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Gilberto Ribeiro Carvalho

Gerente de Desenvolvimento de Novos Projetos do Abastecimento Corporativo da Petrobras

Op-AA-14

Nossos clientes exigem qualidade, preço e segurança

O Brasil e os bicombustíveis: O crescimento ideal do setor e o tamanho do mercado mundial é um assunto difícil de ser discutido, devido ao momento de transição que estamos vivenciando hoje. No gráfico Matriz Energética Brasileira, podemos ver que o Brasil é um país muito especial, do ponto de vista de bioenergia. As fontes renováveis contribuem com 44,5% da nossa energia, que envolvem, além da cana, a madeira e outras biomassas, a hidroelétrica e outros renováveis.

Isto nos coloca em uma posição vantajosa, por termos adquirido experiência ao longo dos anos, no trato dessa questão, e é onde o mundo gostaria de estar hoje. Enquanto o Brasil dispõe de 45% de energia de fontes renováveis, o mundo tem, ao todo, apenas 14% de energias renováveis e 86% de não renováveis. Essa é a diferença entre o Brasil e o mundo, e é nesse segmento que podemos dar a nossa contribuição ao planeta, com a nossa experiência e trabalho.

Há de se observar que, muito do que já foi feito, ao longo desses anos, nesta área, foi desenvolvido pela indústria sucroalcooleira. O cenário torna-se mais interessante, quando a gente vê que o Brasil é importador de diesel, o que faz com que a produção de biodiesel seja considerada estratégica para o país.

O Brasil é um país promissor na questão dos biocombustíveis, pois tem terras disponíveis, em condições climáticas para uma produção altamente favorável. Podemos e devemos ter orgulho do nosso país e da situação brasileira. Tivemos a oportunidade de ter a nossa Bacia de Campos, que nos deu auto-suficiência em petróleo e hoje, temos uma nova oportunidade de ter a “Bacia nos campos da bioenergia”.

Mercado de etanol: O mercado de etanol vem crescendo de forma impressionante. Se analisarmos os anos de 2000 a 2006, o crescimento da comercialização do etanol foi da ordem de 66%, sendo que 3,3 bilhões com exportação, e 14,2 bilhões de litros, destinados ao mercado interno. Do total produzido, em escala mundial, apenas 6,3 milhões de m³ foram comercializados. Assim, constatamos que o mercado é crescente e está em formação.

A constatação de que o mercado está em formação é que nos leva à consideração de que estamos lidando com um momento de transição. Porém, no entendimento da Petrobras, temos todas as armas necessárias para fazer com que esta situação consolide-se, ainda mais, a nosso favor, à medida em que consigamos trabalhar este mercado de forma a fazer com que ele se vincule à produção do nosso país.

Para uma avaliação da potencialidade de exportação de etanol, analisamos, a seguir, alguns dos cenários mais destacados, com uma projeção para o ano de 2010. No Japão, se forem adotados, efetivamente, os 3% de mistura do etanol à gasolina, em 2010, haverá um consumo potencial de 1,8 milhão de m³, sendo que, como eles têm uma capacidade de produção muito limitada, esta mistura geraria um potencial líquido de importação de 1,7 milhão de metros cúbicos.


A União Européia tem uma diretiva, não mandatória, para uma mistura de 2%. Em 2006, conseguiu atingir apenas 1,6%, não atingindo a meta. Em 2010, há a intenção de se atingir 5,75%, e acreditamos que chegue a 7%, em 2015, e 20%, em 2020. Há de se observar que se trata de biocombustíveis de uma maneira geral, não somente de etanol e, em certa medida, podem dar preferência ao biodiesel.

Seu potencial de importação, em 2010, será da ordem de 2,7 milhões de m³, considerando a diferença entre potencial produtivo, que é de 6,625 milhões de m³, para um consumo total da ordem de 9,328 milhões de metros cúbicos. A China tem um mercado de menor expressão, porém, há algumas províncias nas quais é obrigatória a adição de álcool na proporção de 10%. Mas, já se estuda uma ampliação desta obrigatoriedade. Estimamos, para 2010, um consumo potencial de álcool, com mistura de 10%, de 7,05 milhões de m³. Por terem uma produção razoável, sobraria muito pouco para a importação, cerca de 700 mil metros cúbicos. Na América Latina, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia e Venezuela estão estudando adotar a mistura de 5% a 10%, com um consumo potencial de álcool, para 2010, de 2,6 milhões de m³.

Se, nos Estados Unidos, for realmente adotada a mistura de 10%, o mercado potencial será de 56,5 milhões de m³, contra uma produção projetada de 43,9 milhões de m³, gerando uma importação da ordem de 12,6 milhões de m³. Esses números precisam ser afinados, considerado o atual estado dos cenários, mas, de qualquer forma, poderíamos vislumbrar um total de 20,1 milhões de m³, para 2010.

Todo este mercado, que pode ser até um pouco maior, não está sendo devidamente aproveitado, em função dos problemas que envolvem todo nosso sistema de logística, quer as rodovias – com má qualidade de pavimento e filas intermináveis, quer as ferrovias – com a baixíssima velocidade média de 25 km/h, quer os portos – com congestionados e limitações de calado.


Plano estratégico da Petrobras: Sendo assim, há a necessidade, também, de se trabalhar a questão logística. A Petrobras identificou que pode contribuir no desenvolvimento do mercado e na questão logística, já que tem expertise no transporte dutoviário.

Em seu planejamento estratégico corporativo, explicitou isso, de forma muito clara, como um dos pilares estratégicos: atuar globalmente, na comercialização e logística de biocombustíveis, liderando a produção nacional de biodiesel e ampliando a participação no negócio do etanol.

Como estratégia, por segmento de negócio, ficou ratificada e detalhada a ampliação da atuação no negócio etanol, para que participe da cadeia produtiva nacional, visando o desenvol-vimento de mercados interna-cionais, com foco em logística e comercialização.

E, finalmente, o nosso alinhamento estratégico é desenvolver o refino de biomassa e a comercialização do combustível, com capacidade de processamento de óleo vegetal e exportação do produto.


Como meta para 2012, as estratégias de negócios prevêem a disponibilização de 938 mil m³/ano, em termos de plantas de biodiesel; 1,6 milhão de m³/ano, disponibilizados de processamento de óleo vegetal, em nossa operação de co-processamento, nos HDTs, as unidades de tratamento de refinarias pelo HBio (biorefino); e exportar 4,75 milhões de m³ de etanol, através dos nossos projetos de alcoolduto e de navios, especificamente destinados à exportação de álcool.

Alcoolduto: O alcoolduto insere-se nesse contexto de planejamento estratégico, dentro da lógica de se mitigar os riscos relativos à restrição logística. Temos, hoje, em operação, dois dutos que chamamos de RP18, que sai da Refinaria Replan, de Paulínia, e vai até o terminal de Guararema, seguindo nessa linha, até o Rio de Janeiro, para o terminal marítimo de Ilha D’Água.


Além disso, estamos trabalhando quatro linhas de investimento para melhorar o sistema logístico. O primeiro é investir no aumento de capacidade, cuja atual é de, aproximadamente 800 mil metros cúbicos por ano de exportação.

Estamos trabalhando para colocá-la na faixa de 4 milhões de metros cúbicos por ano. Também temos investimento na melhoria de qualidade, com a colocação de domos nos tanques, evitando a contaminação por água, no sentido de garantir a qualidade do álcool exportado. Outros investimentos que estão em andamento são para aumentar a flexibilidade do sistema e reduzir o custo operacional, a fim de garantir maior competitividade deste alcoolduto.

Adicionalmente, estamos em fase final do plano de negócios do alcoolduto, que sairá de Senador Canedo, e irá até o Terminal de São Sebastião, como vemos na ilustração. São 1150 quilômetros, saindo de Senador Canedo, passando por Uberaba, Ribeirão Preto e, em seguida, Paulínia.

A partir daí, será construído um novo duto, paralelo ao RP18, já existente, entre a região de Paulínia e Guararema, e então, o duto que já está em processo mais avançado, saindo de Guararema para São Sebastião. Esse projeto, além do alcoolduto, que deverá utilizar a faixa de dutos existentes, contará com expressivas melhorias no Porto de São Sebastião, e também nos centros coletores, ao longo de seu cumprimento, garantindo que o álcool seja coletado e escoado, de forma econômica e rentável, pelo duto. Adicionalmente, existe uma linha de 107 quilômetros, que sai de Santa Maria da Serra e vai até a Replan, cujo objetivo é coletar a produção, que eventualmente venha a escoar pelo Rio Tietê.


Partimos desta hipótese, porque já temos planos para Transpetro, a nossa operadora de logística, para operar barcaças no rio e, isso também está dentro do estudo, mas ainda não está concluído. Evidentemente, esta opção utiliza outros modais alternativos, para se chegar até este ponto de coleta do alcoolduto. Por fim, estamos dando início a um novo plano de negócios de um duto, que sai de Campo Grande e vai até o Terminal de Paranaguá. Ele será complementar a todo esse sistema e, junto a ele, teremos um poleoduto, que sai da Replan e coloca combustíveis até Cuiabá. Se todos os estudos demonstrarem viabilidade, ficaremos com um sistema Sudeste, Sul, Centro-Oeste totalmente integrado e garantiremos uma eficiente malha de exportação do etanol. Para a efetiva instalação desse projeto, temos dado ênfase às necessidades de dar garantias para os clientes internacionais, porque todas as operações são complexas e têm que ser casadas.

Na medida em que fazemos parcerias e gestões com empresas japonesas, para que sejam aprovadas as leis de colocação do álcool como mistura à gasolina naquele país, necessitamos dar reais garantias de estabilidade neste fornecimento. Neste cenário, é muito importante a condição de contratos de longo prazo. É também muito importante para gerar segurança, a utilização de escoamento, através de alcoolduto, que tem níveis de serviço bastante superiores aos demais modais, até porque os investimentos são relevantes e demonstram o peso que o Brasil está dando a esta linha de comércio.

A opção pelo alcoolduto é também importante na obtenção de Selos de qualificação ambiental, pois emite muito menos poluentes que qualquer outra opção de modal. A Petrobras não tem interesse em fazer esses projetos de forma unilateral ou sozinha. Nossa linha de trabalho é complementar a que está sendo feita, com o objetivo de contribuir para que a operação de exportação e de comercialização e o firmamento do Brasil neste cenário seja vitoriosa.

Nós queremos trabalhar em conjunto com o setor, tanto que estamos em parceria com duas empresas e, possivelmente, quando o projeto tiver um resultado mais efetivo, haverá a possibilidade de novas parcerias, principalmente, no setor, para que se garantam compromissos e se viabilize contratos de longo prazo. A intenção da Petrobras é operar em estreita cooperação com o setor sucroalcooleiro.

Acredito que possamos ter uma atuação sinérgica nesse mercado, com preços competitivos e eficiência em escala global, pois será demandado muito profissionalismo. O governo japonês, nossos clientes no exterior, exigirão qualidade, preço e certeza de suprimento. Esses são pré-requisitos para operar neste mercado. Há necessidade de se desenvolver solução logística e moderna apropriada, no mercado internacional. É neste ponto que a Petrobras percebeu a possibilidade de contribuir.

Há, também, necessidade de qualificação de mão-de-obra, com manutenção e desenvolvimento tecnológico do mercado doméstico do etanol, buscando custos competitivos.

Com relação ao desenvolvimento tecnológico, a Petrobras também considera que poderá contribuir, pois já estamos estudando o álcool de lignocelulose, no nosso centro de pesquisas. Continuaremos investindo no desenvolvimento do mercado internacional de etanol, melhorando a infra-estrutura logística e a pesquisa em novas tecnologias para produção do etanol, no processo de lignocelulose, que, na nossa visão, terá condições de entrar em produção de larga escala entre 2015 e 2020.