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Marcelino Guedes F. M. Gomes

Diretor de Terminais e Oleodutos da Transpetro

Op-AA-16

Experiência Petrobras no transporte de etanol carburante

O transporte de etanol por dutos, no Brasil e na Petrobras, teve início na década de 80, em São Paulo, com a utilização do duto OSPLAN 24, entre a Replan - Refinaria de Paulínia, e o terminal de Guararema. Deste terminal, o produto atingia a região metropolitana de São Paulo, através do OSVAT 22, que liga Guararema a Guarulhos.

Posteriormente, com a entrada em operação do OSRIO, duto projetado especialmente para transporte de etanol, a região metropolitana do Rio de Janeiro também passou a ser abastecida por dutos. No sul, em meados da década de 80, passaram a operar com álcool os dutos Paraná-Santa Catarina (OPASC) e Araucária-Paranaguá (OLAPA).

A utilização destes dutos, transportando etanol, permitiu a consolidação de uma grande experiência, quanto ao tratamento de problemas relacionados à corrosão, à presença de água livre nos dutos, à incompatibilidade com relação a pinturas convencionais, sistemas de combate a incêndio, controle de interfaces, sistemas de medição, materiais de vedação/selagem, etc.

Naturalmente, algumas mudanças ocorreram neste mercado ao longo destes 30 anos, impactando enormemente o volume transportado, fazendo com que o transporte dutoviário não se processasse de forma contínua. O tempo transcorrido entre o Proálcool e a atual demanda levou a um período intermediário de estagnação, no qual parte da experiência adquirida foi descontinuada, gerando um esforço adicional para o seu resgate e sua utilização nos dias de hoje.


Atualmente, as operações de armazenamento e transporte de etanol são realizadas através do OSRIO, no Sudeste; dos terminais de Maceió e SUAPE e pelo sistema ORSUB, no Nordeste; e através do duto OPASC, no Sul. Pelo OSRIO, que faz parte do corredor de exportação do Sudeste, circula a maior parte da movimentação de etanol carburante – 100.000 m³, ao longo de 2007 - contra uma capacidade instalada de 600.000 m³/ano, limitada pela necessidade de movimentação de derivados claros de petróleo.

Para garantir a confiabilidade das movimentações de produto, tanto em termos de qualidade, como em termos de manutenção do prazo dos compromissos de entrega, são necessários o lastro do sistema e a operação exclusiva com etanol. A garantia da qualidade do álcool anidro, destinado à exportação, está sendo equacionada pela instalação de Domos, para reduzir a contaminação do produto com água de chuva.

Todo este conhecimento e cuidado com o transporte de etanol estão consolidados nos procedimentos e normas do sistema Petrobras. Entre os anos de 1986 e 2007, foram publicados mais de 210 trabalhos técnicos sobre o tema e emitidos mais de 40 procedimentos operacionais, sobre como movimentar e armazenar etanol carburante.

Temas ainda em Desenvolvimento pela Comunidade de Dutos:

 

  • Processo físico-químico e da eletroquímica da corrosão do etanol em dutos e tanques;
  • Especificação de tipos de coberturas (domos/fixos) em tanques de armazenamento de etanol;
  • Avaliação da coloração e causas de degradação em polidutos;
  • Avaliação da relação lubricidade/teor alcoólico nas misturas gasohol;
  • Metodologia para acompanhamento do PH e do aspecto do etanol durante o transporte;
  • Verificação do caráter dipolar do etanol, resultando em água livre no duto, decapagem leve da hematita (Fe2O3) e suspensão de particulados;
  • Critérios para pintura interna de dutos longos; maiores que 500 Km;
  • Avaliação do poder de ancoragem na parede do filme protetor de diferentes famílias de inibidores de corrosão;
  • Testes e certificação de transporte de E-10 e E-25 em dutos longos;
  • Avaliação de corrosão sob tensão em dutos e tanques com etanol carburante.

Dificuldades técnicas vislumbradas pelo mercado internacional: Os transportadores e operadores logísticos, nas instalações americanas, relatam diversas ocorrências de Corrosão Sob Tensão (em inglês, SCC – Stress Corrosion Cracking), problema que, ao longo de todos estes anos, não foi registrado no Brasil, mesmo em condições mais adversas que aquelas encontradas em território americano.

Por não ter o fenômeno da SCC aparecido nos 30 anos de experiência de operação de transporte de etanol, não foi desenvolvida pesquisa neste sentido, no Brasil. Com a suspeita da existência apontada por entidades norte-americanas, foi aberta uma linha de estudo pelo Cenpes - Centro de Pesquisas da Petrobras, que tem por objetivo a avaliação da susceptibilidade de SCC em aço carbono, quando imerso em etanol e mistura de etanol e gasolina.

Identificar o efeito da procedência do etanol, se de cana ou de milho – na ocorrência do fenômeno, será um dos resultados. Entre outras atividades, este projeto de pesquisa do Cenpes monitorará os estudos sobre os problemas de corrosão por SCC nos dutos e tanques dos EUA, causados com o etanol de milho. O DOT (US Department of Transportation), considera o etanol como um produto químico perigoso (Hazardous Materials), o que significa uma visão voltada para transportes de produtos de alto valor agregado, que incluem, por exemplo, o ácido sulfúrico e a soda cáustica.

Esta visão causa impacto, diretamente, na elevação dos custos de transporte e armazenagem do etanol do mercado de commodities nos Estados Unidos. Como resultado das reuniões realizadas com o DOT, a Petrobras foi convidada a participar da conferência “Ethanol Pipeline Technology Road Mapping”, nos Estados Unidos, cujo objetivo foi a confecção de um mapeamento de ações, estabelecendo, na opinião do mercado, quais seriam as maiores necessidades de desenvolvimento tecnológico e regulatório, para o desenvolvimento do transporte dutoviário de etanol nos Estados Unidos.

Diversas empresas americanas de dutos vêm manifestando, repetidamente, durante reuniões, o interesse em desenvolver parcerias com o sistema Petrobras, para a realização de pesquisas necessárias à melhoria logística do etanol, em função da experiência acumulada pela empresa. No dia 19 de dezembro de 2007, o presidente George Bush assinou o Decreto de Segurança e Independência Energética (Energy Independence and Security Act of 2007 – HR6), onde estabeleceu, entre outros pontos, os critérios para a concessão de auxílio financeiro federal aos projetos logísticos para etanol carburante.

De acordo com esta legislação, serão concedidos os seguintes valores de incentivos:

 

  • US$ 1.000.000 por ano para estudos de viabilidade de dutos de etanol (por estudo);
  • US$ 180.000 para construção de postos de gasolina (por posto);
  • US$ 20.000.000 para projetos piloto de duto (por projeto). Sendo que nenhuma empresa verticalizada de petróleo pode receber auxílios, o que não exclui operadoras logísticas independentes como a Kinder Morgan ou a Colonial Pipeline;
  • US$ 200.000.000 por ano, de 2008 até 2014, totalizando US$ 1,4 bilhão em auxílio, para projetos de dutos nos Estados Unidos. Apenas como referência, este é, aproximadamente, o custo estimado para a implantação do corredor de exportação Sudeste da Petrobras.

Recentemente, empresas americanas anunciaram a construção do duto para escoamento de etanol de 1.700 milhas de comprimento, interligando o estado de Iowa, área central do Cinturão do Milho norte-americano, com a Costa Leste - maior região consumidora dos Estados Unidos. O investimento está estimado em US$ 3 bilhões.

O esforço norte-americano, visando à utilização de sua malha dutoviária para o transporte de etanol, ficou caracterizado pelos recentes testes realizados pela Association of Oil Pipelines, que demonstraram a viabilidade do transporte de E10 por dutovia, sem que fosse constatado aumento da corrosão. Com base neste e em outros estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, os grandes operadores de pipelines estão adquirindo mais confiança para a realização de investimentos.

O crescimento do consumo de etanol nos Estados Unidos tem demandado a utilização do modal dutoviário, visto que os modais rodoviário e ferroviário não têm capacidade suficiente para atender às demandas projetadas. Neste contexto, a experiência desenvolvida no Brasil pela Petrobras, a única empresa com um histórico de mais de 30 anos neste tipo de operação, passa a ser muito interessante para oportunidades de negócios com investidores, no Brasil e no exterior.

Além disto, testes operacionais de transporte de etanol em dutos estão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos e, desta forma, novos conhecimentos serão consolidados, o que justifica um programa de pesquisa conjunto, que apóie o aperfeiçoamento do transporte de etanol, por via dutoviária, simplificando as operações, reduzindo custos e zelando pela qualidade do produto transportado.