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Cássio da Silva Cardoso Teixeira

Gerente de Marketing para a América Latina da Basf

Op-AA-47

A recuperação da produtividade
Para início de conversa, preciso dividir com os leitores uma preocupação com a rentabilidade do setor a partir de 2018. Trata-se de um desafio real chamado “gasolina”, que tem o potencial de interferir negativamente na recuperação econômica que o setor observará nos próximos dois anos. Observo que os fundamentos desse próximo cenário já estão sendo semeados e, por isso, acredito que o setor deva trabalhar para mitigar os seus efeitos nesse período de 2 anos até 2018.
 
A indústria sucroenergética brasileira projeta um consumo total de etanol da ordem de 40 bilhões de litros em 2025. Esse crescimento vertiginoso dos atuais 26 bilhões de litros está corretamente amparado pela expectativa de ampliação da frota de veículos flex suportado por políticas anticíclicas de estímulo ao crédito. Esse cenário, notadamente otimista, considera como regra geral que o País continuará em sua trajetória de pleno emprego (sic) e baixo endividamento das famílias.

O cenário traçado é hoje certamente discutível, porém, para atender a essa demanda, o setor fez uso dos instrumentos de crédito disponíveis ao longo dos últimos anos e captou dívida securitizada em dólar, promovendo uma expansão de capacidade industrial aliada à adoção de novas tecnologias. Porém observo que, entre os anos de 2015 e 2016, a curva da expectativa teve um ponto de inflexão. O câmbio se depreciou perto de 50% e estrangulou a geração livre de caixa dos principais grupos.
 
O alívio parcial ficou por conta do aumento dos preços do açúcar no mercado internacional e do etanol, atrelado ao preço da gasolina, que observou a volta da Cide. Temos, então, desenhado o cenário atual que me preocupa – um equilíbrio instável de um setor que busca o alongamento de uma dívida indexada respaldado pelas boas margens do açúcar e do etanol. Esse equilíbrio estará presente pelos próximos 2 anos, mas o que acontece a partir de 2018? O que podemos fazer para mitigar uma eventual ameaça?
 
Eu acredito que temos um grande ponto de atenção na dinâmica do endividamento frente à geração de caixa das atividades alcooleiras. Considerando que o preço do petróleo permaneça oscilando entre os US$ 30 e US$ 40 por barril e que os Estados Unidos aumentem gradativamente sua taxa de juros, teremos uma situação conjuntural desafiadora. 

Em um período que irá até as próximas eleições, o País reunirá todas as condições para uma nova rodada de rebaixamento de sua nota de crédito devido à dinâmica da relação dívida/PIB, que alcançará, facilmente, os 75%. O câmbio se depreciará novamente, mas, dessa vez, a depreciação virá acompanhada da queda do preço do açúcar devido à boa safra potencial da Tailândia de 2016. Ainda, a inflação que estará pressionada pela inércia dos preços administrados poderá ser “amenizada” com a baixa do preço da gasolina, mantida, hoje, artificialmente cara para a recomposição de caixa da Petrobras. Nesse resumo multivariável, estão lançadas as condições para:
 
  • aumento do custo de captação de dívida, que se traduzirá em uma menor atratividade para o alongamento da dívida atual; 
  • estabilidade com viés de baixa no preço do açúcar vindo da recomposição dos estoques; 
  • e, principalmente, queda no preço da gasolina devido ao controle dos preços administrados em ano eleitoral.
A Petrobras, muito embora busque ativamente uma política de correlação com os preços internacionais, ainda estará à mercê da política fiscal errática. Quais as oportunidades que devemos aproveitar para nos fortalecer frente a esse cenário? O setor é competitivo por natureza, porém isso não significa que ele deva lutar sozinho e ser deixado de lado na construção das políticas industriais do País. Pelo contrário, ele deve ser protagonista.

O primeiro passo desse protagonismo se dá pelo reforço de suas entidades representativas, em todas as esferas. Sem uma voz política ativa, a economia setorial não reverterá a tendência de resgatar as quase 80 usinas que estão em recuperação judicial. Destaco as ações da Unica como catalisadora da imagem que o setor passa para a sociedade, com a maior divulgação das externalidades positivas do papel do etanol na economia brasileira, além dos esforços regionais de diversas outras entidades ligadas ao setor.

 
O segundo passo no escopo dessa retomada está da porteira para dentro. Eu destaco ações individuais focadas nos pilares sociais, ambientais e tecnológicos da indústria. Como ponto de partida, o setor pode, imediatamente, ampliar a qualificação do emprego, não através de cursos ou educação formal, mas através da adoção de tecnologias que permitam a redução do custo produtivo. Na verdade, o progresso em si já é um sinal positivo. A adoção tecnológica é uma das faces visíveis da ambição pelo progresso que fomenta a capacitação individual.
 
A adoção tecnológica, em sua imensa maioria, possui uma externalidade positiva que se reflete no aumento da produtividade e na redução de custos. Conhecendo as ferramentas que estão disponíveis para as áreas agrícolas, sobram tecnologias que se revertem em aumento de longevidade do canavial, que reduzem a complexidade do manejo com sustentabilidade e que reduzem o custo unitário produtivo, ampliando, assim, a rentabilidade. Isso sem adentrar em tecnologias para ampliar a eficiência dos processos industriais. Trata-se de uma lógica microeconômica simples, mas que ainda encontra resistência em sua adoção.
 
O desenrolar do próximo biênio será fundamental para separar os bons profissionais que constroem estratégias sólidas em um ambiente de incerteza. A ameaça à retomada da dinâmica de crescimento é real, porém tão reais são as possibilidades de enfrentamento dessas ameaças. Sobreviverão os mais fortes, com estratégias consistentes e parcerias sólidas em busca do aumento de produtividade dos canaviais.