Vice-Presidente de Gestão de Energia da CPFL Energia
Op-AA-15
Em 2007, de toda energia elétrica produzida no Brasil, mais de 92% foi proveniente de usinas hidrelétricas. As dificuldades de abastecimento de gás natural para geração reduziram a capacidade da termeletricidade, em cerca de 3.800 MW, o equivalente a 27% de todo o parque gerador térmico nacional. Nosso país é o nono produtor de eletricidade no mundo, produzindo cerca de 2% de toda a produção mundial e quando se trata de hidreletricidade, o país é responsável pela produção de aproximadamente, 11% de toda hidreletricidade produzida no mundo.
Excetuando-se os anos onde a entrada em operação de grandes usinas no Rio Madeira incrementa a participação da hidreletricidade, os planos de expansão da oferta de energia apresentam mais evolução das termelétricas do que das hidrelétricas. A dependência do setor elétrico da hidreletricidade deverá se estender por muito tempo.
Os preços da energia elétrica no curto prazo, o chamado Preço de Liquidação das Diferenças - PLD, está, e deverá permanecer por muitos anos, fortemente dependente da vazão afluente e da energia armazenada nos reservatórios das grandes hidrelétricas. Observe-se o que está acorrendo com o preço da energia no curto prazo, desde meados do ano passado, até o início de 2008.
Note-se que a variação observada nesses preços está intimamente ligada às afluências observadas e à energia armazenada nos reservatórios, nesse período. Dessa maneira, a variação dos preços da energia no curto prazo está sujeita às oscilações das chuvas e das vazões afluentes aos reservatórios. Observando-se o período citado, nota-se que a volatilidade do preço da energia no curto prazo é acentuadamente maior do que a volatilidade do IBOVESPA, no mesmo período, muito embora, este tenha sido um período particularmente turbulento para o mercado de capitais no Brasil e no mundo.
A geração termelétrica, em um sistema como o brasileiro, opera em complementariedade à disponi-bilidade hídrica. Particularmente, a geração termelétrica, a partir da biomassa de cana, além de operar em complemento à disponibilidade hídrica, apresenta complementariedade sazonal, em relação às estações chuvosas, nos principais subsistemas brasileiros: SE/CO e NE.
Nesses submercados, a safra de cana é complementar à estação chuvosa, estabelecendo-se, assim, uma oportunidade para a geração de energia a partir da biomassa de cana, visando atender à demanda de eletricidade, justamente nos períodos em que a escassez de chuvas faz com que o preço da energia esteja mais elevado.
Esta característica faz com que a energia gerada a partir do bagaço de cana adquira competitividade frente a outras fontes nos leilões públicos de energia, destinados ao Ambiente de Contratação Regulado – ACR, onde os riscos financeiros e de mercado para a energia comercializada são reduzidos para o gerador. Esta não é a única forma de se comercializar a energia proveniente dessa fonte.
Dada a sua característica de ser uma energia limpa e renovável, o incentivo que recebe quanto ao desconto de uso do sistema de distribuição e de transmissão, faz com que se torne competitiva também para atendimento direto a consumidores finais, com demanda contratada igual ou superior a 500kW. Recentemente, com as alterações no preço, a energia de cogeração passou a ser competitiva até para o atendimento ao mercado livre.
O Brasil reúne condições para expandir substancialmente sua capacidade de produção de energia, a partir da cana-de-açúcar. O país dispõe de áreas agricultáveis significativas, estações chuvosas e secas bem definidas, que permitem a adequada evolução do teor de sacarose na cana e tecnologia desenvolvida, capaz de fazer frente ao aumento de demanda por equipamentos, nessa área.
Assim, na esteira do aumento da demanda mundial por energia limpa e renovável, particularmente contida no etanol e no açúcar, o Brasil deve experimentar um crescimento significativo na sua capacidade de produção, nos próximos anos. Estima-se que a produção de etanol passe dos atuais 18 milhões de metros cúbicos e alcance 35 milhões de metros cúbicos em 2012 e que as 426 milhões de toneladas de açúcar esperadas para 2008, possa chegar a 728 milhões de toneladas em 2012.
Como efeito colateral relevante e de extrema importância nessa evolução de capacidade de processamento da cana, estima-se que a capacidade de produção de energia elétrica, a partir do bagaço de cana, evolua dos atuais 1.400 MWmed, para 3.300 MWmed, em 2012.
Isso fará com que a participação da energia de biomassa de cana, que atualmente representa 3% da matriz de produção da energia elétrica, evolua para 6%, em 2012. Desenvolvimentos tecnológicos no processo de colheita, processa-mento da cana, produção do etanol e açúcar, bem como do aproveitamento dos resíduos sólidos e líquidos do processo, tendem a elevar substancialmente o poder energético da cana, chegando-se a situações, inclusive, de se obter geração de energia, não apenas durante a safra, mas por todo o ano, o que elevaria a capacidade dessa fonte complementar a geração hidrelétrica, em todas as estações do ano.
No entanto, para alcançar a posição esperada, o setor depende de melhorias quanto às condições de conexão à Rede Básica, atualmente em análise pela Empresa de Pesquisa Energética, e quanto à superação das dificuldades de se obter o licenciamento ambiental e o equilíbrio da remuneração. Uma prova do grande potencial dessa fonte de energia é a compra de energia de reserva, que será feita pelo governo, ainda este ano, com uma demanda estimada da ordem de 1.500 MW.
Este leilão, considerado essencial para assegurar o suprimento de energia para o sistema interligado nacional, contará com a participação exclusiva de geradores, a partir da biomassa da cana. A CPFL tem a relação histórica com o setor sucroalcooleiro, adquirindo energia de biomassa desde 1992, quando a energia elétrica era obtida como subproduto da produção de açúcar e álcool, e os processos não buscavam a eficiência na produção da energia elétrica, pois o que mais importava era a queima do “indesejável” bagaço de cana residual do processo.
Além da comercialização direta, a nossa empresa, através de sua subsidiária de comercialização, tem buscado estabelecer parcerias para investimento na produção de energia elétrica, a partir do bagaço de cana, numa tentativa de buscar a expansão de seus negócios, com base na geração limpa.
As mesmas técnicas de gestão de energia que a CPFL têm implementado, para atender a necessidade interna de suas empresas envolvidas no mercado livre e regulado, são colocadas à disposição dos parceiros estratégicos da empresa na geração de energia de biomassa, tornando a gestão energética mais eficaz e rentável, tanto para operar no mercado livre, quanto para venda de energia nos leilões no âmbito do ACR.