Superintendente da Alcopar - PR
Op-AA-09
O setor sucroalcooleiro nacional, como se sabe, vem passando por um célere processo de expansão. Em vários estados, novas plantas estão sendo instaladas e muitas outras se encontram em estudo. As oportunidades que surgem nos mercados nacional e internacional fazem com que a produção de álcool e açúcar, principalmente, seja incrementada também através da modernização e ampliação das indústrias já existentes.
Nunca se viu tantos investimentos e a perspectiva é que esse cenário perdure ainda por vários anos. Afinal, sem contar o Brasil e os Estados Unidos, onde já é produzido e utilizado intensamente, o etanol está apenas começando sua participação como mistura à gasolina, em vários países. A demanda que se anuncia, assim como ocorre com o açúcar, é imensa.
O consumo mundial de gasolina atual está na faixa 1,17 trilhão de litros por ano. Se for adotada uma mistura de 10% de etanol na gasolina consumida no mundo - percentual absolutamente realista para os dias de hoje, necessitaríamos de 117 bilhões de litros de álcool/ano para esta adição. Este número representa 7,5 vezes a produção atual brasileira.
Se considerarmos o crescimento do mercado internacional de açúcar, que surgirá com a nova política de subsídios da Comunidade Européia, já determinada pela Organização Mundial do Comércio, teremos um acréscimo de 4 milhões de toneladas de açúcar. Utilizando como números referenciais a produção de 80 toneladas de cana por hectare e de 80 litros de álcool por tonelada de cana, para atendermos estes dois potenciais mercados, teríamos a necessidade de plantar algo em torno de 20 milhões hectares.
Se por um lado esta necessidade representa 4 vezes a área hoje ocupada pelos canaviais destinados à produção de açúcar e álcool combustível, por outro representa apenas 20% das terras absolutamente abandonadas, sem nenhuma benfeitoria, cultura ou até mesmo pastagem. Toda essa corrida não pode, no entanto, atropelar algumas questões primordiais.
Uma delas é o desenvolvimento sustentável, se bem que o setor vem investindo cada vez mais em práticas que denotam sua preocupação e consciência, no que refere à preservação do meio ambiente, em especial os solos, águas e florestas, bem como sua integração com os demais segmentos da atividade humana.
No Paraná, as quase três dezenas de unidades existentes desenvolvem uma série de projetos ambientais, muitos deles em parceria com o próprio governo do estado, ensejando perspectivas alentadoras, em relação à perfeita harmonia do setor sucroalcooleiro, com o meio em que se insere. Isto acontece também, certamente, em outras regiões do País.
Portanto, vale insistir: o desenvolvimento sustentável precisa ser o caminho a ser perseguido nessa série de novos empreendimentos. Não se pode, na pressa de aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado, implantar projetos que não se coadunem com aquele objetivo.
Da mesma forma, a expansão das lavouras de cana-de-açúcar vem ocorrendo de forma a potencializar a economia das regiões onde está inserida, uma vez que elas têm avançado, principalmente, sobre solos degradados, onde se praticava uma atividade pecuária incipiente.
Um exemplo disso é o oeste paulista: velhas pastagens, de baixíssimo retorno econômico, estão sendo substituídas por canaviais, oferecendo assim uma nova opção de renda às propriedades, além de turbinar a vida de cidades que já não tinham perspectivas, e gerar muitos empregos.
Não concordamos com a afirmativa feita por algumas pessoas, de que a expansão do setor irá adentrar novas fronteiras: ao analisar o território brasileiro, vamos comprovar que existem, hoje, 820 milhões de hectares de terra, dos quais 220 milhões ocupados por pastagens, 62 milhões com agricultura e 102 milhões, praticamente abandonados.
A expansão, vale repetir, dá-se, principalmente, em áreas de pastagem, uma vez que tempos atrás eram necessários entre 4 e 4,5 anos, para um boi chegar ao abatedouro. Hoje, com o novilho precoce, o tempo foi reduzido para 18 a 22 meses. Só com a metade da área poderemos produzir o mesmo volume de carne e destinar o restante para outras culturas, inclusive a cana.
Inicialmente temos que assegurar a competitividade da produção de nosso estado, de forma sustentável. A operação de uma usina em uma região é o que se pode chamar de dádiva: todos saem ganhando, inclusive o meio ambiente, com a maior atenção ao solo, por exemplo, que deixa de ser tão vulnerável à erosão; há rápidas mudanças de paradigmas, que levam a uma transformação extremamente positiva, sob o ponto de vista do gerenciamento dos recursos naturais, sem falar da motivação e da mudança de mentalidade em todos os níveis sociais, diante das oportunidades profissionais.
Nos últimos anos, com a rápida expansão, tem havido escassez de mão-de-obra, principalmente, nessas regiões pecuárias, o que levou os fabricantes de máquinas e equipamentos a se adaptarem, oferecendo produtos especializados para a mecanização dos canaviais, sistema que representa, de certa forma, um avanço, sob o ponto de vista da proteção do meio ambiente.
Entretanto, paralelamente, temos que pensar nos milhares de trabalhadores que hoje dependem dessa atividade. É crucial que a sociedade brasileira desenvolva programas de qualificação dessa mão-de-obra, preparando-a para outras atividades. Pois o que temos observado, da parte de alguns pseudo ambientalistas, é uma pressão absurda sobre o setor produtivo, sem se importar com o ser humano que, a nosso ver, deveria ser o foco principal.