Para falarmos de inovação tecnológica e do impacto na competividade em tempos atuais, é preciso voltar no tempo e mencionar o austríaco Joseph Schumpeter, que, em 1939, associou que os períodos de desenvolvimento e prosperidade econômica das nações estavam diretamente relacionados à difusão das inovações tecnológicas dos sistemas produtivos, sendo que a inovação é o cerne do processo de desenvolvimento e das vantagens competitivas, conforme elencadas por Michael Porter em seus estudos comparando diversas empresas de vários segmentos e os seus desempenhos.
Shumpeter, em 1961, mencionou que “o impulso fundamental que inicia e mantém a máquina capitalista em movimento decorre de novos bens de consumo, de novos métodos de produção, de novos mercados e de novas formas de organização industrial”. Sua obra serviu de alicerce para estudos de diversos pesquisadores para entender e compreender como ocorre o processo de inovação dentro das empresas, sendo que os modelos dos sistemas setoriais podem ser transformados por meio de uma forma drástica ou pela contínua acumulação de conhecimentos.
O desenvolvimento tecnológico pode ser de caráter incremental e se desenvolve em aderência às rotas tecnológicas estabelecidas pelas grandes inovações, mais endógenas aos mecanismos econômicos, e tendo como dinâmica a descontinuidade e incertezas pautadas no acúmulo do conhecimento. Esse conceito de acumulação tecnológica dentro do processo de inovação foi descrito por Nelson Winter, em 1982 (An evolutionary theory of economic change), sendo denominado de path dependence, que explica como um conjunto de decisões é limitado por outras decisões tomadas no passado e o desenvolvimento tecnológico seria produto de um conjunto de decisões com certo grau de relacionamento entre si.
O processo de inovação é provocado por uma tensão e desestabilização ao sistema, que podem estar relacionados a ciclos políticos, movimentos culturais, ciclo de vida de produtos, pressões sociais, demandas ambientais ou qualquer externalidade existente. Os principais agentes de inovação tecnológica ou influenciadores das redes de inovação tecnológica do setor sucroenergético se dividem em político-normativo, como Ministério da Cultura e Tecnologia e o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento; estratégicos, como Unica, Embrapa, CTBE, CTC; Universidades (Unicamp, Esalq-USP, UFSCar, Unesp, UF-RJ); agentes operacionais, que são as usinas produtoras; e as empresas de alcoolquímica.
As formas de transferência de tecnologias mais utilizadas no setor sucroenergético são por meio da aquisição do licenciamento ou patente, vigilância tecnológica e a implementação de experiências de outros setores, que se traduzem em renovação tecnológica. Nesse processo, as unidades agroindustriais realizam a melhoria incremental e benchmarking dessa tecnologia, na qual a absorção dessas inovações é objeto de discussões em seminários e congressos setorial.
A tecnologia atualmente empregada na área agrícola pode ser considerada de ponta dentro das referências mundiais. As tecnologias de agricultura de precisão já são adotadas nas lavouras do Brasil, com técnicas cada vez mais produtivas, sendo que grande parte das inovações tecnológicas introduzidas na agricultura constitui-se de máquinas, equipamentos, defensivos agrícolas, fertilizantes químicos e outros produtos. Entretanto a área industrial das usinas é a que mais carece de atualização tecnológica, se utilizarmos os conceitos atuais de biorrefinaria e indústria 4.0.
A introdução do conceito de biorrefinaria nas usinas produtoras de biocombustíveis pode levar a uma redução de custos, a um aumento do lucro e da independência por não estarem mais sujeitas às flutuações de mercado dos preços dos produtos, problema que assola as produtoras da cana-de-açúcar.
A consolidação do bioetanol e dos coprodutos no mercado interno e externo também é um dos elementos condicionantes das redes de inovação tecnológica do setor sucroenergético. Para a consolidação dessa plataforma tecnológica do bioetanol no mercado internacional, depende-se da capacidade de transferência tecnológica e do desenvolvimento de tecnologias de segunda geração, seguindo os conceitos de sustentabilidade do negócio.
A indústria 4.0 teve sua origem em decorrência de uma estratégia do governo alemão para garantir a competitividade da indústria do país frente à concorrência internacional, por meio da informatização da manufatura. É um conceito proposto que engloba as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação aplicadas aos processos de manufatura, com o objetivo de se tornarem cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis.
A síntese desse programa consiste na conexão entre as tecnologias emergentes e o mundo físico. Dentro desse contexto de tecnologias emergentes, podemos destacar robôs autônomos, realidade aumentada, IoT (internet das coisas), Big Data, simulação operacional, internet industrial e integração horizontal e vertical de produção. Segundo levantamento realizado pela PWC, no âmbito mundial, o setor produtivo planeja investir US$ 900 bilhões nos próximos cinco anos na atualização dos seus processos.
O foco desses investimentos será na digitalização dos processos industriais, usando, para isso, sensores e dispositivos que fornecem mais conectividade entre a planta industrial e os sistemas de controle operacional. Apesar de ainda estar atrás da corrida da indústria 4.0, o Brasil começa a se mobilizar para a adoção das tecnologias digitais.
Em março de 2018, uma associação entre o Governo Federal, representado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, e as lideranças de diversos grupos industriais definiu uma pauta de atuação com o objetivo de facilitar o acesso da indústria nacional a tecnologias digitais permitindo ao País um impulso competitivo.
A Atvos vem atuando em aderência a essa mudança tecnológica, e o conceito de indústria 4.0 deixou de ser uma tendência futura para se tornar a realidade dos processos e dos investimentos para a companhia. Nesse contexto, a Atvos implementou e está operando com RTO (Real Time Optimization), simulador on-line que utiliza os dados dos sistemas de controle supervisório e laboratorial e gera set-points para as malhas de controle, de forma a buscar as condições ótimas operacionais; IA (inteligência artificial), por meio de lógica Fuzzy nos processos de geração de vapor e energia e evaporação; MES (Manufacturing Execution System), camada intermediária de automação que realiza a parte de inteligência da gestão da operação, manutenção e produção industrial.
O mercado globalizado e competitivo exige das empresas uma reestruturação para enfrentar a exigência e o dinamismo do processo de inovação tecnológica na indústria sucroenergética, visando aumentar a produtividade, reduzir os custos de produção e o impacto sobre o meio ambiente, que possibilitarão a transformação do setor, apesar de seu processo de inovação ainda ser deficiente.
Não há dúvida de que a dinâmica e a competitividade da indústria nacional só poderá ser obtida por meio da adoção de novas tecnologias, como a inteligência artificial, cloud, blockchain, impressão 3D, cibersegurity e internet das coisas (IoT). O maior desafio será priorizar uma agenda específica pelo Governo Federal com o propósito de fomentar e disponibilizar linhas de funding acessíveis para que as empresas nacionais possam ter acesso às novas tecnologias, e uma reflexão profunda sobre o nível educacional do país, pois a contrapartida dessa nova onda tecnológica vai demandar profissionais mais qualificados, com habilidades específicas, e o resultado disso somente será possível se puderem ser capacitados e se essas habilidades forem aplicadas com inteligência.