Vice-presidente da Brenco
Op-AA-16
É indubitável que existe, hoje, uma oportunidade para o etanol brasileiro transformar-se em commodity mundial. Trata-se, ainda, de um potencial, pois há uma série de obstáculos a serem enfrentados, que exigirão muito trabalho e cooperação. Mas, o fato é que há uma demanda por energia renovável em todo o globo, seja pelo alto custo do petróleo, por sua finitude e pelas incertezas geopolíticas que envolvem sua exploração, seja pela necessidade de defesa do meio ambiente, que não suporta mais os atuais patamares de emissões.
E, entre as fontes de energias renováveis, obviamente, o etanol tem mais qualidades, que as demais possibilidades envolvendo biocombustíveis. As vantagens vão desde o custo mais baixo, passam pelo menor impacto ambiental e pela segurança energética e chegam até a distribuição. O etanol é uma alternativa que já existe há mais de 30 anos, em um grande mercado que é o Brasil, com viabilidade comercial clara e que pode atingir uma grande escala em um prazo muito curto, com vistas à exportação e rápida commoditização.
Para isso, o país possui terras disponíveis, sem ter de desmatar, clima propício e tecnologia desenvolvida. Além disso, temos os custos mais baixos ao produzir etanol de cana-de-açúcar, podendo oferecer o produto de forma sustentável, garantida e de longo prazo. Não é por acaso que vemos o surgimento de novas usinas – são 30 apenas no Centro-Sul, neste ano – e de projetos de transporte para o etanol, por meio de dutos, de forma a estruturar seu escoamento, através de portos marítimos.
Dentre os novos players na área do etanol, está a Brenco – Companhia Brasileira de Energia Renovável, um projeto greenfield que vem sendo implantado, com base no tripé custo x confiabilidade x sustentabilidade. Trata-se do primeiro projeto de grande escala dedicado ao etanol, com o objetivo de atingir o mercado internacional.
A empresa está cultivando cana-de-açúcar em novas áreas, onde há grandes extensões de terras agricultáveis disponíveis para parcerias e arrendamento, nas fronteiras entre Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Projetos dessa natureza criam bases para se ter custo competitivo e para poder lidar com ciclos econômicos que, invariavelmente, levam a flutuações de preço.
Neste caso, optou-se pela instalação de usinas padronizadas, com alto grau de automação, a partir de uma tecnologia que confere eficiência operacional elevada ao negócio. O projeto em implantação compreende três pólos de produção, com um total de dez unidades de grande escala.
O primeiro pólo, Alto Taquari (MT)-Mineiros (GO), no qual estão sendo implantadas cinco unidades, encontra-se em pleno desenvolvimento, tanto na área agrícola, quanto na industrial.
A produção será iniciada no começo da safra 2009/2010, através de duas unidades instaladas nos municípios, que dão nome ao pólo.
O segundo pólo, Paranaíba (MS)-Itajá (GO), com três unidades, tem, por sua vez, partida prevista para a safra 2010/2011. Paralelamente à produção de etanol, serão gerados excedentes de energia elétrica, utilizando o bagaço e a palha, já a partir de 2009. Isso será possível, graças à colheita mecanizada, que será implementada em toda a área plantada.
Sem queimar a palha, a empresa dispõe de mais matéria-prima para a geração de energia, destinada não apenas ao consumo próprio, como também à venda ao Sistema Interligado Nacional. Cada unidade industrial da Brenco terá, inicialmente, capacidade de 50 mega-watts para a geração de excedentes por módulo, o que significa que, em 2015, a empresa terá um potencial excedente de 600 MW, ou o correspondente a mais de um quarto da usina Jirau, que será construída no Rio Madeira.
Com o futuro desenvolvimento do etanol celulósico, empresas deste tipo poderão diversificar o uso da matéria-prima (nesta altura, já incluindo a palha recuperada), para uma produtividade ainda maior. Também em 2015, a empresa processará 44 milhões de toneladas de cana ao ano e produzirá 3,8 bilhões de litros de etanol (1 bilhão de galões). Com isto, a Brenco deverá representar mais de 12% da produção total de etanol do Brasil, ou seja, será uma das maiores produtoras individuais do combustível no mundo. Além de agregar capacidade de atendimento ao crescente mercado nacional, a empresa propõe-se a ser um dos catalisa-dores na construção de um mercado global, seguindo rígidos critérios de sustentabilidade.
Além da colheita mecanizada, faz parte do projeto o controle das Áreas de Preservação Permanente, Reservas Legais e recuperação de áreas degradadas em fazendas sob sua administração, além da promoção de iniciativas similares na região, implantação de corredores ecológicos e a implementação de programas de segurança do trabalho e de educação ambiental, que, inclusive, já estão em desenvolvimento com as comunidades locais.
Uma diretriz fundamental é o envolvimento e conseqüente respeito à comunidade e aos trabalhadores. Os fornecedores são, preferencialmente, locais, o que tem provocado um impacto positivo nas economias dos municípios onde a empresa está se instalando e os trabalhadores fazem jus a benefícios, além das obrigações legais.
No entanto, a obtenção de um custo competitivo não pode se limitar à atuação na área de produção agroindustrial. Com um projeto de grande escala, é preciso considerar uma solução logística que fuja do crescimento vegetativo, ou seja, sair do patamar de produção local, para se integrar ao mundo. O sistema dutoviário revela-se como alternativa preferencial de transporte, tanto pela competitividade, quanto pelo alto grau de confiabilidade assegurado.
O duto é uma das soluções para que o setor tenha impactos ainda mais favoráveis na mitigação das emissões de carbono, evitando o uso de combustíveis fósseis e sobrecarga em rodovias e ferrovias. A rota escolhida, neste caso, conecta Alto Taquari a Santos, passando pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul (bases de Costa Rica e Paranaíba), Minas Gerais e São Paulo (bases de São José do Rio Preto e Paulínia), aproveitando o alinhamento dos pólos agroindustriais, a escala do projeto e a sua vocação exportadora, para viabilizar uma nova alternativa de transporte, aberta ao escoamento da produção do setor. Trata-se de um projeto de US$ 1 bilhão, para a construção de um poliduto de 1.120 km, de 8 a 16 polegadas de diâmetro, com seis terminais, sendo quatro recebedores (Alto Taquari, Costa Rica, Paranaíba e São José do Rio Preto), um recebedor/expedidor (Paulínia) e um exportador (Santos), com capacidade de 4 milhões de m³/ano. O poliduto, que será um dos mais extensos do país, representa um transporte mais limpo, isto é, de baixo nível de emissões, com custo significativamente menor, relativamente aos demais modais, e mais confiável.
Claro que um projeto dessa magnitude embute desafios consideráveis. Uma das questões críticas refere-se ao custo de implementação do projeto. Há outros investimentos em curso no Brasil e apenas a indústria do petróleo está destinando mais de US$ 20 bilhões ao ano em projetos, que competem por recursos para obras dessa natureza. Com isso, ocorre uma inflação nos preços dos serviços de empresas de engenharia e de equipamentos. Nos últimos cinco anos, os preços de construção de dutovias no Brasil subiram duas vezes mais rápido que nos demais países do continente.
Outro desafio é o prazo de entrega. A Brenco quer disponibilizar o duto, a partir da safra 2011/2012, período marcado por forte crescimento da produção e das exportações, tanto próprias, quanto de terceiros. Serão três anos de desenvolvimento do projeto pela frente, incluindo o prazo para a obtenção de licenças; isto nos leva ao terceiro fator crítico, que é o meio ambiente.
O duto será construído de maneira responsável, evitando danos ambientais. Em praticamente toda a sua extensão, o poliduto será enterrado e será privilegiada a utilização de áreas de passagem já desenvolvidas, principalmente em trechos que possam interferir em áreas de preservação ambiental. A opção pelo porto de Santos decorre da disponibilidade de terminais que podem ser expandidos e por permitir o traçado mais eficiente.
No longo prazo, através de novos investimentos e do descongestionamento das retroáreas, via alternativas dutoviárias, Santos pode-se tornar, à semelhança de outros grandes portos internacionais, umpólo para a entrega de etanol, devendo concentrar novos terminais com essa finalidade, com operações mais eficientes, para navios das classes middle-range e Panamax.
Por fim, projetou-se para o poliduto capacidade de transporte a ser oferecida a terceiros, principalmente produtores da região de influência do projeto, que poderão compartilhar os benefícios desta modalidade de transporte, seja para exportação ou para o mercado de Paulínia. Esta capacidade poderá, inclusive, vir a ser ampliada, em função de um interesse maior do que o originalmente projetado. O último objetivo é ter eficiência no transporte da produção do Sudeste e Centro-Oeste e fazer o etanol chegar, de forma competitiva, confiável e sustentável à porta do cliente, mesmo que ele esteja localizado em outro continente.