Vice-Presidente de Gestão de Energia da CPFL Energia
Op-AA-10
O chamado Novo Modelo do Setor Elétrico brasileiro, que marcou o início dos anos 90, idealizava constituir uma estrutura controlada, principalmente, por capital privado. As empresas do setor passaram a operar de forma desverticalizada e passaram a ser privatizadas, através de leilões. A crise no fornecimento de energia elétrica, em 2001/02, foi um sinal de que o setor elétrico demandava ajustes, capazes de garantir o equilíbrio entre oferta e demanda de energia elétrica no longo prazo, para atendimento das necessidades da economia brasileira, evidenciando a necessidade do planejamento de longo prazo.
A existência de planejamento não pode ser compreendida como garantia da tranqüilidade no futuro, pois mesmo que sejam atendidas todas as expectativas do Plano Decenal Energia Elétrica - PDEE, ou seja, risco de déficit controlado e o custo marginal de operação baixo, ainda assim o setor dependerá de fatores como hidrologia e oferta de combustíveis necessários à geração termelétrica, onde está considerada a cogeração.
Assim, a necessidade de expansão da oferta de energia, com base nas avaliações das condições de atendimento ao mercado, no horizonte de longo prazo, representa atratividade para que os produtores de açúcar e álcool passem a investir também, de uma forma mais consistente, na geração de energia elétrica, através da cogeração.
Essas unidades geradoras passam, cada vez mais, a observar que representam, na verdade, uma central de geração de energia e que a energia elétrica é uma diversificação em sua cadeia produtiva.
A sensibilidade do preço da energia elétrica, em relação às incertezas do fornecimento, pode ser observada pelas atuais expectativas, apresentadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, através do Programa Mensal de Operação, onde o Risco de Déficit anual e o Custo Marginal de Operação são, praticamente, duas vezes maiores que os riscos apresentados no PDEE, quando consideradas questões como possíveis atrasos em construções de usinas e problemas operacionais, como escassez ou dificuldades no abastecimento de gás natural para a indústria, transporte e para a geração de energia elétrica nas usinas termelétricas convencionais.
A situação pode se tornar preocupante e requer extrema atenção de todos os envolvidos, particularmente dos potenciais investidores em geração de energia. A elaboração do Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica deve ser entendida como uma referência e orientação para novos investimentos. Portanto, seus critérios, premissas e considerações devem ser explícitos, de forma a apresentar a atratividade existente nos novos empreendimentos, colocando-os à disposição de empreendedores e servindo, de fato, para os leilões de energia.
No plano decenal 2006/2015, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética - EPE, a participação da energia de biomassa, representa 2.158 MW médios, ou cerca de 2,8% das fontes de geração, até 2015. Para conseguir uma maior sensibilidade do preço, em relação aos possíveis cenários de expansão do setor elétrico, foram comparados os cenários:
1. Com a expansão prevista pelo PDEE, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia;
2. Utilizado pelo ONS para formação de preço e despacho das usinas, referente ao mês de outubro de 2006;
3. Este mesmo caso de outubro, considerando restrições na oferta de gás natural.
Pelos resultados obtidos, mostrados na figura 1, observa-se que os riscos de suprimento da energia, no horizonte de análise, são levados a patamares muito acima dos 5% adotados como critério de suprimento no setor elétrico, particularmente quando são consideradas as restrições de suprimento de gás natural, mesmo que resulte favorável o projeto de importação de gás natural liquefeito, a partir de 2009.
Os preços da energia elétrica, relacionados ao custo marginal de operação, que denotam os preços de curto prazo da energia, apresentadas na figura 2, mostram que a tendência de elevação desses preços é considerável no horizonte de análise, justificando-se, dessa maneira, elevação na oferta de energia, a partir da cogeração com biomassa. A expansão da produção do setor sucroalcooleiro no Brasil para o atendimento de uma demanda crescente, tanto no mercado interno, quanto no mercado externo, possibilita a cogeração de energia elétrica para atendimento do Sistema Interligado Nacional – SIN.
Essa geração ocorre, exatamente no período de hidrologia desfavorável, o que significa escassez de energia e, portanto, elevação do preço, que ocorre de forma sazonal, todos os anos, no período das secas. Essa oportunidade de fornecimento de energia, nos momentos em que o preço está elevado, abre grandes oportunidades para o setor sucroalcooleiro. Um exemplo dessas oportunidades pode ser visto nos resultados do Leilão de Energia Proveniente de Novos Empreendimentos para início de fornecimento em 2011, onde se negociou cada MWh proveniente da biomassa a R$ 141,50 (preço médio percebido pelo vendedor).
Particularmente, a CPFL Brasil, empresa de comercialização de energia elétrica e prestação de serviços relacionados, tem obtido resultados relevantes, no processo de suporte à decisão da venda de energia elétrica dos cogeradores, nos leilões públicos de compra e venda de energia. Finalizando, cabe destacar que, contrariamente a outras fontes energéticas, na produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana, tanto a caldeira, quanto a turbina e o gerador, são projetados e construídos no Brasil. O combustível é, também, 100% nacional.