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Ismael Perina Junior

Produtor Rural

Op-AA-58

É hora de reconstruir!
Ao longo desses últimos anos, tive a oportunidade de vivenciar e participar ativamente do segmento agropecuário e, principalmente, de assuntos relacionados ao setor sucroenergético, onde, como representante da Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil), a participação em fóruns do setor, tanto nacionais como internacionais, foi uma constante. Com certeza, um grande aprendizado. Da mesma forma, a participação junto a agentes públicos estaduais e federais teve a mesma constância e, nesse aspecto, tenho convicção de que as decepções foram enormes. 
 
Como decisões de um governo sem preparo podem atrapalhar tanto um setor, e, confesso, nesses últimos anos, foi demais. Tantas canetadas sem pé nem cabeça prejudicaram um dos setores mais importantes do agronegócio brasileiro, destruindo-o em grande parte e colaborando para que a produção permanecesse em pequeno declínio nesses últimos anos.

Essas ações fizeram com que os mercados de açúcar e etanol, os principais produtos da cana-de-açúcar, tivessem enormes distorções, afetando a decisão com relação ao mix de produção de açúcar, provocando grandes excedentes, em detrimento do etanol, que assistiu à sua participação no consumo despencar em relação à gasolina, jogando no lixo ganhos sociais e ambientais conquistados e trazendo consequências nefastas à economia, ao emprego e às empresas. Isso afetou sobremaneira os investimentos na área agrícola e a atenção a ela propriamente dita, fazendo com que a produtividade agrícola caísse a patamares bastantes baixos. 
 
E é nesse contexto que gostaria de traçar alguns comentários. É obvio que mudanças em nossa política serão o ingrediente principal para essa nova fase. Antes disso, quero comentar que, com este novo governo que assumirá o País nos próximos dias, acreditamos numa grande melhora. O Presidente eleito, Jair Bolsonaro, está trabalhando cuidadosamente para a montagem de uma equipe de ministros que tenham competência para gerenciar suas áreas de maneira eficaz.

Até o momento, suas escolhas vêm agradando aos vários segmentos da sociedade. Com trabalho de transição já em ação, esperamos que o novo Presidente, já nos primeiros dias de governo, traga credibilidade aos mercados, trazendo mais tranquilidade para trabalharmos, e que a economia e o emprego voltem a patamares mais interessantes.

Especificamente para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a escolha da deputada Tereza Cristina é recebida por nós com muito entusiasmo, pois trata-se de uma pessoa com vasta experiência nos campos da agropecuária como produtora, como técnica, cuja formação de engenheira agrônoma lhe dá essa competência; como Ex-secretária de Agricultura do estado do Mato Grosso do Sul, traz a experiência de comando em área do executivo e, finalmente, como parlamentar e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, o conhecimento suficiente para desenvolver um grande trabalho de sinergia entre os poderes. Desejo-lhe grande sucesso.
 
Especificamente com relação ao setor, essas melhorias no âmbito governamental são os ingredientes perfeitos para que o desenvolvimento reapareça. Essa visão mais mercadológica, olhando fortemente para a diminuição do peso do Estado, saindo de empresas que não têm que ser administradas pelo Estado, certamente colocará ânimo ao mercado e refletirá em vários setores. Ao Estado cabe, por exemplo, dar condições de implementar projetos como o RenovaBio, instrumento amplamente discutido e que tem que ser colocado em prática o mais rápido possível, dando oportunidade de grande ganho de eficiência na produção. 
 
Voltando à questão da produção, esperamos dar a nossa contribuição de “reconstruir” canaviais mais produtivos e melhorar nossa competitividade em relação a alguns outros produtos e produtores que se aproximaram de nossas vantagens. A partir daí, é com a gente. Um dos pontos sobre o qual tenho pregado muito é que precisamos dar mais atenção aos nossos canaviais. Nessa turbulência toda, muitos assuntos são tratados com exaustivo empenho nas planilhas e nos escritórios, mas a correspondente no campo não tem sido bem conduzida. Voltar um pouco e montar estruturas com visão multidisciplinar no efetivo trabalho do campo tem que ser uma constante.
 
Muitas empresas produtoras segmentaram a área agrícola em grupos de trabalhos, e a convergência de todos está um pouco prejudicada. Passa a ser importante, nessa hora, pessoas que consigam administrar equipes coesas. Temos, hoje, uma série de problemas no cultivo da cana-de-açúcar que precisam ser atacados de frente, entre eles a melhoria da colheita mecanizada, o controle de pragas e de doenças, em que a atenção deve ser redobrada, novas tecnologias de formação de canavial já disponibilizadas e pouco usadas, fertilizações mais adequadas com uso de novas formulações e formas de utilização, entre tantas outras. Mas, talvez, um dos mais importantes pontos a serem trabalhados diz respeito à pesquisa e ao desenvolvimento. Nessa fase muito difícil que vivenciamos, as pesquisas foram praticamente abandonadas. 
 
Não podemos viver a velha máxima: “Um deixa pro outro e o outro deixa pro um”. É hora de unirmos forças, concentrarmos esforços, inclusive na arrecadação de fundos para administrarmos essas pesquisas, e criarmos diferenciais que outrora foram importantíssimos para chegarmos aonde chegamos. Não podemos ficar presos à pesquisa e ao desenvolvimento de novas variedades somente, imaginando que serão suficientes para alavancarmos nossa produtividade.

Temos muito a fazer, mas certamente seguindo uma frase muito repetida pelo presidente Bolsonaro de que “o governo não atrapalhando já faz muito” e procurando realizar com afinco nossas tarefas de casa, certamente vivenciaremos dias melhores num futuro próximo.
 
Para fechar, voltando à política, há anos que, a cada eleição, me sentia muito mal com os resultados, pois tinha a convicção da linha distorcida da ação dos eleitos, e, nessa última, sinceramente, no meu entendimento, voltam as oportunidades de avançarmos. Avante! “É hora de reconstruir.”