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Julio Maria M. Borges

Diretor da Job Economia e Planejamento

Op-AA-31

Um momento para reflexão

Quando estava sendo preparado o conteúdo de nosso próximo Seminário Anual (11o.), a ser realizado em março, deparamo-nos com uma oportunidade atípica para o evento, que pretende discutir, avaliar e sugerir tendências para o setor de açúcar e etanol no Brasil: a quantidade de questões não resolvidas ou avaliadas inadequadamente, neste momento, poderia tornar nebulosa a definição de tendências para o setor.

Por esse motivo, e pela primeira vez na Revista Opiniões, este artigo trará não só ideias sobre as perspectivas para os mercados de açúcar e álcool como também algumas questões que precisam ser debatidas e avaliadas para um posicionamento responsável.

Inicialmente, queremos ressaltar que o curto prazo apresenta obstáculos que precisam ser resolvidos. Por outro lado, o médio e o longo prazo apresentam condições que podem representar oportunidades e não ameaças. É o que veremos a seguir.

Mercados de curto prazo: Demanda potencial crescente de etanol hidratado combustível é algo muito positivo para o produtor. Isso assegura suporte para preços e destino para a produção. Cana em pé por falta de comprador está fora de cogitação. Mercado global de açúcar com excesso de oferta previsível para 2012 e 2013 é algo que incomoda o produtor e dá um pouco de tranquilidade para o cliente.

Por que só um pouco? Porque os estoques mundiais são baixos, e qualquer acidente climático que comprometa a oferta reverte o quadro de viés de baixa para os preços.
O mercado externo de etanol combustível oferece boa oportunidade de vendas para os EUA.

Nesse caso, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar, aceito como avançado, tem espaço no mercado americano e prêmio de qualidade ambiental em relação ao etanol de milho. Para o resto do mundo, a perspectiva de vendas é ainda restrita. Contudo, caminha numa direção promissora.

Que desafios tem o curto prazo?

 

  • O preço da gasolina na bomba. Apesar de ter aumentado para o consumidor final – em São Paulo, por exemplo, o preço da gasolina teve aumento de 12,5% nos últimos dois anos –, isso parece que não é suficiente para atender ao acréscimo de custos de produção de etanol nas usinas. Por outro lado, o Governo Federal tem usado a CIDE como instrumento para dar relativa estabilidade dos preços para o consumidor e não causar prejuízos para a Petrobras.


O mercado global de petróleo dará condições para a continuidade dessa política ou é hora de mudar?  
 

  • O financiamento do BNDES para expansão da área de cana mostra-se atrativo para o tomador do recurso e é suficiente para amenizar o déficit de cana que existe no momento. Que medidas adicionais de curto prazo se tornam necessárias  para novos investimentos no setor? Será que mais intervenção e regulação ajudam ou atrapalham? E a taxa de câmbio, que tem prejudicado o Brasil com intensidade maior que em outros países?
  • Como resolver a questão da perda de competitividade da indústria brasileira em nível internacional?


Mercados de médio e longo prazos: O crescimento da economia mundial é algo bastante provável. Neste momento, os mercados acionários do mundo todo ensaiam uma recuperação na cotação das ações, que tem como base essa expectativa. Um desastre na economia mundial levaria todos nós a uma situação impensável e, portanto, será evitada ao máximo.

A demanda de açúcar em nível global cresce aproximadamente quatro milhões de toneladas por ano. A demanda potencial de álcool combustível para mistura com gasolina é cerca de quatro vezes maior que a produção mundial. O Brasil é um candidato natural a atender a esses mercados. Projetos greenfield serão necessários para aumentar a oferta em busca de equilíbrio com a demanda.

Com relação ao petróleo, o mundo conta com a produção brasileira da camada pré-sal ou pós-sal. Quando se vai efetivar essa produção? E o aumento da eficiência energética? Novas fontes alternativas de energia aparecem no cenário para competir com o etanol e bagaço. A cultura de sustentabilidade toma conta gradualmente de atitudes e mentes e, com isso, vai pressionar por mudanças na matriz energética.   

Demanda e custos crescentes da produção agrícola irão comprometer a competitividade do etanol combustível e do açúcar do Brasil?

O balanço de tudo poderá ser uma resultante que irá favorecer a produção brasileira de açúcar e etanol. E cabe ressaltar: muito provavelmente, o crescimento do setor, daqui para frente, será mais cauteloso e menos veloz que aquele observado no período 2004-2008. O momento é de reflexão, e temos, hoje, os players do setor, todas as condições para decisões construtivas.