Presidente do Grupo EQM
Op-AA-22
O reconhecimento mundial das consequências ambientais, em razão do aquecimento global e de sua correlação com o consumo de combustíveis fósseis, encontra no Brasil uma das mais consistentes respostas, pelos fatores favoráveis que congregam para a ampliação da oferta de energia limpa e renovável a partir de biomassa, representada pela produção de etanol e da cogeração a partir do bagaço de cana-de-açúcar.
Cresce, assim, a convicção na sociedade internacional de que alternativas bem-sucedidas aos combustíveis fósseis devem ser buscadas e incentivadas a qualquer custo. O Brasil é o maior exemplo para o mundo de um programa em larga escala de redução da emissão de gases do efeito estufa e substituição de combustível fóssil, pelo estrondoso sucesso do etanol como combustível, materializado na crescente frota de veículos flex-fuel.
Em 2009, praticamente 90% dos veículos comercializados no país foram flex, o que demonstra a grande aceitação da população em dispor de um mecanismo que permita consumir um combustível limpo e ainda obter vantagem econômica. O consumidor brasileiro tem o poder de decidir que combustível utilizar a cada vez que for abastecer seu veículo.
À medida que o nível de conscientização da população em relação aos efeitos prejudiciais de emissão de gases para o meio ambiente for aumentando, maior será o nível de consumo de energias limpas, mesmo em condições pouco vantajosas em termos econômicos. O etanol de cana brasileiro não só produz um combustível verde, que reduz as emissões por si só, quando comparado com a gasolina, mas também, no próprio processo produtivo do etanol, sequestra grande quantidade de carbono da atmosfera, sendo capaz de gerar energia e ainda ter um balanço positivo de biomassa, ou seja, o processo gera a energia necessária para a transformação da cana em etanol e ainda permite a utilização do excedente de biomassa para a produção de energia elétrica, a chamada bioeletricidade.
O volume de cana produzido hoje no Brasil nos permitirá, num futuro próximo, gerar quantidade de energia superior à energia gerada por hidroelétricas no país, à medida que as unidades industriais apliquem tecnologias modernas no processo de produção e de cogeração, o que já vem ocorrendo acentuadamente nos últimos anos.
Estamos diante de nova revolução tecnológica com a produção, nos próximos anos, do etanol a partir da celulose, o que abrirá enormes oportunidades de ampliação da produção de combustível limpo e renovável, mas tornará a cana-de-açúcar produzida no Brasil, mais uma vez, extremamente competitiva em relação a outras biomassas.
Os primeiros passos para relaxamento de barreiras protecionistas ao álcool nos Estados Unidos e na Comunidade Europeia foram dados recentemente, e a tendência é de maior liberalização. Essas iniciativas, aliás, são benéficas para as pretensões brasileiras e de outros eventuais produtores e exportadores de álcool, pois a diversificação de fontes tranquiliza o comprador.
O álcool de cana, tendo o Brasil como principal destaque, já é a opção de biomassa energética de maior produtividade por unidade de área e de melhor ciclo de vida - balanço energético. Ciclo de vida é a razão entre a energia produzida durante a vida total do sistema e a energia consumida, desde a sua implantação até o seu descomissionamento.
Enquanto o álcool de milho produzido nos EUA apresenta um ciclo entre 1,2 e 1,4, o de cana é superior a 8. Nenhuma forma de aproveitamento de energia solar, nem mesmo o fotovoltaico, tem um ciclo de vida tão elevado. A despeito dessa já elevada produtividade e ciclo de vida, é de se esperar, ainda, significativos avanços desses valores.
Esperamos que, em Copenhague, possamos assistir a um avanço objetivo, no sentido de os países do primeiro mundo assumirem uma posição mais efetiva e objetiva nas metas de redução das emissões dos gases poluentes, e, finalmente, darmos um passo amplo na evolução de um mecanismo que incentive a utilização de energias renováveis e cada vez mais limpas.
Impossível continuarmos convivendo com o derretimento progressivo das camadas polares e dos efeitos climáticos a que assistimos nas últimas décadas. Precisamos ter a consciência de que qualquer esforço que for realizado por uma geração só será percebido a longo prazo. É como se estivéssemos abastecendo nossos veículos hoje, pensando no bem-estar das gerações futuras.