Diretor da SCA Etanol do Brasil
Op-AA-31
Há dez anos, quando os carros bicombustíveis foram lançados no mercado, o setor via renascer a oportunidade de retomar a venda de etanol hidratado. Bem liderado, o setor não fugiu da responsabilidade, investindo fortemente na expansão e ampliação do parque agrícola e industrial, fazendo a moagem saltar no Centro-Sul de 270,4 milhões t, em 2002/03, para 556,9 milhões t na safra 2010/11, um crescimento de 106% no período. Foram inauguradas 110 novas unidades.
No mesmo período, o mercado brasileiro comercializou 18,9 milhões de automóveis, dos quais aproximadamente 90% flexfuel. O setor agroenergético e as montadoras fizeram a sua parte.
Entretanto, permanece a pergunta: por que, atualmente, as montadoras continuam despejando automóveis bicombustíveis no mercado, enquanto os produtores de etanol estagnaram a oferta do produto renovável no mercado?
A resposta é simples: aqueles corajosos empreendedores, a maioria com história secular na atividade, que haviam acreditado na retomada do mercado de etanol, protegido de uma “política pública” que garantisse a remuneração do capital investido, tiveram consequências desastrosas, vendendo e se retirando da atividade canavieira.
Nas últimas três safras tivemos consecutivos problemas nas condições climáticas, chuva em excesso, acentuada estiagem, geadas e florescimento do canavial, prejudicando a produtividade dos envelhecidos canaviais.
Se, no lado da produção, tivemos problemas climáticos, no lado societário, tivemos a grande transformação e mudança, com a entrada de empresas estrangeiras no segmento, companhias petrolíferas, tradicionais traders de commodities agrícolas, fundos de private equity, entre outras.
No campo, a valorização das commodities agrícolas, com que disputamos mesmo espaço com a cana, vem elevando substancialmente o custo de arrendamento, exigindo a remuneração equivalente a outras culturas. As exigências ambientais, tais como a proibição das queimadas, introduziram modernos e caros equipamentos para a mecanização do plantio e da colheita, gerando impacto direto na elevação dos custos.
A contratação de executivos oriundos de outros setores da economia não se traduziu apenas na mudança de perfil profissional, mas um outro nível de remuneração. Tudo isso contribuiu para elevar os custos de produção do etanol, do açúcar e da energia produzidos da cana.
No caso do etanol hidratado, os benefícios que o uso em escala do biocombustível da cana produz ao ambiente, na preservação da saúde, na geração de empregos, na fixação e desenvolvimento do interior brasileiro, na balança comercial do País, na melhor distribuição de renda e outros infindáveis e conhecidos benefícios foram esquecidos, considerando apenas o fator econômico da paridade, cujo preço do produto fóssil encontra-se “artificialmente” congelado desde 2005.
As novas empresas que se instalaram no mercado trazem experiência corporativa e trabalham com visão de investimento de longo prazo e calcado na segurança de retorno. Desse modo, o futuro do setor agroenergético depende de algumas definições claras para a retomada dos investimentos, como, por exemplo:
Importante ressaltar que, no que diz respeito à produção, estamos conscientes de que precisamos efetivamente reduzir custos na área agrícola, industrial e logística, e, para efetivar a melhoria da produtividade, investir na genética da cana. Resumindo, a retomada dos investimentos só será viável, se a atual insegurança for respondida com ações concretas por parte do governo.