Tecnologia e inovação, duas palavras com muitas traduções e significados e que, cedo ou tarde, irão transformar o setor sucroenergético de uma maneira a agregar e a somar soluções; transformando usinas em grandes geradoras de inovação para o Brasil e o mundo, nosso setor, quase sempre conservador, está cada vez mais transformador, correndo contra o tempo e fazendo muito bem feito.
Vivemos e somos parte de um setor tradicional e conservador, que sempre olhou com muito receio para tecnologia e inovação no setor; no entanto gostaria de informar que “os tempos mudaram e de forma muito rápida”, tudo que fazíamos 10 anos atrás, hoje está mais simples e eficiente. Assim, o setor sucroenergético teve e tem de se reinventar o mais rapidamente possível, a fim de aplicar tecnologias para transformações de seus negócios. Passamos pelo processo de digitalização com os passos lentos, mas o processo de transformação está sendo cada vez mais acelerado. Com a digitalização, nosso setor foi lento e pouco ágil, por não ver muito valor agregado, afinal, se sempre fomos bons no papel, por que digitalizar?
Com a transformação, vimos surgirem inúmeras startups que vieram para quebrar paradigmas e nos mostrar como simplificar os processos e retirar de nossas plantas realmente o máximo. Com apoio de tecnologias e pessoas, deixamos de comandar um locomotivo por vez e, agora, orquestramos a malha ferroviária toda. Aprendemos com a geração passada e estamos simplificando com a atual, criando, assim, uma sinergia de ideias que, com toda a certeza, irá transformar o setor sucroenergético brasileiro.
Muito se fala de agro 4.0, mas inovação não passa somente pela compra de ferramentas mais velozes, máquinas mais automatizadas e/ou desenvolvimento de novos produtos; inovação e agro, juntos, passam por cultura e pessoas dedicadas em transformar e realizar, de maneira simples, atividades e processos complexos, desde o corte de cana (antes manual), há tempos, já mecanizado e, hoje, automático, com computadores de bordo recheados de telemetria e apontamentos automáticos, o que faz a diferença é sempre a cultura de pessoas em busca de fazer a diferença aplicando tecnologias.
Com toda essa mudança acontecendo no mundo, fomos obrigados a viver 10 anos em apenas 1, mas como isso? Eu lhe explico: se olharmos para as mais diversas tecnologias existentes no setor 5 anos atrás, poucas conseguiam penetração e utilização em massa junto ao mercado; muitos colocavam a culpa nos custos ou em qualquer outro para não investir, mas, com o advento da pandemia e da concorrência, todos se viram na disputa por maiores eficiências e, logicamente, redução de custos.
2020 foi o ano de disrupção, quando vimos plantas serem literalmente integradas em um ambiente agroindustrial, olhamos para perdas com oportunidade de crescimento e aplicamos IoT para medirmos nossa eficiência, machine learning para aprender o comportamento e IA (inteligência artificial) para prever os próximos passos; realmente foi preciso sair do papel e ir do conceito à produção. Começamos a ver uma enxurrada de iniciativas de usinas flex, não mais só dependendo de cana-de-açúcar, aproveitando-se, assim, de outras fontes de matérias-primas para uma maior eficiência e, dessa forma, abrimos os olhos para mais e mais oportunidades.
Enfim, o setor conseguiu entender que se conectar é preciso, e levar comunicação no campo pode transformar o seu negócio, mas não podemos nos esquecer da indústria, pois a integração é eficiência, e, assim, surgiram os gêmeos digitais, sistemas avançados de manutenção e PDCA digitais e planejados integrados automáticos de ponta a ponta, para podermos simular a cadeia completa e entregar um produto diferenciado ao cliente final.
Foi-se o tempo em que açúcar e etanol eram apenas commodities, hoje são produtos que podem também se transformar, sendo o açúcar no varejo, e o etanol em saneantes e álcool gel, podendo agregar mais e mais valor ao seu negócio. Com toda essa mudança, mais um vez as usinas (que sempre tiveram muitos dados), precisam trabalhar informações e criar seus Big Datas e datalakes, afinal, dados por dados não fazem a diferença em lugar algum, e, com conectividade, é possível levar informação de qualidade, em tempo real, não só a todo o campo, mas também para toda a indústria, aumentando, assim, a eficiência e reduzindo as perdas e preciosos pontos percentuais que podem valer milhões de reais.
Entramos de vez no ESG, descarbonização e buscamos, cada vez mais, startups para resolverem problemas crônicos, que, antes, eram deixados de lado, pois o mundo pede ajuda, e as metas globais de descarbonização estão batendo às nossas portas como uma oportunidade de transformação digital e do negócio, podendo gerar a oportunidade de geração de um novo produto baseado em tokerização, ou até em uma moeda virtual verde.
Já pensou? Um setor conservador como o sucroenergético comercializando crédito de carbono automaticamente em uma plataforma global? Isso já é possível e existe em outros países, mas não com um potencial tão grande como no setor sucroenergético do Brasil. Estamos falando de inovação gerando valor agregado direto no caixa da empresa e aumento do leque de produto das usinas, mas, para isso, precisamos acreditar em inovação e transformação digital e olhar tecnologia como aliada ao negócio.
Ainda temos o tal do blockchain, uma palavra para muitos desconhecidas mas que se tornará popular muito em breve, pois com ele é possível garantir toda a rastreabilidade e a transparência dos produtos, do plantio até a mesa do consumidor, no caso do açúcar. Com o apelo verde e os conceitos mudando, cada vez mais, produtos naturais ou com baixa quantidade de insumos recebem prêmios no mercado internacional e, agora, no nacional.
Assim, o blockchain soma-se à família de inovação para transformar o setor, pois nosso querido açúcar é um produto mundialmente conhecimento e com apelo verde, pois geramos milhares de toneladas de crédito de carbono em sua produção, e, com um simples QR Code, você poderá ver toda a cadeia produtiva de seu açúcar em segundos e pode ter certeza: o seu consumidor irá exigir a rastreabilidade através de block-chain e não mais de planilhas e papéis.
Em pleno 2021, sabendo de todo o potencial do setor sucroenergético, de toda a inovação aplicada na criação do nosso etanol e na eficiência do nosso açúcar, pois não podemos esquecer que somos líderes nesse setor, mas não líderes na aplicação de tecnologias, chegamos, assim, ao ponto em que o centro do setor são pessoas e tecnologias. Estamos em plena transformação, e aqueles que não inovarem, com o tempo, me atrevo a dizer, irão desaparecer, e, se você duvida, olhe para outros setores tradicionais e veja como estão ou se ainda existem.