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Otávio Henrique de Souza Tufi

Consultor Sênior da Datagro para cultura canavieira

Op-AA-41

A implantação das novas tecnologias

Refletindo sobre o tema desta edição da Revista Opiniões, caminhamos sobre duas vertentes, uma que nos leva a relembrar as nossas usinas de trinta anos atrás, quando tínhamos o uso intensivo da mão de obra rural desde a implantação dos canaviais até a sua colheita, e hoje, quando a realidade difere substancialmente com o uso maciço da mecanização agrícola.

Também puxando na memória, nos lembramos de outra realidade totalmente diferente, na qual as usinas não eram somente formadas pelo parque industrial e pela estrutura agrícola, mas eram consideradas microcidades, com as residências dos funcionários, campos de futebol, clube recreativo, cinema, igreja e tudo que pudesse trazer bem-estar às famílias que ali residiam. Com isso, existiam fortes ligações entre os funcionários e a empresa. Havia um vínculo maior que tão somente o empregatício.

Hoje, a falta desse vínculo, juntamente com a expansão massiva do setor nos últimos anos, impacta diretamente na nossa atividade, trazendo-nos a missão de investirmos na formação de funcionários provenientes das cidades próximas e de atividades diferentes da canavicultura, com a necessária adoção de capacitação e treinamentos de todos os envolvidos na cadeia da mecanização, desde a manutenção automotiva, passando por toda a estrutura administrativa, chegando ao corpo operacional.

Uma boa alternativa que se apresenta é o treinamento específico de aprendizes oriundos das famílias dos próprios funcionários da empresa, já que eles têm duplo interesse nesta opção: preparação do futuro dos seus filhos e a preservação de seus próprios nomes como profissionais. Além dessa capacitação de profissionais, faz-se necessária a formatação de planos efetivos de gestão de pessoas, passando pela criação de planos de remuneração variável mensal, substituindo a remuneração isonômica pela meritocrática, com a elaboração, a apuração e a efetiva divulgação das metas operacionais elegidas pela companhia, que, indubitavelmente, trará ganhos nos números operacionais.

Tais metas de desempenho (KPI´s - do inglês, Key Performance Indicator) precisam ser bem estudadas para que os ganhos de um determinado departamento considerado eficiente não o seja em detrimento de outro, da própria organização, situação hoje muito comum. Fora essa realidade – as humanas –, temos outra, não menos importante, que, independe das necessidades das adaptações dos parâmetros técnicos operacionais: a nova realidade da mecanização no plantio e da colheita da cana-de-açúcar crua, os conceitos agronômicos acadêmicos básicos da cultura canavieira, que, em alguns pontos importantes, estão sendo negligenciados.

Costumamos dizer que o setor “perdeu a receita do básico” a ser feita para obter êxito. Óbvio que existem exceções e que, com isso, estão obtendo sucesso. Como exemplos, podemos citar alguns quesitos técnicos clássicos: a utilização de tratamento térmico das mudas, realização de roguing nos viveiros,  utilização de mudas de primeiro corte, o manejo correto dos ambientes de produção, a desinfecção dos equipamentos de colheita de muda (visando mitigar o raquitismo de soqueira), o  monitoramento de pragas e doenças, a formação de um banco de análises de solo, a correta sistematização das lavouras, entre outros.

A atual grave crise potencializa sobremaneira os efeitos perversos da não adoção das posturas corretas, como temos visto em larga escala. Voltando ao tema central desta edição, podemos dizer que os equipamentos disponíveis para a execução das atividades mecanizadas evoluíram nos últimos anos sob vários aspectos, trazendo recursos que, quando bem utilizados, proporcionam bons resultados à nossa atividade; mas, em decorrência, principalmente, do que enumeramos acima, o que estamos tendo com certa frequência em nossas lavouras é falta de zelo com o básico.

Apesar de o futuro já ser presente em muitos aspectos, com frequência, não preparamos a lavoura para receber as operações mecanizadas, não fazendo a limpeza dos restos vegetais, não fazendo um bom talhonamento, não efetuando boa sistematização e nivelamento do terreno, espaçamento e paralelismo de plantio não adequados, inconformidades na manutenção automotiva, caminhões transbordos com pneus e bitolas inadequadas, não utilização dos mecanismos de copiador de solo das colhedoras e dos dispositivos de rotação de RPM dos motores diesel, que propiciam redução do consumo de combustível, entre outros, fazem com que repensemos o presente para consolidarmos a implantação real e efetiva do melhor desse citado futuro.

Para que se abrevie essa chegada, paralelamente ao preparo da mão de obra, ainda falta o desenvolvimento e a adoção de variedades de canas específicas para o corte e o plantio mecânicos, tal como na Austrália, além de ajustes na motorização das colhedoras que trabalham em regime severos de RPM, o que abrevia sua vida útil e encarece demasiadamente o custo de operação e de manutenção.  Ainda temos um razoável caminho a percorrer.