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Jorge Kenjiro Watanabe

TecPar

Op-AA-01

O futuro do álcool: previsões positivas

A relação entre o aumento do consumo energético e as causas da fragilidade deste sistema, sugere a necessidade de alternativas e consolida oportunidades reais que se desenham para o setor sucroalcooleiro. Vários fatores, como o crescimento populacional, o incremento da produção de gêneros de primeira necessidade, a evolução do desenvolvimento agropecuário, industrial e tecnológico mundial, têm ampliado o consumo de energia em progressões assustadoras.

Isso, por sua vez, tem provocado os apagões, períodos críticos e prolongados sem energia elétrica, como recentemente aconteceu no Brasil e nos Estados Unidos, entre outros países, comprovando a fragilidade do sistema energético, tanto na produção, quanto na distribuição. Por esta razão, buscam-se alternativas para o modelo energético existente, uma vez que os combustíveis fósseis, hoje, muito utilizados para a produção de energia, são limitados e com previsões que variam entre 10 e 20 anos para o seu esgotamento.

Assim, fontes renováveis de energia estão sendo pesquisadas em larga escala, como soluções alternativas para o suprimento das necessidades energéticas atuais e futuras, gerando imediatas oportunidades para o setor sucroalcooleiro. O setor pode contribuir de forma efetiva para minimizar os déficits energéticos mundiais. Além disso, apresenta uma vantagem nada desprezível: esta opção pode ainda contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população mundial, com a drástica redução das emissões de gases, diminuindo o efeito estufa apregoado no Protocolo de Kyoto - outro grave problema de difícil solução para a sociedade contemporânea. Uma abertura comercial grande e ilimitada está presente nessa oportunidade mercadológica.

Dentre os envolvidos nesse assunto, podemos citar países da importância do Japão, autorizando a mistura do álcool na gasolina em até 3%, o que representa um consumo de cerca de 1,8 bilhões, e declarando a pretensão de atingir 10% até o ano de 2010, o que significará um consumo da ordem de 6 bilhões de litros de álcool.

A Coréia do Sul pretende brevemente realizar uma mistura de 10% na gasolina, projetando um consumo anual da ordem de quatro bilhões de litros de álcool. Neste cenário promissor, destacam-se ainda como fatos concretos a existência de algumas províncias chinesas e de alguns estados americanos que já estão adicionando 10% de álcool na gasolina.

Outra alternativa de demanda é a mistura de 8% a 10% de álcool no diesel, com a participação de um aditivo natural - éster de óleo de soja, que trás a vantagem de diminuir a emissão de poluentes em torno de 30%. Dependendo do país consumidor, essa opção poderá representar um volume maior do que a mistura feita na gasolina.

Outro grande filão a ser considerado, com pesquisas em curso, é a adição do álcool ao BPF - o óleo cru, utilizado para o aquecimento de caldeiras. A Companhia de Cigarros Souza Cruz, que opera uma das maiores frotas próprias do país, está aumentando o efetivo de carros movidos a gás natural, de acordo com reportagem publicada recentemente no jornal Gazeta Mercantil.

A empresa pretende ter todos os carros dos vendedores transformados em cinco anos. Embora na contramão dos interesses do setor alcooleiro, a ação mostra a tendência do uso de combustíveis alternativos. A aplicação do álcool industrial brasileiro no segmento alimentício, farmacêutico e de bebidas, representando um menor volume, embora pouco divulgado, já é um fato comum no mercado mundial.

Quanto à tecnologia disponível, a brasileira é considerada a melhor no cenário mundial e nesse quesito poderá tirar um grande proveito estratégico. Esse desenvolvimento e aprimoramento tecnológico foram lastreados em imensos investimentos em pesquisas não somente na área industrial no processo produtivo do álcool e do açúcar, mas na área agrícola no desenvolvimento de variedades de cana e nas adaptações edafoclimáticas, que envolvem todo o meio-ambiente.

Alguns países, como a China e a Índia, demonstraram interesse em realizar parcerias com o Brasil para a implantação e aperfeiçoamento da produção de álcool em seus países. Citamos até o momento as oportunidades atuais sem abordar as ações necessárias para provocar resultados efetivos e resolver os problemas organizacionais e estruturais existentes. Os preços do álcool combustível caíram 47,5% nesse ano, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo.

No mesmo cenário se enquadra o preço do açúcar no mercado interno. Elevados estoques de álcool no Brasil, o reflexo do crescimento da safra e as chuvas na entressafra derrubaram o preço, demonstrando que o setor carece de uma programação estratégica agrícola na produção da cana-de-açúcar. Investimentos também deverão ser feitos na estruturação e modernização da produção e na infra-estrutura individual de armazenamento do álcool, em facilidades portuárias envolvendo o armazenamento e o embarque, bem como no recebimento, armazena-mento e distribuição nos países consumidores, além dos investimentos em comercialização e em marketing do produto.

Ressalta-se o fato de que o setor energético mundial passa por uma grande transformação, provocando rápidas mudanças conceituais. Novas fontes de energia serão incorporadas, de maneira muito mais efetiva, como é o caso da eólica, da solar, da marítima, da eletromagnética, entre outras, em nichos ou em mercados regionais, de acordo com a disponibilidade de matéria-prima, indicando forte concorrência.

Finalizando, citamos o hidrogênio, uma grande alternativa que surge, já considerado como o combustível do futuro muito próximo. O hidrogênio, que produzirá energia renovável, limpa e eficiente, pode ser obtido da água e de hidrocarbonetos, abundantes e disponíveis no nosso meio. A produção de energia com hidrogênio, através da célula de combustível, terá melhor eficiência, emitindo apenas vapor d’água pura no nosso ambiente, além do que, irá diminuir a poluição sonora, pois utilizaremos motores elétricos ao invés de motores à combustão.

Do bagaço da cana de açúcar e do álcool poderemos obter o hidrogênio, como mais uma alternativa inovadora do setor, podendo ser utilizado não só diretamente, mas também nas outras áreas, em equipamentos estacionários e móveis, nos segmento agropecuário, industrial, doméstico e automotivo. Nesse processo o setor sucroalcooleiro pouco tem realizado, porém a sua participação e investimento, nesse momento, poderá ser o passaporte para a sustentabilidade da cadeia produtiva.

O setor, que já participa na redução das emissões de gases poluentes usando o álcool na forma pura ou na mistura com a gasolina em países como o Brasil, poderá sem dúvida alguma ampliar ainda mais sua atuação na melhoria do ar ambiental, transformando o álcool em hidrogênio, diminuindo consideravelmente as emissões de carbono.