Professora da Esalq-USP e Pesquisadora do CEPEA
Op-AA-28
A incorporação de inovações tecnológicas e de sistemas mais eficientes de gestão tem exigido revisões contínuas nos modelos de custos do setor sucroalcooleiro. Até os anos 70, a cana era processada no Brasil com a função única de produzir açúcar, tendo passado por um processo de diversificação na industrialização que possibilitou o aproveitamento de seus açúcares também para a produção do etanol.
Ao longo da última década, observou-se a evolução de um novo paradigma para a cana, pautado no aproveitamento “integral” e eficiente não apenas de seus açúcares para a obtenção de produtos diversos, como combustíveis (etanol e outros), produtos químicos, plástico verde (PET), como também pelo aproveitamento da biomassa (bagaço e incorporação de palha) para a produção de energia térmica e eletricidade.
Nesse mesmo período, outra onda de transformações levou à incorporação da colheita mecanizada da cana. Em face da perspectiva de eliminação da queima no campo já em 2014, conforme estabelecido pelo Protocolo de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável do Setor Canavieiro no Estado de São Paulo, a introdução da mecanização da colheita da cana passou de possibilidade a necessidade real.
Em pouco tempo, no entanto, o que a princípio parecia um grande desafio abriu um leque de possibilidades, principalmente no que tange ao aproveitamento da biomassa e ao melhor gerenciamento do item de maior peso no custo de produção de cana, conhecido como CCT (corte, carregamento e transporte).
Pressionados pela velocidade com que avança o consumo final pelos produtos da cana, particularmente do etanol para fins carburantes, os produtores buscam equacionar o desafio de um problema que não é novo – a necessidade de rápida expansão na produção para atender à demanda –, porém ocorre em um contexto diferenciado, mais competitivo, que exige não apenas a quebra sucessiva de recordes de produção, a cada ano/safra, mas também capacidade para extrair o máximo retorno de cada tonelada adicional processada.
Nesse contexto, a mecanização vem-se apresentando como uma oportunidade, permitindo não apenas um incremento na velocidade com que a produção é processada, mas também a possibilidade de reforçar o volume de biomassa que chega à usina, em vez de queimá-lo no campo.
Logo se observou que os requisitos para uma transição bem-sucedida da colheita manual para a colheita mecanizada não se restringiam à capacidade de realizar investimentos elevados para a aquisição da máquina. É preciso saber operar a colheita mecanizada. E, para isso, parafraseando o Ripoli, “não existe receita de bolo”.
O setor sucroalcooleiro já detém conhecimento suficiente para conduzir a colheita mecanizada como um processo bem consolidado no âmbito técnico. Ainda existem discussões, no entanto, quanto à possibilidade de aumentar a eficiência econômica, reduzindo o período necessário para o pagamento do investimento inicial.
O melhor aproveitamento dos resíduos, principalmente através da incorporação da palha como matéria complementar ao bagaço na geração de bioenergia pelas usinas, apresenta-se como a alternativa mais imediata. Para as usinas, além de fonte adicional de receita, a cogeração de energia pode representar uma oportunidade de renovação da planta industrial, com investimentos em novas máquinas e equipamentos mais modernos e eficientes.
Análises já realizadas indicam que, aproximadamente, 50% da palha gerada podem ser retirados do campo sem prejuízo para as atividades agrícolas ou para o meio ambiente. Adicionalmente, evidenciam que o aproveitamento da palha como fonte de energia deverá resultar em significativos ganhos energéticos para a industrialização da cana-de-açúcar.
No entanto o transporte da palha para a usina – seja junto com a cana ou separadamente, na forma de fardos – precisa ser cuidadosamente planejado. Esse incremento ocorre por motivos diversos. Quando a palha é transportada para a usina juntamente com a cana, tem-se uma redução na densidade da carga, aumentando o custo de transporte por tonelada de cana.
Além disso, ao chegar à usina, a palha deve ser separada da cana e requer limpeza a seco, agregando operações que implicam aumento de custos. Uma opção seria o enfardamento da palha, contudo essa alternativa envolve a agregação de outras operações que acabam onerando o sistema, devendo-se observar também que as enfardadoras ainda não são avaliadas como plenamente eficientes, sendo uma restrição relevante o depósito de terra junto com o fardo.
O transporte da cana com a palha também implica custos, pois a palha concorre com a cana por espaço. Além disso, pode interferir no rendimento industrial e reduzir a quantidade de açúcar e álcool que pode ser produzida.
Existe espaço, portanto, para ganhos na administração eficiente da cadeia de oferta. Um dos principais desafios a ser superado é o equacionamento logístico eficiente para a transferência do produto de uma operação para a próxima. À medida que o produto evolui ao longo dessa cadeia, os custos aumentam, tornando estratégica a eficiência logística, que identifica operações efetivas em termos de custos e que assegura a qualidade do produto final.
Esse tem sido o foco atual das pesquisas, delineando cenários para simular resultados a serem selecionados. Vencido esse desafio, no entanto, o sucroalcooleiro brasileiro estará também preparado para o fornecimento de matéria-prima de baixo custo, essencial para a viabilidade dos projetos de etanol celulósico, o etanol de segunda geração.