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Fernando Cesar Bertolani

Consultor da CSolos Mapeamento e Consultoria

Op-AA-48

Blocos de manejo para a cultura da cana-de-açúcar
No decorrer das últimas décadas, o setor sucroenergético passou por importantes transformações tecnológicas, apresentando notáveis avanços, tanto no segmento industrial como no agrícola. Dentre os principais avanços agrícolas, ressaltamos, neste artigo, a evolução na recomendação de variedades de cana-de-açúcar, bem como algumas tecnologias associadas a ela, especialmente os ambientes de produção e os blocos de manejo. Os programas de melhoramento genético dentro desse setor buscaram, ao longo dos anos, variedades mais produtivas e com maiores teores de açúcar, visando à produção de mais açúcar por hectare.

No entanto, em tais programas, os pesquisadores responsáveis pela coleta e análise de informações nos vários experimentos distribuídos no Centro-Sul do Brasil verificaram que as variedades de cana-de-açúcar apresentavam comportamentos diferentes, dependendo da região em que eram cultivadas. Nesse contexto, o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira, iniciou um estudo relacionando o comportamento das variedades de cana-de-açúcar com diferentes tipos de solo.

A partir desse estudo, foi desenvolvido o sistema de ambientes de produção, e, com isso, as variedades começaram a ser introduzidas no mercado com uma recomendação específica. Como resultado, as empresas que desenvolvem variedades passaram a indicar o tipo de solo e ambiente de produção em que elas deveriam ser plantadas.

Essa evolução ocorreu na década de 1990, sendo reconhecida pelo setor sucroenergético como um dos principais saltos tecnológicos na área agrícola das usinas, permitindo que o potencial genético das novas variedades de cana-de-açúcar que eram oferecidas aos clientes fosse explorado ao máximo. Para que as usinas atingissem esse novo patamar tecnológico, ficou ainda mais evidente a necessidade de que tivessem à sua disposição os mapas de solos e de ambientes de produção. 

Como consequência, aquelas que adotaram essa tecnologia adquiriram esses mapas para a grande maioria das suas propriedades rurais, o que possibilitou que a alocação de variedades fosse realizada utilizando o sistema de ambientes de produção. Com o uso dos mapas de solos e de ambientes de produção, os tomadores de decisão da área agrícola nas usinas passaram a perceber que esse material poderia ser utilizado também para o planejamento de outras atividades agrícolas, tendo como principais benefícios não só a redução de custo na área agrícola, mas também o aumento de produtividade de seus canaviais.
 
Atenta à demanda por um uso mais amplo dessa tecnologia, em continuidade ao sistema de ambientes de produção, inicialmente projetado pelo CTC, desenvolvemos o projeto de Blocos de Manejo, aprimorando o sistema. Para tanto, utilizamos como base os mapas de solos e de ambientes de produção, agrupando solos que possuem manejo semelhante e gerando os mapas de blocos com informações específicas de solos para cada bloco. Atualmente, as usinas têm à sua disposição essa diferenciada ferramenta de planejamento, que possibilita a obtenção de informações não apenas para o planejamento de variedades, mas também para outras atividades agrícolas, tais como:

a. adubação e correção do solo – indicação por bloco dos locais de amostragem, da necessidade de aplicação de gesso agrícola e do uso da fosfatagem;
b. preparo do solo na reforma do canavial – indicação por bloco da erodibilidade do solo e da restrição quanto à profundidade para o uso de implementos;
c. operações de colheita – indicação por bloco do risco de compactação, de arranquio de soqueira e de ocorrência de pedras ou cascalhos que possam danificar a colhedora;
d. aplicação de herbicida – indicação por bloco da textura superficial do solo para utilizar a dosagem adequada;
e. uso de subprodutos – indicação por bloco da prioridade de aplicação de torta de filtro e vinhaça; 
f. sistematização – indicação dos limites dos blocos para adequação dos terraços e da disposição dos talhões. As potenciais aplicações dos mapas de blocos de manejo apresentadas nas imagens em destaque, permitem também o planejamento integrado das diversas atividades realizadas na área agrícola das usinas, otimizando ainda mais tal planejamento. 

 
Importante enfatizar que os mapas de blocos de manejo são georreferenciados, o que permite que sejam inseridos em computadores de bordo de máquinas agrícolas para serem utilizados em aplicações de taxas variáveis de defensivos, adubos e corretivos, ou seja, esses mapas podem ser utilizados como informação básica para a aplicação de uma agricultura de precisão específica para a cultura da cana-de-açúcar. Em resumo, podemos concluir que, dentro de um panorama de evolução tecnológica das usinas de cana-de-açúcar, alinhado à busca de redução de custos e aumento de produtividade, o sistema de blocos de manejo é uma ferramenta de planejamento geradora de grande diferencial, pois fornece informações para várias atividades agrícolas, possibilitando a adoção do manejo adequado para cada propriedade rural, deixando de lado os “achismos” e trabalhando com informações precisas por talhões.