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Aline Cristine Zavaglia

Pesquisadora e Fitopatologista do CTC

Op-AA-56

Biotecnologia e o controle integrado de pragas e doenças
A cultura da cana-de-açúcar vem sendo expandida para diferentes regiões e condições edafoclimáticas. Os grandes desafios são aumento da produtividade e longevidade dos canaviais nos mais diversos cenários, sendo as pragas e as doenças fatores que influenciam no alcance desses objetivos.

Para o controle de pragas e doenças, é de extrema importância a modernização do pensamento, olhar para o futuro, sem esquecer os aprendizados do passado. Nessa linha de raciocínio, convido vocês a refletirem sobre o assunto. O CTC, com o Programa de Melhoramento Genético de Cana-de-açúcar Convencional (PMGC), dedica grande parte de seus esforços para obter variedades resistentes às principais doenças. Na etapa de hibridização, os genitores são escolhidos levando em consideração critérios de doenças. 
 
Nas fases iniciais, antes de ir ao campo, os seedlings são submetidos a uma seleção, na qual são testados para resistência à ferrugem marrom (Puccinia melanocephala) e à ferrugem alaranjada (Puccinia kuehnii); essa seleção é realizada com todo o rigor, em uma casa-de-vegetação com cerca de 1200 m2, com umidade e temperatura controladas, onde é aplicado inóculo infectivo de ambas as ferrugens. 
 

Anualmente, são inoculadas centenas de milhares de seedlings, avaliados individualmente, a fim de levar para o campo genótipos resistentes. Ao longo das etapas de seleção, a avaliação de doenças é contínua, com critérios rígidos em relação às doenças. Nas fases finais, é realizado um novo ensaio, onde os genótipos são testados para avaliar resistência às doenças carvão (Sporiosorium scitamineum), mosaico (Sugarcane mosaic virus - SCMV e/ou Sorghum mosaic virus - SrMV), escaldadura-das-folhas (Xanthomonas albilineans), amarelinho (Sugarcane yellow leaf virus - ScYLV), mancha-de-curvulária (Curvularia inaequalis) e novamente as ferrugens marrom e alaranjada. Com isso, o PMGC busca desempenhar, da melhor forma possível, o seu papel em disponibilizar variedades produtivas e com resistência genética. 
 
A resistência genética tem sido uma importante opção para o controle de doenças, mas não deve ser a única, é necessário o controle integrado de doenças e pragas. Além do controle genético, é importante aplicar outras medidas, como controle cultural (Roguing) e uso de mudas sadias. Essas práticas diminuem significativamente a incidência de carvão, mosaico, escaldadura-das-folhas, raquitismo-das-soqueiras (Leifsonia xyli subsp. xyli) e podridão abacaxi (Thielaviopsis paradoxa).
 
O roguing é o controle cultural aplicado em viveiros, onde a função é eliminar plantas indesejadas, como misturas varietais e plantas doentes, diminuindo, assim, a disseminação das doenças, já que carvão, escaldadura e mosaico são importantes doenças sistêmicas disseminadas, também, por mudas contaminadas.
 
O futuro chegou para a cana-de-açúcar. Com a tecnificação da cultura e a colheita mecanizada, tivemos inúmeros ganhos, porém novos problemas: antes, com a queima da cana, era realizada a queima de formas biológicas de pragas e doenças, assim se fazia controle; hoje, enfrentamos sérios problemas com pragas e doenças consideradas menos importantes no passado, como cigarrinha e Colletotrichum falcatum. 
 
O fungo Colletotrichum falcatum causa a doença podridão vermelha, também chamada de antracnose da cana-de-açúcar. Conhecida na Índia como “câncer da cana-de-açúcar” (2º maior produtor mundial da cultura), a doença causa grande impacto na produtividade, com secamento completo de colmos e grandes perdas aos produtores. O CTC, em suas diversas frentes, como fitopatologia e comercial, vem acompanhando áreas com relatos da presença do fungo.
 
Em todos os locais, com cerca de 35 usinas visitadas de 2013 a 2018, foi constatado que a presença do fungo estava associada a algum outro fator, como presença de pragas. A associação às pragas, atrelada à palhada remanescente dos cultivos anteriores (a qual cria um ambiente propício para multiplicação do fungo), favorece o aumento do inóculo em quantidade e em diversidade, o que, somado, está fazendo com que essa doença ganhe importância.

A praga com maior associação ao Colletotrichum falcatum é a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), e, juntos, realizam o que denominamos complexo broca-podridão. Estima-se que as perdas por broca sejam de R$ 5 bilhões por safra.  Onde há broca, há o complexo: a broca, ao formar suas galerias, abre porta para o fungo, e isso causa a inversão de sacarose, que gera perdas significativas nos processos industriais.
 
Entre as medidas de controle, a biotecnologia é uma grande aliada para a resolução dos problemas no cenário atual. Os transgênicos, conhecidos como OGMs (Organismo Geneticamente Modificado), representam uma solução real da engenharia genética para o controle de pragas. O CTC, pioneiro nessa inovação, lançou a primeira variedade OGM resistente à broca, denominada Bt.

Essa medida de controle está sendo introduzida em mais de 50 usinas na safra 2017/2018. Levantamentos iniciais comprovam a eficácia da tecnologia, uma vez que os campos Bt apresentaram 0% de infestação de broca, enquanto as áreas de controles vizinhas apresentaram até 15% de infestação.
 
O setor requer variedades convencionais com resistência genética, mas também inovações, como os OGMs. A pesquisa é dinâmica e constante, além de outras variedades OGMs com a tecnologia Bt para o controle de broca, que devem ser disponibilizadas ao mercado nas próximas safras. Com isso, aplicando nossos conhecimentos do passado, aliados às inovações do futuro, que já se faz presente, podemos obter, cada vez mais, o controle de pragas e de doenças e garantir a produtividade e a longevidade de nossos canaviais.