Diretor da Empral Piracicaba
Op-AA-27
No segundo semestre de 1973, uma nova técnica de extração de caldo de cana por moagem chegou ao Brasil, provocando dúvidas em muitos, enfrentando a oposição de outros, além da falta de colaboração dos principais construtores de equipamentos da época, mas teve grande aceitação pelas usinas.
Por trás dessa iniciativa, se encontravam Jorge Wolney Atala, Pierre Chenu e Deon Hulett, que, desde suas áreas de atuação, uniram as decisões e o trabalho para implantar em nossas usinas as técnicas já utilizadas na Austrália e na África do Sul. Apesar de esses países serem reconhecidos pelas melhores extrações, seus resultados não competiam com os métodos cubanos utilizados na Flórida em relação à quantidade de cana moída, que era o principal objetivo de nossos usineiros.
Nessa época, nossas usinas mal conseguiam moer a cana e menos ainda se preocupavam com a extração obtida. Essa nova técnica preconizava: preparo de cana com desfibrador, alimentação de cana com Donnelly, instalação de rolo de pressão, embebição composta por água quente e retorno direto sem passar por cush-cush, utilização de frisos de 2” e 1 ½” com ângulo de 35º e aplicação de solda nos flancos e cristas dos frisos. Com o passar do tempo, a adoção dessa proposta foi sendo ampliada e acabou trazendo como resultado imediato a melhoria da extração e, em seguida, como efeito colateral, o aumento de moagem.
Com a implantação do Proálcool, que incentivava o aumento da produção de álcool com objetivo de enfrentar a primeira crise do petróleo, passou-se a exigir aumentos significativos de moagem, em alguns casos, ultrapassando a cifra de 100%. Tal demanda foi atendida pela mesma tecnologia em implantação, aliada ao cultivo da nova variedade de cana NA5679.
Como explica o Engenheiro José Marcos Lorenzeti: “Essa variedade foi um marco que se destaca na história da agroindústria pelas suas qualidades tanto agronômicas como industriais, destacando-se sua precocidade, o que fez aumentar significativamente a capacidade anual de produção das instalações industriais”.
Essa tecnologia contribuiu para o êxito do programa governamental de alimento da produção de álcool, pois não exigiu significativos investimentos em novas moendas, permitindo direcionar os recursos para as destilarias.
Atualmente, após muitos quilômetros rodados e várias dificuldades pelo caminho, reputo o êxito do aumento da extração em conjunto com a quantidade de cana moída ao cultivo da variedade NA5676, que, sem que soubéssemos ou exigíssemos, possuía uma excelente moabilidade.
No início da década de 80, essa variedade chegou a representar 50% da cana plantada no estado de São Paulo. Porém, devo admitir que falhei nas previsões que apresentei em uma palestra no ano de 2002. Minha ideia consistia em que a corrida por ainda maiores moagens em detrimento da extração seria superada, e que os administradores se preocupariam em suprir o setor com mão de obra especializada, com engenheiros e técnicos especialmente formados.
Capacidade de Moagem: O novo panorama trouxe consigo a necessidade de revisão das fórmulas tradicionais, empíricas, utilizadas para o cálculo da capacidade de moagem, que já não atendiam à técnica empregada. Após estudos teóricos e práticos, desenvolvemos uma nova fórmula, publicada originalmente no Boletim Técnico da Copersucar 14-81, em 1981, em que, onde:
Pode-se observar que, além das formas geométricas da moenda (D, L e n), a fibra tem pouca influência no resultado, inclusive aumentando a capacidade com seu crescimento. Por outro lado, a densidade da cana no fundo do Donnelly é o item que possui maior influência na capacidade.
Portanto, é muito importante cuidar dos fatores que influem na densidade, como a altura da cana no Donnelly, a morfologia de cana (variedade, maturação, isoporização, etc) e as impurezas vegetais.
Esse último fator é extremamente importante e deve ser considerado quando se propõe a não queima da cana – um teor de impureza de 8% pode reduzir a moagem em até 15%.
Dessa forma, não procede a afirmação que comumente se ouve de que a moagem diminuiu porque o teor de fibra aumentou durante a safra. Isso pode acontecer, mas devido a outros fatores que diminuíram a densidade da cana.
Extração: A extração do açúcar contido na cana é definida pela fórmula: Açúcar da Cana menos Açúcar do Bagaço dividido pelo Açúcar da Cana, que pode ser expressa na Fórmula 2 (para umidade de bagaço de 50%). A Fórmula 3 define a qualidade da matéria-prima.
Considerando a prática proveniente de muitas safras analisando extração, fibra, pol %cana e pol %bagaço, nos é permitido concluir que a pol %bagaço permanece a mesma em moendas bem operadas, sem variar com a qualidade da matéria-prima (K), como mostrado no gráfico em destaque, no qual podemos ver que, para uma mesma pol%bagaço de 1,75, isto é, independentemente do trabalho da moenda, a extração poderá ser de 95% ou de 97,5%, conforme a qualidade da matéria-prima.
Dessa forma, não faz sentido a comparação entre moendas de diferentes safras ou de diferentes usinas utilizando somente a extração sem referir-se à qualidade da cana.
Usina Atual: Evoluímos muito desde a chegada das novas técnicas, em 1973, principalmente em relação à oferta de equipamentos, o que nos permite a execução de uma instalação de extração de caldo de forma compacta, com poucos e robustos equipamentos de grande confiabilidade acionados eletricamente, minimizando a manutenção e o consumo de energia.
Como exemplo, cito uma instalação para cana picada com:
Essa instalação nos permite moer 1.400 TCH ou 6.000.000 TCSafra. Podemos afirmar que o nível alcançado nessa área já não é o de um país em desenvolvimento.