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Rodrigo Rodrigues Vinchi

Diretor de Tecnologia Agrícola da ATVOS

OpAA66

A era da agrointeligência é irreversível
Em um setor secular, cuja trajetória se confunde com a própria história dos agronegócios no Brasil, a aceleração da implantação de novas tecnologias agrícolas registrada nos últimos cinco anos pode ser considerada relativamente recente. Não por acaso, o setor é tido como tradicionalmente conservador. O que teria mudado para que a inteligência no agronegócio da cana fosse impulsionada?
 
Definitivamente, a necessidade de aumentar a competitividade foi o combustível que determinou mudanças no planejamento de investimentos das empresas. E é justamente o mindset empresarial que pode ser sido a principal barreira para a transformação tecnológica no setor. 
 
Com as margens de resultados cada vez mais achatadas, as empresas precisaram reestruturar suas operações para aumentar a eficiência. Assim como a expansão da automação industrial favoreceu o surgimento dos Centros de Operações Industriais (COI) dentro das unidades sucroenergéticas, com a evolução e adoção de tecnologias embarcadas em tratores, plantadoras, colhedoras e caminhões, surgem os Centros de Inteligência Agrícola (CIA). 

Iniciativas de otimização agrícola a partir da transformação digital conquistaram espaço definitivo nas estratégias. São inquestionáveis os ganhos de produtividade e desempenho a partir de uma gestão ágil e integrada que, por sua vez, só é possível a partir da coleta, organização, centralização e análise de bancos de dados e a conversão em informações essenciais.

Somadas à sistematização de processos e ao monitoramento em tempo real, temos aliados significativos para ações imediatas. No caso da Atvos, por exemplo, o piloto do Projeto Cubo, implantado inicialmente em duas unidades, registrou redução do custo por tonelada de cana transportada em R$ 1,84.

Isso representa R$ 34 milhões de economia por ano-safra, em média. Melhorar o custo fixo gera vantagens financeiras no curto prazo. Além disso, no dia a dia agrícola, as equipes precisam lidar com inúmeros fatores que influenciam nas tomadas de decisões. Com soluções de inteligência que agregam os dados e correlacionam essas variáveis todas, as margens de erro são reduzidas, e os decisores podem analisar com mais segurança os diferentes cenários que se apresentam e, assim, agir com mais precisão para obter a melhor performance.

O monitoramento e o controle das principais pragas que habitam as lavouras canavieiras sempre foram críticos. Com armadilhas conectadas a softwares, o manejo tornou-se muito mais sustentável frente ao formato tradicional, que era manual, exigindo a mobilização de um grande efetivo dentro dos canaviais, em condições desfavoráveis. 
 
As estratégias de controle são desenhadas a partir do cruzamento de dados que permite a definição das circunstâncias e formatos mais adequados para intervenção. O uso de drones em 100% da lavoura é uma meta viável, aumenta a confiabilidade e eficácia das ações no monitoramento e controle de pragas e, principalmente, reduz a exposição das equipes a riscos.
 
A curva de adaptação das lideranças na utilização de novos recursos está cada vez menor, acompanhando também a evolução das interfaces, mais responsivas e amigáveis, adequadas à realidade do campo. Para operações geograficamente dispersas, em que cada localidade tem características tão específicas, o grau de personalização que a ferramenta permite certamente acaba determinando a taxa de adesão dos gestores. 

A praticidade é outro aspecto fundamental para que uma nova ferramenta seja bem-sucedida. Visualização de mapas e painéis, com atualização diária e automática, integradas a informações geoespaciais e dados históricos precisam estar disponíveis a um toque no 
celular. Se as ferramentas não auxiliam na solução de problemas rotineiros, maiores são as chances de que caiam em desuso. 

A digitalização do monitoramento da lavoura está demandando novas habilidades e criando funções inéditas no setor. Há alguns anos, não se imaginaria ter profissionais certificados como pilotos de VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) junto à Agência Nacional de Aviação. O investimento na capacitação e preparo desses novos profissionais é indiscutível diante da possibilidade de percorrer 500 hectares por dia, identificar falhas com precisão e acompanhar a evolução das medidas adotadas a partir de imagens com resolução de três centímetros por pixel.
 
A utilização de ferramentas inteligentes é uma realidade. A conectividade no campo, porém, ainda não. Particularmente em operações localizadas nas chamadas novas fronteiras agrícolas. De fato, existem alternativas que tornam possível às empresas driblar as dificuldades, mas, em geral, implicam recursos adicionais.

Aprimorar a abrangência e a qualidade da infraestrutura de telecomunicações no meio rural segue sendo uma necessidade do setor. Somente assim, conseguiremos usufruir o máximo potencial das tecnologias embarcadas. Sem dúvida, o agronegócio pode fomentar essa discussão que, consequentemente, também contribuirá para o desenvolvimento social das regiões onde atuamos.

O processo de melhoria de desempenho é contínuo. Muito em breve, teremos implementadas soluções de inteligência capazes de integrar totalmente a cadeia produtiva – a escolha da variedade a ser plantada, qual o momento mais adequado para se colher essa cana e o melhor mix de produtos a ser feito a partir dessa matéria-prima.

Precisamos mensurar com rigor o desempenho das tecnologias disponíveis. Analisando o cenário atual, o determinante é que o entendimento sobre as forças disruptivas e sobre as necessidades de mudança está consolidado e é irreversível.