Presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal
Op-AA-42
Passados alguns anos da minha atuação de forma mais intensa junto às atividades econômicas e políticas do setor sucroenergético, vejo que, infelizmente, as coisas caminham pouco. Pior, tendem a tomar rumos que não interessam ao setor, nem à sociedade como um todo, mas satisfazem o ego de alguns coadjuvantes do próprio setor ou de ideólogos de plantão, principalmente de figuras que ocupam cargos públicos.
Nossa mensagem passa a ser tão repetitiva, que estou começando a achar que, talvez, estejamos mesmo sendo transformados em vilões de uma sociedade que busca o que não sabe ou o que não conhece. Vejamos. Acabamos de sair de uma batalha eleitoral, em que muito se colocou a respeito da luta do bem contra o mal, ou seja, quem produz emprego é do “mal” e quem “serve” a estes é do “bem”.
Ora, no nosso meio rural, sabemos dos inúmeros empregadores que convivem o dia a dia com seus funcionários no trabalho, dividindo tarefas e buscando ganhos efetivos, para que o dia a dia de todos melhore. Olhar neste horizonte, do “bem” contra o “mal”, certamente não é a melhor forma de evoluir. O debate de ricos e pobres, da região Centro-Sul com a região Norte-Nordeste, não trará soluções para os grandes problemas que o País enfrenta.
Como se fosse possível administrar um país, com essas questões colocadas a todos, como forma de promover divisões. Perdemos a grande oportunidade de trazer à discussão temas mais importantes, que dignificariam a vida da grande maioria dos brasileiros. Estes que querem ver o País cada vez mais no topo do ranking das nações mais desenvolvidas. Um Brasil que volte a dar esperança a muitos cidadãos que aqui entregam a sua vida, pensando em dias melhores. Certamente, não foi uma boa escolha.
O resultado dessa escolha do povo conheceremos ao final do mandato, daqui a quatro anos. Voltando a olhar para dentro do nosso setor, efetivamente, vejo com grande preocupação os resultados que poderemos ter daqui para frente, se algumas medidas não forem tomadas. É necessária uma visão clara da importância desse setor para os diversos temas, como o meio ambiente, o social sob o ponto de vista da geração de emprego e renda, a geração de divisas importantes para o equilíbrio fiscal, a geração de energia elétrica ajudando, inclusive, na preservação do uso da água e outros tantos benefícios que poderiam estar ajudando às pessoas e a este País.
Atenho-me a comentar alguns pontos principais que, certamente, ajudariam, de forma direta ou indireta, na melhoria das condições atuais, que são extremamente delicadas para a sustentação econômica das empresas ligadas ao setor. A execução de um plano de curto, médio e longo prazo, para ajudar na solução de todos esses problemas, é ponto chave para o sucesso, cabendo ao governo dar o pontapé inicial e, lógico, embasado pelos atores que desenvolverão esses processos.
Se olharmos do ponto de vista de diferencial e promoção de empresas que ajudam na melhoria do meio ambiente com a produção de combustíveis limpos, é claro que um instrumento como a CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) é fundamental para dar competitividade a esse combustível. Os benefícios advindos desse diferencial certamente ajudam a manter grandes investimentos no interior, promovendo ganhos sociais e, nas capitais, melhoria da qualidade do ar com o maior uso do etanol.
Talvez, também, na qualidade dos serviços de transportes públicos, caso essa arrecadação seja, em parte, utilizada para a melhoria do sistema e das vias de transporte urbano. Essa é a condição básica que vem sendo solicitada desde que foi zerada pelo atual governo. Outro ponto importante, que vem sendo solicitado por grande parte do mercado, diz respeito ao controle de preços da gasolina.
É hora de aproveitar o viés de baixa e jogar ao mercado, que este certamente responderá à altura e saberá o que fazer, trabalhando com maior previsibilidade e trazendo mais investimentos ao País. Passou da hora de querer administrar preços olhando somente benefícios que, certamente, não interessam à grande maioria dos brasileiros. A recente tomada de decisão de subir, de forma unilateral, o preço da gasolina em 3% e do diesel em 5% mostra o grau de fragilidade que vivemos, pois os danos serão muito fortemente sentidos no médio prazo.
O diesel é parte integrante da quase totalidade das empresas que produzem e geram empregos, afetando diretamente os seus custos de produção. Para o setor, é uma verdadeira punhalada, pois a produção agrícola é extremamente dependente desse combustível, e os produtos açúcar e etanol têm, nos fretes, outro componente importantíssimo no que diz respeito a custos.
Esses dois pontos, aliados a um terceiro de importância ímpar, que é o da geração de energia com a queima de biomassa, seriam suficientes para colocar o setor em situação muito diferente da que se encontra hoje, em que o desânimo é total. Isso seria de grande relevância para a melhoria das condições de preços da cana-de-açúcar e para os produtores rurais, que vêm sofrendo grande crise ao longo desses últimos quatro anos.
Muitas empresas sendo fechadas, e produtores ficando sem oportunidade de entregar a sua produção. Milhares de empregos perdidos, por pessoas que trabalham nessas empresas e em tantas outras que fabricam componentes ou prestam serviços a elas. São momentos de muitas dificuldades, promovendo uma verdadeira catástrofe em termos de empregabilidade.
Para renascer das cinzas, é importante que se tomem posições firmes, apoiadas por pessoas que realmente conhecem o problema, ou, certamente, mais quatro anos passarão, e, lá na frente, os enormes benefícios conquistados, com grande volume de recursos aplicados em investimentos realizados, com melhorias de décadas de trabalho, serão jogados fora. O País carece de recursos para diversas áreas, e não podemos nos dar ao luxo de colocar tudo isso no lixo.