O agronegócio está sendo redescoberto pela sociedade. É interessante notar que um setor que emprega, apenas em São Paulo, mais de 700 mil pessoas diretamente, ainda precise trabalhar a visibilidade no país. Ainda são necessárias campanhas e ações que mostrem o quanto a agropecuária é importante para a segurança alimentar da nossa população, combatendo históricas distorções que ainda hoje se encontram em livros didáticos. O setor, em que a tecnologia transformou o Brasil em uma referência de produção para o mundo e que responde por parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB) – só São Paulo, 40% – e do superávit da balança comercial brasileira, ainda é estudado como retrógrado, atrasado.
Sabemos que a agropecuária brasileira é uma das mais fortes do mundo, com reconhecimento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). As pesquisas, os avanços tecnológicos e a instrumentalização dos produtores, através de cursos e consultorias, transformaram o Brasil em um grande celeiro. Esses avanços deixaram longe a insegurança alimentar que afetava o país na década de 1950 e trouxeram uma diversificação de culturas. Os estudos ajudaram a identificar regiões mais favoráveis a determinados cultivos e as melhores técnicas para cada produção. Hoje, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é maior por conta do setor agropecuário.
A pujança do setor, entretanto, nem sempre se traduz em resposta àqueles que produzem. Faltam propostas de logística que envolvem investimentos mais robustos e um programa de Estado, de longo prazo, que possa atender às necessidades do dia a dia das cadeias produtivas. Um exemplo prático é a abertura à importação de leite em pó do Uruguai e da Argentina, que deixou a cadeia produtiva do leite em situação crítica. Os produtores já vinham sofrendo com a redução do preço pago pelo litro do leite, ao mesmo tempo que amargavam o aumento dos custos de produção.
Outro exemplo: as quebras de safra, por questões climáticas, que levam os produtores a dependerem de recursos para a manutenção na terra, sem uma ampla cobertura de seguro. Muitos dos recursos anunciados demoram para chegar à ponta. Meses que podem significar o não pagamento de empréstimos tomados para melhorar a qualidade do plantio ou a modernização da cultura.
Essa insegurança do produtor rural, que vive sempre na expectativa do Plano Safra, precisa ter fim. Acredito que, pela importância do setor, esse é um momento em que precisamos unir forças em prol de algo novo. Dentro dessa esteira da redescoberta do agro, torna-se fundamental trabalhar para a construção de um Plano Nacional que atenda aos agropecuaristas não apenas de forma pontual, mas com metas, programas e desembolsos. A Lei Agrícola dos Estados Unidos, Farm Bill, é votada no Congresso a cada cinco anos e envolve programas de seguro e financiamento para produtores, além de medidas envolvendo investimentos em nutrição e outros programas governamentais voltados a famílias de baixa renda.
Precisamos aqui, no Brasil, de políticas e ações que fortaleçam a infraestrutura e logística, com destaque para transporte e o armazenamento; investimento em pesquisa, tecnologia e inovação; defesa agropecuária; conectividade no campo; disponibilidade de instrumentos financeiros (crédito) e de gestão de riscos (seguro); maior acesso a mercados com a prospecção de novos destinos e consumidores; segurança no campo com combate às invasões de propriedades particulares e com concessão de títulos de posse aos produtores; sustentabilidade com equilíbrio entre a produção e a conservação dos biomas; diversificação e integração da produção, além de agregação de valor; e a melhoria do âmbito de negócios.
Hoje, o ambiente ainda é burocrático, não privilegia a iniciativa privada nem oferece legislações trabalhista, tributária e ambiental simples e objetivas. Mas a construção desse Plano será a muitas mãos. Esse clamor demanda o encontro de confederações, federações, sindicatos, cooperativas, setores comercial e industrial, serviços e um terreno fértil para o debate e a formulação de políticas que consigam expandir os horizontes do produtor rural.
É necessário que ele possa programar os investimentos na melhoria de sua performance, principalmente desenvolvendo os arranjos produtivos para tornar as pequenas e médias agroindústrias sustentáveis, adquirir máquinas, quando for o caso, e apostar na tecnologia para aumentar a produtividade. Isso, entretanto, só acontecerá se ele perceber que há segurança para mudar o futuro.
Trabalhamos para que o setor se modernize com as ferramentas disponíveis. No estado de São Paulo, temos a percepção do governador para as urgências, e, sempre que levamos uma demanda do campo, representado pelos 237 sindicatos rurais, há uma atenção especial.
Fomos chamados a participar do Grupo de Trabalho para a liberação de créditos acumulados do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o setor. O resultado foi, na última semana, o anúncio de R$ 600 milhões para os produtores de proteína animal e produção de máquinas e equipamentos agrícolas. E, pela promessa do governador Tarcísio de Freitas, novos recursos chegarão para estimular o investimento em infraestrutura e logística, bem como segurança sanitária.
E, para contribuir com a seguridade que o produtor merece, nós, do sistema Faesp, Senar-SP e Sindicatos Rurais, estamos trabalhando no levantamento de dados diretamente com os proprietários rurais em suas propriedades. Queremos, em breve, ter uma real radiografia do setor paulista e, na posse dessa informação, ajudar na formulação de ferramentas que estimulem o desenvolvimento das culturas e da agropecuária de São Paulo e na orientação de pesquisas, fortalecendo a capacitação técnica, a eficiência e a pujança do agro, inclusive nacional.
Há dois projetos em construção que destaco: o centro de excelência da cana-de-açúcar, em Ribeirão Preto, e o centro de tecnologia, big data e inteligência artificial, em São Roque, que serão oferecidos para aproveitamento de todos os produtores em âmbito nacional.
Sobre a campanha para tornar o agronegócio um patrimônio do Brasil, tão conhecido como o futebol, vejo como um passo importante. Não apenas para derrubar aquelas distorções históricas, mas também para mostrar que o setor tem rostos, histórias, conquistas, prêmios. Não somos reconhecidos mundialmente pela nossa capacidade de produção e pela qualidade de nossos produtos por casuísmo.
A história de milhões de famílias mistura-se com a da construção de um país autossuficiente e a de brasileiros e imigrantes, que fizeram daqui a sua pátria e com seu trabalho contribuem diariamente para o sucesso do campo.