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Dib Nunes Junior

Presidente do Grupo Idea

Op-AA-52

Só a sacarose salva...
Há mais de dez anos, o setor canavieiro passa por uma grande transição de técnicas e procedimentos. Nesse período, por exemplo, saímos de 25% de colheita mecanizada para próximo a 99% nas principais regiões produtoras do Centro-Sul. O uso do fogo para limpeza da cana também foi praticamente banido, e, hoje, o maior volume da cana moída nas usinas é de cana sem queima prévia, a chamada cana crua – uma matéria-prima totalmente diferente daquela que era entregue nas usinas anos atrás.
 
À medida que a mecanização da colheita cresceu, observou-se um significativo aumento das impurezas vegetais e minerais e uma queda acentuada dos teores de sacarose na matéria-prima, conforme demonstra o quadro 1 – Colheita mecanizada e qualidade da matéria-prima.  
 
No mesmo momento em que isso ocorreu, notaram-se outros importantes acontecimentos, como um enorme desgaste das máquinas colhedoras, o aumento das perdas de cana no campo, maior arranquio de soqueiras de cana, redução da longevidade dos canaviais, aumento significativo da compactação do solo e, principalmente, uma significativa perda de faturamento. 
 
Tudo isso está interferindo no resultado final das usinas, com significativas quedas nos valores de ATR e de produtividade agrícola, e o pior, com o aumento dos custos de produção. Além disso, o problema se estende para dentro da indústria, onde a redução na extração e o excessivo desgaste dos componentes da fábrica são muito expressivos, fato esse que já foi detectado pelo aumento dos gastos com manutenção industrial e redução da vida útil de equipamentos e peças. Há visíveis prejuízos em moendas, bombas, dutos e, principalmente, nas caldeiras afetadas pelo cloro, enxofre e sílica, que vêm das impurezas. 
 
Na área agrícola, há ainda outros prejuízos relacionados com a redução nas densidades de cargas no transporte de cana e com o aumento do custo da tonelada colhida pelas colhedoras que, em sua grande maioria, trabalham fora das especificações dos fabricantes, com sobrecarga de potência e velocidade, levando a um maior número de quebras e paradas frequentes.
 
O quadro 2 – Necessidade de transporte em função do aumento das impurezas vegetais na matéria-prima –, mostra os efeitos das impurezas vegetais na densidade de carga e na quantidade de cana que se transporta em um dia de trabalho de um rodotrem. Fica evidente que, quanto mais impurezas vegetais, maior será a necessidade de equipamentos, pois há significativa redução de peso na carga média.
 
Pesquisas da Consultoria Assiste constatou que, com 8.000 horas trabalhadas (cerca de 4 anos), as colhedoras já gastaram, em reparos e manutenção (RM), o equivalente a 1,5 máquina nova. Os gastos médios anuais com RM se aproximam de R$ 350 mil por máquina. Na Austrália, os gastos são três a quatro vezes menores, pois lá as máquinas não trabalham no mesmo ritmo. Aqui, no Brasil, as usinas e grandes produtores forçam demais as máquinas para aumentar a produtividade e reduzir custos.
 
As frotas nem sempre estão dimensionados na exata necessidade de colhedoras e raramente possuem máquinas em stand by. Quando, no meio da safra, a cana começa a apresentar redução de suas produtividades, os produtores começam a forçar ainda mais as máquinas para manter a moagem diária. É nesse momento que acontecem os maiores problemas, como o aumento significativo de arranquio de soqueiras, pisoteio excessivo, além do aumento de perdas de cana e de impurezas na matéria-prima. 
 
Quanto mais forçam as máquinas, mais elas quebram e menos produzem. Como consequência, teremos aí um aumento de gastos com RM, atingindo, por ano, médias equivalentes a um terço do valor de uma máquina nova e, dependendo da idade das mesmas e da qualidade da manutenção, as quebras e os gastos se tornam ainda maiores.
 
Como resolver isso e ainda ganhar sacarose?
 
A resposta é a seguinte: as empresas, já no planejamento inicial, precisam fazer um dimensionamento de necessidades de colhedoras e transbordos pensando nos momentos mais críticos da safra e não na média de rendimentos obtidos no ano anterior. Depois, precisam aprender a pensar que o teor de sacarose pode ser maximizado com maior limpeza da cana. Trabalhar fora das especificações dos fabricantes tentando extrair muito mais das máquinas está levando aos produtores perdas “invisíveis” enormes.  
É muito comum se encontrarem áreas com tiros curtos, não sistematizadas e niveladas adequadamente, máquinas trabalhando com baixa rotação nos extratores de limpeza da cana, pensando em economia de energia. Além disso, é comum também os operadores acelerarem as colhedoras acima dos 4 km/hora até em cana de menor produtividade. Isso só aumenta o prejuízo dos produtores, pois colhem uma matéria-prima de qualidade inferior, arrancam touceiras, aumentam o custo de manutenção e, o pior, reduzem significativamente as produtividades agrícolas. 
 
Os erros de planejamento de colheita e as perdas geradas por não respeitar as características das variedades são outros problemas que estão trazendo graves prejuízos. Muitos produtores enviam alto índice de matéria verde (partes da cana que não são colmos) para as usinas pensando em vantagens com ganhos de peso, mas se esquecem de que o ATR vai ser penalizado e de que a cana entregue terá um menor valor. Uma coisa não compensa a outra. O ATR vale mais. 
 
Para verificar quais são os itens de maior influência no faturamento das empresas canavieiras, elaboramos uma análise de sensibilidade, na qual aumentamos e diminuímos entre 5% e 15% os principais custos de produção, desde a formação do canavial, tratos, colheita e transporte (CTT) e arrendamento, e comparamos os resultados com os ganhos de produtividade agrícola e o teor de sacarose (ATR), alterados na mesma proporção.  
 
Esse estudo mostra que, com pequenos ganhos no teor de sacarose, o faturamento agroindustrial se expande significativamente. Ganhos de produtividade também alavancam o faturamento, mas não na mesma intensidade que o ATR. Para melhorar o teor de sacarose, não são necessários grandes investimentos, enquanto, para se obter ganhos nos demais fatores de produção, é preciso muito mais que simples mudanças de procedimentos, ao contrário do que ocorre com o teor de sacarose.

Ressalte-se que, nas caríssimas operações de colheita e transporte, os gastos estão “travados”, e por isso se exigem muito mais esforços  para se conseguir poucas reduções no custo de produção de cana. Se o produtor focar na qualidade de serviços, respeitar os limites das colhedoras e, principalmente, buscar uma matéria-prima mais limpa, pode-se afirmar que os sofridos produtores terão, com toda a certeza, um melhor faturamento por unidade de produção.

Nenhum outro insumo, operação agrícola ou tecnologia utilizada na produção canavieira pode trazer mais retorno financeiro do que a maximização do teor de sacarose. Pensem nisso e iniciem um plano de melhoria contínua, tendo o aumento do teor de sacarose como o principal objetivo, pois cremos que só o aumento no teor de sacarose nos salvará das dificuldades atuais. 
 
A busca pela qualidade da matéria-prima e pelo teor de sacarose exigirá dos loucos por rendimentos maior respeito aos limites das máquinas e aos canaviais. 
 
O caminho é por aí.