Gerente de Marketing Estratégico para Cana-de-açúcar para a América Latina da John Deere
O Brasil é, atualmente, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, e, tendo em vista esse panorama, surge um desafio: manter ou elevar o nível de produção diante do crescimento populacional, considerando a carência de terras para plantio. A projeção mundial, divulgada pela Organização das Nações Unidas – ONU, surpreende: seremos 9 bilhões de cidadãos em 2050.
Assim, é necessário pensar e aplicar, com urgência, meios para suprir a demanda de alimentos e combustíveis de forma sustentável, sem deixar de lado a produtividade e o viés financeiro da fazenda. No século XX, o trabalho na lavoura brasileira era manual e exigia um número elevado de trabalhadores para que a prática braçal fosse realizada. O plantio e a colheita eram feitos em pequenas áreas, devido à dificuldade logística em expandir a ação por mais espaços da fazenda. Esse panorama passou a se transformar com a chegada das primeiras máquinas, em meados de 1930, considerado o primeiro passo para a expansão agrícola.
A mecanização possibilitou o aumento da capacidade de colheita na lavoura nos últimos 50 anos. Atualmente, 90% da área plantada de cana em São Paulo é colhida de forma mecânica, sendo que 80% do plantio já é mecanizado. Desse modo, segurança, agilidade e facilidade são adicionadas ao campo, o que gera aumento da lucratividade. Porém é necessário reconhecer que um bom maquinário é importante, mas não basta. O despreparo e a ineficácia de grande parte das gestões rurais indicam que ainda há um longo caminho a ser percorrido, de modo que todo o potencial tecnológico, humano e técnico seja bem aproveitado.
A administração rural é uma grande aliada do controle da fazenda, ajudando o gestor a alcançar resultados melhores, sem se desgastar com técnicas e investimentos dispensáveis. Esse controle ocorre por meio de ferramentas, que podem estar presentes no próprio maquinário, e softwares, que possibilitam que o gestor da fazenda acompanhe o panorama produtivo por completo. Planilhas orçamentárias com custos atuais, lucros e projeções, indicadores dos níveis de insumos e estoque, controle do andamento da safra, medidores dos níveis de produção, entre outros, são alguns dos benefícios fornecidos pela gestão rural.
A partir desses dados, é possível criar sistemas próprios, como medidores de qualidade interna e externa. Mas algumas barreiras impedem o homem do campo de enxergar os benefícios de uma fazenda bem administrada. Uma delas é o receio da tecnologia que, à primeira vista, parece ser de difícil domínio ao agricultor, o que não passa de um mito. Atualmente, são disponibilizados instrumentos simples, que são facilmente compreendidos e aplicados ao produtor rural.
Além disso, há o desconhecimento e, até mesmo, preconceito com o termo “gestão”, que nada mais é do que a correta atribuição de recursos, materiais e mão de obra, com o objetivo de gerar resultados satisfatórios. Ou seja, a administração rural é um meio inteligente de alcançar rendimentos eficazes, previamente determinados, prevenir e lidar bem com possíveis desvios, padronizar atividades de sucesso e treinar e motivar equipe para atuações necessárias. O panorama tecnológico é um caminho sem volta, de modo que o produtor deve se adequar e aprender a usar melhor os ativos, para não perder oportunidades.
O agronegócio segue rumo à sincronização tecnológica, que resulta no incremento da capacidade produtiva, sem que seja necessário expandir terras. Esse marco é representado pela indústria também com o oferecimento de soluções integradas, ou seja, serviços que somam o aperfeiçoamento dos equipamentos, a otimização do trabalho e o suporte para decisões.
Cenário: A disparada do dólar traz uma conjuntura ambígua ao setor sucroenergético do Brasil. Por um lado, safras e exportações são beneficiadas pelo dólar alto, o que é bom para o agronegócio. O preço do etanol e do açúcar também subiu devido à moeda. Mas, por outro lado, os insumos estão mais caros diante da inflação elevada.
Um estudo da revista científica Nature, publicado em janeiro deste ano, revela um alto índice de mudanças climáticas que podem comprometer o abastecimento mundial de alimentos. De 1964 a 2007, foram registrados mais de 2,5 mil eventos meteorológicos intensos, além de secas e grandes períodos de calor, responsáveis por perdas de 10% na produção mundial de grãos. Assim, há duas alternativas ao produtor: agir com cautela, ou investir e se destacar no cenário a fim de manter e, quiçá, elevar seu nível de produção. O recomendável é apostar em tecnologia e pesquisa, meios que têm o poder de amenizar os impactos climáticos e aperfeiçoar a produção perante a alta da moeda americana.
Qualificação: Apesar da tecnologia, o lado humano não deve ser deixado de lado, e a qualificação profissional para atuar com cana-de-açúcar faz diferença. Relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged, do Ministério do Trabalho, indica que a agricultura foi o único segmento da economia a gerar empregos formais em 2015. O órgão registrou 1.060.745 demissões contra 1.070.556 admissões, um saldo de 9.821 vagas ocupadas.
Ou seja, as pessoas ainda são parte integrante do processo canavieiro. Sendo assim, é necessário buscar alternativas para capacitar a mão de obra. Para isso, simuladores para o treinamento de operadores são uma tendência no mercado de equipamentos agrícolas. Dotados de segurança, eles são indicados para leigos e para os que querem reciclar seus conhecimentos. A soma de tecnologia e qualificação é a fórmula para o produtor canavieiro enfrentar o atual panorama mundial, o que é ainda mais evidente com os investimentos aplicados para pesquisa e inovação na área.
Essas aplicações trazem resultados que transcendem a produtividade e passam a beneficiar a natureza. Um fruto dessa política é a agricultura de precisão, sistema de retorno comprovado, que colabora para a economia de insumos, combustível e aumento da produtividade. Desafios para o setor canavieiro sempre existirão, mas vale lembrar que, por mais difíceis que sejam, cabe ao agricultor se atualizar quanto às inovações e buscar caminhos inteligentes, que andem de mãos dadas com a tecnologia e a gestão.