Diretora Executiva da Associação Lua Nova
Op-AA-13
A Associação Lua Nova nasceu no ano de 2000, com o desafio de utilizar a maternidade como nosso elixir transformador, desenvolvendo talentos, descobrindo potenciais de jovens vidas, escondidas atrás da falta de oportunidade, das dificuldades e de histórias marcadas pela ausência e pela tristeza. Jovens mães, que desenvolveram o talento de sobreviver a situações de violência, abuso, exploração, prostituição, drogas e pobreza, podem transformar não somente suas vidas, como também quebrar paradigmas, mudando o olhar que se tem delas.
A grande mola propulsora da Lua Nova é a convicção de que a maternidade é um dom e ninguém tem o direito de impedir que ele seja exercido, uma vez que cada vez que nasce uma criança, filho de uma jovem em risco, o ciclo de marginalização e a história de exclusão repetem-se. No Brasil, o número de jovens grávidas aumentou em 15% desde 1980, cerca de 700 mil são mães, a cada ano, no país; 27% dos partos feitos pelo SUS, em 1999, foram de jovens de 10 a 19 anos; deste total, 1,3% tinham de 10 a 14 anos; e, passado menos de uma década, 40% da população carcerária do Brasil eram filhos de adolescentes.
No começo, muita coragem, vontade e determinação, mas percebemos que o desafio somente seria realizado após uma cuidadosa gestação e um acompanhamento constante de todas as fases das quais nosso “bebê” necessitaria, antes de nascer. Buscamos a quebra do isolamento, a vivência da realidade e do entorno social. As jovens e seus filhos enfrentam a vida cotidiana de modo responsável, assumem as dificuldades e convivem com as contradições, sem fugir ou se submeter passivamente.
Com as mães, estabelecemos parcerias, são sujeitos e protagonistas, não vistas como assistidas, mas sim como parceiras do trabalho. Tornam-se personagens principais do processo como um todo, elas devem decidir participar da proposta, decidir continuar, decidir sair e se transformar. Por meio desta parceria, criamos propostas, ações, projetos, numa visão de longo prazo, ao invés de focar apenas o aqui e o agora, ou somente o passado.
Propiciamos que assumam e vivenciem as próprias escolhas, mesmo que representem um desafio para a equipe. Acreditamos que para um real processo de transformação, a “troca” é um mecanismo essencial. Desta forma, são estimuladas a assumir sua responsabilidade no processo, bem como a contribuir com o desenvolvimento do outro e da comunidade em que vivem.
Os educadores e terapeutas estabelecem vínculos, indispensáveis para que os jovens repensem a própria vida: aceitar os novos modelos de vida, propostos por meio do caminho comunitário; desmontar o estilo anterior de vida, e, portanto, mudar e crescer em direção a uma autonomia progressiva, que exige vontade e convicção.
Afinal, nossa proposta não pretende normatizar a vida da jovem e seu filho, mas sim possibilitar que estabeleçam comparações, hierarquizem riscos e então tenham a liberdade de fazer suas opções. O respeito pelas escolhas e desejos impõe-se como valor fundamental da relação. Não nos propomos a apontar à jovem qual é a sua falta, o que ela não sabe ou o que julgamos ser o melhor para sua vida, e sim proporcionar espaços para que ela possa descobrir e refletir acerca de seus desejos e motivações e construir, com o suporte da equipe pedagógica da instituição, formas de concretizá-los.
É necessário trabalhar com o concreto. A geração de trabalho e renda revela-se uma condição essencial para a conquista efetiva de um novo projeto de vida. O dinheiro é um instrumento que demonstra competência, poder e capacidade. Por isto, acreditamos que deve ser inserido nas ações do processo de transformação. Nesse sentido, desde 2001, montamos pequenos negócios com a premissa de oferecer recursos às jovens, por meio de seu trabalho.
Inicialmente, servem para que possam aprender o processo de trabalho, as regras para produzir e trabalhar em equipe. Aos poucos, transformam-se em empreendimentos administrados pelas próprias jovens, que compartilham a renda gerada. Este é um ponto fundamental: toda a renda do empreendimento vai para as parceiras envolvidas, pois a instituição mantém-se com a captação de recursos.
Além de renda, percebemos que a conquista de moradia era outra ação concreta significativa. Desenvolvemos, em 2005, assim, uma tecnologia que auxilia na construção de casas por jovens mulheres. Além de baratear o custo da moradia, a iniciativa demonstra, simbolicamente, o potencial destas jovens de poder morar e criar seu espaço com seu filho, tijolo por tijolo.
Hoje são, em média, 140 mães e 197 crianças, que compartilham conosco este processo de construção conjunta de novas propostas de vida e de criação de novos modelos de promoção a estas jovens famílias. Qualquer trabalho de transformação social tem que ocorrer na interação com outros. Como já dissemos, a principal parceria é aquela que estabelecemos com a população atendida: as próprias jovens.
Mas, desde o início, nos demos conta de que não conseguiríamos promover sua inserção social, se não atuássemos também com a comunidade. Nenhum programa de inserção surte efeitos, sem a parceria de uma rede de apoio local. Nosso processo de construção metodológica tem a parceria e a ação em conjunto como ferramenta fundamental.
Todos os nossos princípios estão pautados na autonomia, no reconhecimento dos nossos potenciais e de outros (pessoas ou instituições) e na otimização destes potenciais por meio de troca. Buscamos, assim, vivenciar a colaboração diariamente, oferecendo nossos talentos e recebendo o talento dos inúmeros parceiros, que hoje fazem a Lua Nova acontecer.
Acreditamos que uma boa idéia é aquela que permite que outras idéias insiram-se, reforçando cada vez mais a nossa identidade. Esta postura evita o estrelismo e possibilita a troca e a construção de um fazer compartilhado e construtivo. Permite também uma constante revisão no nosso agir, assim como recursos difíceis de serem adquiridos por si só.
Sabemos ser impossível realizar a nossa missão de maneira efetiva, trabalhando isoladamente. A desproporção entre a capacidade humana e a econômica da Lua Nova e os resultados que pretendemos atingir, obriga-nos a buscar competências complementares. Entendemos que a nossa capacidade de expansão está intimamente ligada ao estabelecimento de parcerias, visto a amplitude da causa com a qual atuamos (assistência, educação, renda, moradia).
Sendo assim, só foi possível crescer e manter a qualidade, a partir de parcerias estratégicas como a Ashoka, World Child Foundation, Sesi e Sebrae, Faculdade de Engenharia de Sorocaba, Senai, Unesco, Ong Ação Moradia, Rede Interação, Instituto Elos, Sorocaba Refrescos, Petrobras, Camargo Correa e Grupo Splice. Escolher trabalhar no setor cidadão, apesar de empolgante e desafiador, exige ousadia, seriedade, criatividade e, principalmente, profissionalismo, uma vez que pretendemos a efetiva realização de nossa missão e abraçamos nossas causas, como fazemos com nossos bebês.