender a esse desafio é vital para garantir segurança alimentar global. 

Contudo, há um ponto que não pode ser negligenciado: a democratização dessas inovações. Não basta que sementes mais eficientes e produtivas fiquem restritas às grandes propriedades, com maior acesso a recursos tecnológicos e financeiros. A base da produção nacional está nas mãos de milhões de pequenos e médios produtores, homens e mulheres que sustentam o abastecimento interno, garantem diversidade produtiva e movimentam economias locais. Sem incluir esse público no acesso às inovações, cria-se um hiato que compromete tanto a competitividade do setor quanto o equilíbrio social no campo.

Nesse cenário, as startups do agro, conhecidas como agtechs, ganham protagonismo. Essas empresas emergentes têm desenvolvido soluções tecnológicas escaláveis e acessíveis, pensadas para quebrar as barreiras tradicionais da adoção tecnológica. Sensores de baixo custo, aplicativos de gestão da propriedade, plataformas de rastreabilidade, soluções de irrigação inteligente e bioinsumos adaptados às condições locais são alguns exemplos de como a criatividade empreendedora vem-se traduzindo em instrumentos de democratização da inovação. Diferentemente de modelos tradicionais, em que o custo inicial e a complexidade técnica eram impeditivos, as startups têm-se dedicado a alternativas que qualquer produtor possa utilizar, independentemente do porte da propriedade.

A inovação no agro não ocorre de forma linear, mas em rede. Universidades, centros de pesquisa, cooperativas, associações de produtores e empresas precisam atuar em sinergia para acelerar o tempo de maturação das tecnologias. Em São Paulo, numa iniciativa da Embrapa, com forte apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), criou-se um corredor que conecta São José dos Campos a Ribeirão Preto, incluindo institutos, universidades e centros de pesquisas de Campinas, São Carlos e Piracicaba. E, nessa proposta de fomentar as inovações, o Senar está construindo oito centros de excelência: Cana-de-Açúcar e Bioenergia, em Ribeirão Preto; Inteligência Artificial e Turismo Rural, em São Roque; Agricultura Familiar, no Mirante do Paranapanema; Irrigação, em Jaguariúna; Agroindústria, em Avaré; Cacau e Banana, em Miracatu, no Vale do Ribeira; Cacau e Seringueira e de Genética Bovina, em São José do Rio Preto; e de Agricultura Urbana, na capital. 
 
No futuro próximo, o ritmo de implantação de inovações tende a ser ainda mais acelerado, impulsionado pela Inteligência Artificial, pela biotecnologia avançada e pela agricultura de precisão em larga escala. Mas o êxito desse processo não será medido apenas pela capacidade de gerar soluções tecnológicas, e sim pela capacidade de torná-las inclusivas. Em outras palavras, o avanço do agro brasileiro dependerá menos da inovação em si, e mais da velocidade com que essa inovação se torna acessível e aplicável a todos os produtores.
 
Esse será o diferencial competitivo que separa países que lideram a revolução agroalimentar daqueles que permanecem na retaguarda. No caso brasileiro, a combinação de ciência de ponta, startups visionárias e inclusão dos pequenos produtores tem todos os elementos para transformar o campo em um laboratório vivo de inovação com resultados concretos para a economia, para o meio ambiente e para a sociedade.