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Célia Araújo Galvão

Pesquisadora do CTC

Op-AA-32

Nosso etanol de segunda geração

O etanol tem sido alvo de níveis de atenção sem precedentes devido ao seu valor como combustível renovável alternativo à gasolina, sua eficiência e sustentabilidade. As perspectivas mundiais de expansão da produção e do consumo de etanol, aliadas à recente eliminação dos subsídios a essa indústria nos EUA, representam oportunidades para o etanol de cana-de-açúcar em termos de participação estratégica no mercado internacional.

Atualmente, a produção brasileira de etanol baseia-se exclusivamente no caldo da cana, o chamado Etanol de Primeira Geração. Porém, o surgimento de novas tecnologias tem permitido a produção do Etanol de Segunda Geração, aquele obtido a partir do aproveitamento de biomassas lignocelulósicas.

No caso brasileiro, pretende-se fazer uso dos dois terços da cana que hoje ou não são utilizados (caso da palha que permanece no campo após colheita) ou não são utilizados em plenitude (caso do bagaço excedente gerado nas usinas). Os primeiros estudos do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, sobre esse tema datam de 2007, ano em que foi firmada a parceria com a Novozymes, empresa líder mundial no mercado de enzimas.

Essa aproximação antecipava que a rota escolhida pelo CTC para a produção do etanol de segunda geração era a enzimática, o que também já demonstrava a legítima preocupação do Centro em disponibilizar ao mercado uma tecnologia ambientalmente amigável.

Entre 2007 e 2008, anos marcados por intensos estudos exploratórios e desenvolvimentos em escala de laboratório, o CTC iniciou a construção in loco de uma Unidade de Desenvolvimento de Processo, que permitiu, entre 2009/2010, a realização de testes em uma escala já considerada semi-piloto. No início de 2011, os parâmetros de processo obtidos após dois anos de desenvolvimento no CTC foram validados durante um mês em uma planta piloto localizada no exterior, mediante processamento de 30 toneladas de bagaço de cana.

Com o amadurecimento e a consolidação da tecnologia em questão, o CTC assinou, ainda em 2011, um acordo de cooperação com a Andritz Brasil para o desenvolvimento de equipamentos e engenharia necessários à construção da primeira Planta de Demonstração de Etanol de Segunda Geração do Brasil, a ser instalada em uma usina de açúcar e etanol do Brasil. A previsão é chegar a 2013 com a planta montada e iniciando operação, tendo como objetivo o lançamento comercial dessa tecnologia entre 2015 e 2016.

O grande diferencial da tecnologia CTC reside no fato de ter sido projetada para permitir total integração com a estrutura existente nas unidades produtoras, visando à otimização dos custos de instalação e operação. Além disso, essa tecnologia está fundamentada no conceito do aproveitamento de bagaço e palha, que resultará da implantação definitiva da colheita mecanizada, da proibição da queima da palha da cana e da tendência de utilização de caldeiras de alto desempenho.

Desse modo, espera-se aumentar a produção de etanol em 40%, considerando um cenário conservador, a partir da mesma quantidade de matéria-prima processada, ou seja, será possível aumentar a produtividade do canavial sem expandir a área plantada, elevando a produtividade de etanol por hectare. Traduzindo em números, significa passar dos atuais 85 litros/ton cana para valores de, no mínimo, 120 litros/ton cana já no início de utilização dessa tecnologia.

É importante lembrar que a corrida pelo aproveitamento de biomassas para produção de biocombustíveis não é privilégio do Brasil. O aumento da demanda mundial por energia e o esgotamento progressivo das reservas de petróleo têm motivado EUA, Europa, Japão e China a investirem pesadamente em P&D de biocombustíveis de segunda geração, com base em resíduos agrícolas e algas.

No entanto o CTC identifica que as vantagens competitivas que o Brasil tem hoje estão relacionadas ao fato de o País dispor de um processo já consolidado para produção de etanol a partir do caldo da cana (primeira geração), à disponibilidade no ambiente industrial de uma fração significativa da biomassa da cana, na forma de bagaço, e também ao fato de o Brasil já ser um caso de sucesso na utilização de biocombustíveis na sua frota de veículos, contando com uma rede de distribuição de etanol implementada de norte a sul do País.

Com a tecnologia CTC para produção de etanol de segunda geração, será colocado à disposição do setor sucroenergético um processo que leva em consideração tanto as peculiaridades da cultura de cana-de-açúcar quanto a disponibilidade de utilidades e infraestrutura nas unidades industriais.

Desse modo, pretende-se manter o Brasil na dianteira dessa maratona por aumentar a produção de um produto que já apresenta alta qualidade, baixo custo de produção e sustentabilidade ambiental. Assim, esta que, há bem pouco tempo, era considerada uma tecnologia para o futuro, já está bem perto de se tornar realidade.