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Jacyr da Silva Costa Filho

Diretor da Divisão de Cana-de-açúcar do Grupo Tereos

Op-AA-39

Incentivo a investimentos em novos modais

A “concorrência” com a logística de transportes da safra de grãos traz desafios para as empresas exportadoras de açúcar. O expressivo volume de produção que sai das lavouras de milho, soja e outros grãos para os caminhões, trens e navios – da ordem de 190 milhões de toneladas na safra passada – transfere vantagens comerciais incomparáveis para os operadores logísticos. O frete dos grãos chega a valer 25% a mais na época da colheita, na comparação direta com o transporte de açúcar.

Essa diferença acarreta um custo adicional para os produtores, sem contar que diminui a disponibilidade de fornecedores ao alcance de usinas e traders. Esse cenário comum dos últimos anos não deverá mudar tão cedo. Seu enfrentamento pressupõe a revisão e o aprimoramento das estratégias de armazenagem do açúcar produzido no País.

Um incentivo importante para tanto foi dado recentemente pelo Governo Federal, com a abertura de uma linha de crédito destinada à ampliação da capacidade da estocagem de açúcar. Ao desenvolver um bom planejamento de armazenagem e escoamento, as empresas do setor ganharão fôlego para enfrentar também os demais entraves logísticos presentes no Brasil, que são conhecidos por todos.

Vale lembrar que o Brasil conta com fatores bastantes favoráveis à produção agrícola (terras, água, clima e tecnologia). Assim, a produção cresce a uma velocidade superior aos investimentos em logística, ocasionando gargalos. No caso do açúcar, o “gargalo” é ainda mais complexo, pois a variação dos preços da commodity no mercado internacional não esteve, em períodos recentes, à altura dos aumentos do frete, sobretudo do frete rodoviário, que subiu entre 7% e 10% e chegou ao patamar de 15% na safra 2013/2014. Seria interessante para o setor açucareiro se os investimentos futuros em infraestrutura ajudassem a abrir novos modais de transporte hidroviário, bem como a fortalecer o ferroviário.

Nos dias de hoje, a matriz de transporte, que privilegia o uso de caminhões, apresenta um custo altíssimo na cadeia produtiva. O sistema portuário deficiente, igualmente, pesa de forma decisiva na perda de competitividade do açúcar, impedindo o crescimento sustentável do setor.

É fato que ainda temos grandes desafios para as soluções ideais desejadas por todas as cadeias produtivas. A Abag - Associação Brasileira do Agronegócio, avalia que, para que não se percam ganhos de produtividade realizados pelo agronegócio, será necessário investir pelo menos 2% do PIB nos próximos anos. Rússia, Índia e China, por sinal, aplicam 7%, 8% e 10% de seu PIB na área, respectivamente. Esse descompasso torna as despesas de transporte o grande inimigo do campo e da rentabilidade dos produtores.

Um levantamento da Fundação Dom Cabral indica que o custo logístico do Brasil corresponde a aproximadamente 12% do PIB, contra 8% dos Estados Unidos. De acordo com o mesmo estudo, essa diferença de quatro pontos é equivalente a cerca de US$ 85 bilhões (aproximadamente R$ 200 bilhões). Enquanto a infraestrutura não avançar na medida do necessário, as empresas do setor sucroenergético não terão outro caminho senão reestudar suas estratégias de armazenagem e buscar precisão no planejamento logístico.

A Guarani, controlada da Tereos Internacional, deu passos importantes nesse sentido, com a aquisição de participação no terminal Teapar, no Porto de Paranaguá-PR. Em sua unidade Tanabi-SP, a empresa concluirá, em breve, a construção de um novo terminal, com capacidade para estocar 80 mil toneladas de açúcar. Na área de logística, os profissionais e especialistas da companhia adotaram novos modelos de negócios com fornecedores e operadores modais, incluindo a celebração de contratos de médio e longo prazos com empresas que atuam na matriz rodoferroviária.

Para finalizar, reforçamos que o setor deve atuar como incentivador de investimentos no segmento ferroviário, um modal que, uma vez desenvolvido e modernizado, trará ganhos de competitividade ao açúcar brasileiro, marcadamente o paulista. O estado de São Paulo dispõe, hoje, de uma estrutura ferroviária satisfatória, com malha e armazéns intermodais de qualidade que, se alvo de investimentos contínuos, ampliará, em relativo pouco tempo, a participação dos trens no transporte rumo aos portos. Neste momento de incertezas enfrentado pelo setor sucroenergético, a reativação dos ramais ferroviários de Barretos e da Alta Paulista certamente traria uma grande contribuição para dar mais competitividade ao escoamento da produção de nosso açúcar.