Coordenador de Programa de Variedades do CTC
Op-AA-36
Para atender às demandas domésticas de alimentos e de energia, além das perspectivas globais de uso de biocombustíveis, o Brasil precisa duplicar a produção de cana-de-açúcar nos próximos 20 anos e, até mesmo, triplicar a produção de etanol. Para commodities alimentícias e energéticas, não basta apenas produzir mais, é preciso produzir melhor, ou seja, com menores custos e de forma sustentável.
Temos enormes desafios pela frente. Nas últimas três décadas, elevamos a produtividade agrícola da cana na taxa de 1,3% ao ano. Nos próximos 20 anos, investir em tecnologia e inovação será essencial, pois teremos mais que dobrar as taxas atuais de crescimento. Recursos produtivos, capacidade empresarial, domínio dos processos e conhecimento não nos faltam. Desafiador é transferir de forma eficaz os pacotes tecnológicos, oriundos de empresas, centros de pesquisas e universidades. Desafiador é viabilizar os melhores projetos e as ferramentas adequadas para os produtores, aumentando a eficiência em toda a cadeia produtiva.
No CTC, encaramos a pesquisa de forma integrada e multidisciplinar, buscando as melhores soluções. Utilizamos as melhores tecnologias da genética de plantas, o conhecimento gerado em mais de 40 anos do programa de melhoramento e as melhores ferramentas do manejo varietal. A moderna variedade CTC de cana é desenvolvida para as necessidades do mercado, dentro dos sistemas atuais de produção, com o conhecimento preciso dos ambientes edafoclimáticos.
O alicerce do programa de melhoramento de cana do CTC está no seu germoplasma, um dos mais diversificados do mundo. Explorar de forma eficiente esse patrimônio é objetivo dos projetos relacionados ao uso do germoplasma, do banco de dados, das técnicas de hibridação e da avaliação das populações iniciais. Os milhares de genitores estão caracterizados para componentes de produção, qualidade, tolerância às doenças e potencial das progênies geradas. A utilização de software próprio, permite a escolha dos parentais ideais e simula os melhores cruzamentos para cada região produtora de cana-de-açúcar. Depois de produzidas as novas plantas por sementes sexuadas, os processos de seleção inicial e geração de novos clones são realizados a “céu aberto”.
Desde o plantio, os experimentos são testados com uso de mecanização e manejo de cana sem queimar. As informações geradas e as análises genético-estatísticas contribuem para a tomada de decisão nos processos de seleção clonal. O programa desenvolvido para obtenção e melhoramento de plantas com maior biomassa e maior teor de fibra, a denominada cana energia, também já colhe seus frutos no CTC.
Novas cultivares CTC já podem atender à futura demanda da indústria, ou seja, uma cana de menor exigência, com maior produção de matéria seca. Novas plantas, com constituição específica, que tenham mais palha, mais biomassa, mais carbono e celulose, a serem transferidas ao etanol de segunda geração e para oferta como energia renovável. O programa de melhoramento genético é estabelecido, inclusive, para utilizar as ferramentas da biotecnologia, como os marcadores moleculares. O objetivo é acelerar etapas, melhorar a assertividade na seleção e diminuir tempo, recursos e custos. Às vezes, alguns limites de melhoria de produtividade são de difícil superação, mas já existem trabalhos de biotecnologia usando, como plataforma, as melhores variedades CTC.
Trata-se da transgenia, que agrega genes que vão conferir ganhos na produção de açúcar, na tolerância à seca e na resistência às pragas, que são fatores limitantes em diversas regiões canavieiras. As variedades de cana são a base de toda produção do setor sucroenergético nacional; elas fornecem a matéria-prima essencial para movimentar as agroindústrias canavieiras. Sendo o Brasil um país de dimensões continentais, as áreas ocupadas pela cultura da cana-de-açúcar abrangem diferentes tipos de solo e clima, estando sujeitas às diferentes formas de manejo empregadas pelas unidades de produção.
É por esses motivos que o CTC descentralizou o seu programa de melhoramento, criando os polos regionais, onde as variedades são produzidas para gerar aumentos reais de produtividade, proporcionando ganhos significativos de ATR/ha. Essa estratégia de melhoramento genético já produziu os primeiros frutos, com a recente liberação da Série 9000, desenvolvido para os ambientes de produção do cerrado – tolerantes à seca, de baixo florescimento e com alta adaptação ao solo e aos climas daquela região.
Viabilizar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento é o que vem mobilizando o CTC para implantar as melhores tecnologias. Dentre elas, a genética da cana-de-açúcar continuará sendo a propulsora dos incrementos nas produtividades agrícola e industrial. O objetivo do melhoramento de plantas, manipulando de forma inteligente o genoma, é justamente obter, por técnicas modernas, plantas que atendam às nossas necessidades por matéria-prima, alimentos, novos produtos e energia renovável. Esse cenário permitirá ao País seguir adiante, com o uso competente dos recursos e do conhecimento no setor sucroenergético. Vamos continuar a produzir mais e melhor, pois não há desenvolvimento possível e sustentável sem energia.