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Giuseppe Uchoa Ribeiro Lobo

Diretor Executivo da Bioind-MT

OpAA82

O Brasil e a transição energética no modal marítimo
A descarbonização da economia e a transição energética estão na ordem do dia dos debates internacionais, mas ainda há um enorme obstáculo em transformar bons discursos e boas intenções em ações. E o Brasil será um player importante no debate para identificar alternativas, sobretudo na apresentação de soluções para que outros países possam avançar nesse processo.

Todos sabemos que o Brasil é um dos países com a matriz energética mais limpa do mundo. Desde a década de 1970, com a criação do Proálcool, até a recém sancionada Lei do Combustível do Futuro, avançamos muito na utilização de biocombustíveis no modal rodoviário, graças a uma combinação de uma boa regulamentação com incentivos econômicos. O RenovaBio, por exemplo, é modelo para outros países.
 
No entanto, precisamos avançar nesse processo de descarbonização quando pensamos nos outros modais de transportes. E o Combustível do Futuro é um marco na transição energética do Brasil, estabelecendo parâmetros e incentivos para a transição energética nos setores de aviação e transporte marítimo. Com isso, esses setores, que são responsáveis por uma parcela significativa das emissões globais, agora têm um norte para onde seguir.
 
Como sabemos, os transportes aéreo e marítimo são grandes emissores de Gases de Efeito Estufa (GEE), e a utilização de combustíveis renováveis nesses modais é fundamental para que esses setores também avancem na substituição dos combustíveis fósseis tradicionais. 

Na navegação, por exemplo, utiliza-se largamente o óleo bunker, combustível pesado que, dada a sua característica de produção, contém uma alta concentração de enxofre e outras impurezas e libera grandes quantidades de CO2 e poluentes tóxicos, como óxidos de enxofre (SOx) e de nitrogênio (NOx), que provocam a piora na qualidade do ar.

A Organização Marítima Internacional (IMO) tem-se debruçado sobre o tema há alguns anos. Em 2020, após estudos e debates sobre o tema, aprovou uma proposta de limitar o teor de enxofre do combustível marítimo. Essa redução impulsionou a busca por alternativas mais limpas, como o uso de gás natural liquefeito (GNL) e de combustíveis renováveis, como o metanol verde e amônia verde.
 
A confluência desses dois fatores (pressão internacional pela redução das emissões e incentivos para a produção de biocombustíveis no Brasil) abre um espaço privilegiado para assumir o protagonismo nessa agenda.

Para isso, precisamos expandir a capacidade de produzir energia renovável a partir da cana-de-açúcar e do milho e investir em tecnologias. Isso demanda investimentos tanto pelo setor público quanto pelo setor privado e uma infraestrutura adequada.



O estado do Mato Grosso, por exemplo, se destacou pelo pioneirismo na produção de etanol de baixa emissão e vem expandindo a capacidade produtiva ao longo dos últimos anos. A indústria tem investido em novas plantas, modernas, capazes de produzir metanol verde – combustível apontado como umas das alternativas mais viáveis quando se fala no modal marítimo.

O metanol verde apresenta diversas vantagens: é mais fácil de armazenar e de transportar em relação a alternativas como o hidrogênio verde ou o gás natural liquefeito (GNL), que exigiriam grandes investimentos em estocagem e construção de novas embarcações adaptadas para o armazenamento desse combustível.

Em paralelo a isso, o crescimento da produção de etanol, especialmente a partir do milho de segunda safra, garante a oferta de matéria-prima necessária para a fabricação em larga escala do metanol verde.

O Combustível do Futuro deu um grande passo ao se alinhar com as normas internacionais e criar um arcabouço legal para a transição energética no modal marítimo. O setor privado, por sua vez, está-se preparando para garantir a oferta de combustíveis renováveis para o modal marítimo. 

Com uma política bem definida e regulação adequada, temos certeza de que o modal marítimo avançará rumo à redução de emissões e, quem sabe, atinja as metas de emissões líquidas zero nas próximas décadas. Cabe ao governo coordenar os esforços e reunir os setores interessados para desenhar uma regulamentação que seja ousada, mas ao mesmo tempo plausível.