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Inayê Leticia Parente de Almeida

Analista Agrícola na Atvos

OpAA84

Biológicos: um caminho sustentável frente aos desafios agronômicos e climáticos
A produtividade potencial da cana-de-açúcar pode atingir até 381 toneladas por hectare, segundo a literatura. No entanto, a média nacional ainda gira em torno de 80 t/ha. Essa lacuna é reflexo de restrições fisiológicas (relacionadas à fenologia, fisiologia e genética da planta), ambientais (como disponibilidade hídrica, temperatura, CO? e radiação solar) e agronômicas (pragas, doenças, plantas daninhas e deficiências nutricionais).

Em um cenário  cada vez mais desafiador, marcado pelas mudanças climáticas e pela crescente demanda por sustentabilidade, o manejo adequado da cultura torna-se essencial para garantir a rentabilidade e a resiliência dos sistemas produtivos.
 
Ovos da broca-da-cana parasitados por Trichogramma galloi
Entre as práticas mais promissoras nesse novo contexto, destaca-se o uso de bioinsumos. Seu emprego tem-se consolidado como um aliado estratégico na busca por sustentabilidade, redução de custos, segurança operacional, aumento da produtividade e apoio à descarbonização das operações. Entre os principais insumos biológicos, encontram-se os agentes microbiológicos (bactérias e fungos), macrobiológicos (insetos benéficos), além de biofertilizantes, bioestimulantes e extratos de algas. Seus efeitos benéficos vão além do controle do alvo, promovendo o equilíbrio ecológico, a regeneração do solo e ganhos indiretos na qualidade do ambiente agrícola.
 
Desde a safra 2022/23, o uso de biológicos tem ganhado destaque no manejo agrícola da Atvos. Inicialmente adotado de forma pontual, os bons resultados obtidos levaram à expansão do portfólio. Atualmente, os bioinsumos são aplicados em 100% das áreas de plantio e corte de soqueira, além de integrarem estratégias de proteção de cultivo e práticas de agricultura regenerativa.

Durante o plantio, são utilizados Trichoderma, Bacillus e Azospirillum, com o objetivo de promover o crescimento radicular, suprimir patógenos e estimular a fixação biológica de nitrogênio. O uso de Azospirillum, por exemplo, tem permitido a redução de cerca de 17% na aplicação de fertilizantes nitrogenados, contribuindo diretamente para a diminuição da pegada de carbono das operações — um dos principais compromissos da empresa. Além do benefício ambiental, essa prática representa também economia financeira e ganhos de eficiência. Já no corte de soqueira, a combinação entre Bacillus, extrato de algas e Azospirillum busca acelerar a recuperação fisiológica da planta e reestruturar a microbiota do solo. Os resultados também se estendem ao controle biológico de pragas e doenças. Para a broca-da-cana são realizadas três liberações de Trichogramma associadas a uma liberação de Cotesia ou Tetrastichus. 

Já para a cigarrinha-das-raízes, o controle é feito com os fungos entomopatogênicos Isaria e Metarhizium. O Sphenophorus, por sua vez, é controlado com o nematoide entomopatogênico Steinernema ou com o fungo Beauveria. Para doenças como ferrugem alaranjada e estria vermelha, Bacillus apresenta ação preventiva e curativa. Paralelamente, a agricultura regenerativa também tem sido incorporada ao sistema produtivo da Atvos, com foco na restauração da saúde do solo e na promoção de uma produção mais equilibrada e resiliente. 
 
O uso de biofertilizantes contribui para a recuperação da microbiota, aumenta a retenção de carbono e otimiza o uso de insumos, com impacto direto em práticas alinhadas ao RenovaBio. Esse modelo de manejo tem favorecido o aumento da nota de eficiência ambiental da empresa e a emissão de Créditos de Descarbonização (CBio), já que os biológicos apresentam impacto nulo ou muito reduzido ao meio ambiente.

Os resultados dessa abordagem integrada já são evidentes. Entre as safras de 2021 a 2024, mesmo diante de adversidades climáticas severas — como períodos de seca e queimadas — a Atvos alcançou um aumento de aproximadamente 42% em sua produtividade média. Isso comprova que, mesmo em cenários desafiadores, é possível manter altos níveis de desempenho produtivo com responsabilidade ambiental e inovação técnica.

Dessa forma, a área de Experimentação Agrícola da Atvos tem papel central na validação e avanço dessas tecnologias. Por meio de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento, é possível testar novas soluções, adaptar práticas aos diferentes contextos das oito unidades operacionais do grupo e embasar tecnicamente as decisões agronômicas. 

Considerando as variações de clima, solo e altitude entre as regiões, esse trabalho garante que os manejos recomendados sejam de fato eficazes, adaptáveis e sustentáveis. Diante das exigências do mercado, dos impactos das mudanças climáticas e da necessidade urgente de práticas agrícolas mais sustentáveis, o uso de biológicos se consolida como uma alternativa viável, eficiente e responsável. 
 
Mais do que uma tendência, trata-se de uma transformação essencial para garantir a resiliência e competitividade do setor sucroenergético brasileiro — com ganhos concretos em produtividade, sustentabilidade e segurança para o futuro.