O setor sucroenergético gera mais de 800.000 empregos diretos no País e faz parte de uma matriz energética nacional estratégica, gerando divisas e garantindo equilíbrio na balança comercial, através da venda do açúcar. Aliás, o Brasil conquistou a honrosa posição de ser o maior exportador mundial de referida commodity alimentar, produzindo ainda o etanol de cana-de-açúcar – combustível limpo – e energia através da biomassa (bagaço), tudo com grande e ímpar capacidade de recuperação de carbono da atmosfera.
Infelizmente, o contexto nacional, inclusive geopolítico, não está favorável para todos os setores da economia nos últimos anos; e o setor sucroenergético, em especial, passa por um momento totalmente atípico, porque, quando estava se reorganizando da crise política e financeira, buscando a retomada da sua produção e de modelo de gestão, teve novamente forte impacto negativo em razão de ação governamental em praticar uma política de favorecimento artificial dos preços da gasolina (combustível fóssil) em detrimento ao etanol (energia renovável), gerando prejuízos diretos e enormes para as usinas, lembrando, por meio oblíquo, os duros episódios do IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool.
Não obstante, o setor sofre por reiterados anos com as alterações significativas no clima – que têm verdadeira característica de força maior, assim como sofre com a volatilidade, tanto dos preços do açúcar como da moeda americana, indexadora de suas dívidas, ou seja, todos fatores totalmente alheios ao controle setorial ou a atitudes que os produtores pudessem reverter exclusivamente com suas forças.
Para se ter ideia, os contratos chamados Sugar NY nº 11 (Mercado Futuro de Commodity Açúcar) estão com os piores níveis de preço dos últimos tempos, praticando 10,82 centavos de dólar por libra-peso, quando, em janeiro de 2017, tanto o mercado financeiro (bancos) como as tradings (compradoras/negociadores de açúcar), previam textualmente o valor médio de 18, 19 e até 20 centavos de dólar por libra-peso.
A variação negativa da commodity açúcar impactou severamente a geração de caixa das usinas, e isso já deveria ter gerado uma interferência positiva do governo, criando, por exemplo, ao menos, um funding, visando renovar os canaviais e permitir recuperação mais rápida da produtividade, da eficiência e da competitividade, que são as únicas ações setoriais efetivas de melhora das condições para redução da alavancagem.
Atualmente, existe, de fato, o RenovaBio, porém o programa não apresentou, ainda, um viés efetivo de promoção dos canaviais para geração de etanol e exportação da geração de energia elétrica, ou seja, a verdadeira promoção da energia limpa. Se for lançado um olhar para nossos players mundiais, em especial os Estados Unidos e a Europa – países com subsídios e políticas protecionistas declaradas de fortalecimento de sua agricultura e economia –, percebemos que eles estão empenhados em manter suas produções e estoques reguladores, respectivamente com etanol de milho, com açúcar da beterraba e até mesmo de cana, oriundo de países como Índia e Tailândia, garantindo o preço aos produtores.
Já no Brasil, na última década, não houve um cuidado ou um enfrentamento efetivo dos protecionismos praticados por outros países, estes, ávidos por ganharem uma posição que foi conquistada com muito esforço pelo setor nacional. Aqui, enveredou-se, como já dito, por uma política governamental de favorecimento do combustível fóssil (gasolina e diesel) em detrimento do etanol, o que gerou prejuízos imensos, desestimulou-se a produção do combustível renovável que o mundo não tem (a chamada Carta de Paris prevê créditos para redução de emissões atmosféricas) e a geração da energia da biomassa pelo processo de geração de vapor do bagaço da cana-de-açúcar, uma alternativa ambiental e econômica que diferencia o Brasil pela quantidade de usinas que possui, ainda mais nas regiões que mais demandam consumo de energia elétrica no País – Sudeste e Sul.
A energia da biomassa, por exemplo, poderia estar suprindo, neste período de estiagem, e evitaria o abissal aumento do custo da energia em razão da baixa dos reservatórios e do uso das termoelétricas e Furnas, que certamente terão que ser acionadas com uso do combustível fóssil, induvidosamente com efeitos negativos do ponto de vista econômica e ambiental.
Fica evidente, pois, que essa política gerou um verdadeiro dumping contra o etanol, o que, aliado à falta de incentivo para a geração de energia elétrica da biomassa, acabou majorando prejuízos significativos ao setor e ao País, penalizando sobremaneira as usinas, ainda mais neste momento de baixa de preços do açúcar e alta do dólar.
A perspectiva, contudo, é favorável para os próximos anos, na medida em que as usinas vão, cada vez mais, reorganizar seu quadro de profissionais e focar no aumento da produção, com aumento de eficiência via ganho de produtividade agrícola e diferenças de escalas logísticas, que são as verdadeiras soluções e cuidados que o setor pode e deve avançar, esperando, como todo agricultor, que o mercado reaja com os preços do açúcar, e o Governo Nacional seja mais proativo em equiparar, apenas um pouco, o Brasil com as políticas protecionistas de auxílio aos produtores locais, que outros players do mercado mundial praticam sem o menor pudor, o que servirá para minorar os prejuízos do setor, sofrido pela política de favorecimento dada aos combustíveis fósseis, pelas variações climáticas, cambiais e de preço, dando maior previsibilidade e segurança aos produtores que geram importantes quantidades de empregos no País.
Brazil first!