Ao analisarmos a atual situação brasileira que passa por uma crise política e econômica das mais graves da história do nosso País com tantos indicadores de péssima qualidade, confesso que, para muitos de nós, a vontade que dá é de jogar a toalha. Ao mesmo tempo, um país com tantas riquezas, um povo do bem, os recursos naturais dos mais variados e um poder de recuperação fantástico, é óbvio que temos de trabalhar para reverter esse quadro.
Alto desemprego, crise tributária, excesso de legislações para controlar tudo, poderes executivo, legislativo e judiciário que nos dão vergonha, com alto grau de ideologia implantado nas instituições, legislações e regramentos impossíveis de serem absorvidos pelo empresariado, e, consequentemente, pelo cidadão comum, reformas necessárias que não acontecem e nos deixam realmente sem coragem para reagir. O que fazer?
Penso sinceramente que temos que começar a dar passos no sentido de reversão nesse quadro, dadas as grandes oportunidades que o Brasil tem de melhorar nossas vidas e de muitos habitantes do planeta, e, principalmente, por duas razões bem simples: produzir alimentos e energia com diferenciais gigantescos em relação a outros países. A produção de energias com certeza será um dos grandes desafios, pois a matriz da maioria dos países é de energias “sujas” e que devem ser substituídas e a produção de alimentos que tem seu grau de importância tão grande quanto o da produção de energia.
Aí vem o Brasil, que, na década de 70 do século passado, cria um programa de produção de energia alternativa (Proálcool), cujos resultados para a economia brasileira são magníficos, e diga-se de passagem, observados após vários anos de sua implementação, no tocante à economia de divisas com importação de combustíveis, de geração de empregos diretos e indiretos, de desenvolvimento de uma indústria respeitada no mundo inteiro, de geração de impostos e como uma alternativa espetacular quando se avalia os ganhos ambientais, principalmente ao avaliarmos as emissões de poluentes e gases que promovem o efeito estufa. Sucesso enorme, que seria muito maior se não fossem as mazelas de governos anteriores que promoveram um grande estrago no setor produtivo. O mesmo dano foi causado à maior empresa brasileira, a Petrobras.
Lembrando um pouco da história, surge para o Brasil outra enorme oportunidade de implementar um programa com características semelhantes, mas muito mais amplo, o RenovaBio, cujos detalhes poderão ser conhecidos neste e nos demais artigos desta edição exclusivamente dedicada ao assunto, representando diferentes segmentos e regiões do País.
Atrevo-me a falar um pouco dos benefícios, olhando sob uma macrovisão. Importante salientar que não estamos mais olhando somente para a produção de etanol de cana-de-açúcar, mas também de etanol de milho, biodiesel de origem das várias matérias-primas e algumas outras fontes de geração de energia.
Vejamos. Um programa que traga no seu DNA o estímulo à produção de energias que trarão como benefícios fatores como:
1. Utilização de matérias-primas principalmente agrícolas, das quais a capacidade de produção do Brasil é enorme, com grande competência e esparramada por muitas áreas do interior do Brasil;
2. Geração de muitos empregos diretos no desenvolvimento dessa produção nas empresas existentes, bem como nos novos empreendimentos que serão construídos para a ampliação da produção;
3. Geração de um número maior ainda de empregos indiretos nas indústrias que fornecem os bens de capital para que isso seja possível e, muito mais empregos ainda, no comércio de inúmeras cidades espalhadas pelas zonas de produção agrícola e das próprias indústrias. Os itens 2 e 3 podem representar números acima de um milhão de empregos;
4. Aumento expressivo na geração de impostos em todas as fases dos processos, dando sustentação às necessidades do País, e, é claro, contando com as reformas para que os impostos advindos dessa produção sejam utilizados com melhores critérios e promovendo melhorias;
5. Agregação de valor aos produtos agrícolas – diferencial que sempre buscamos para que o Brasil melhorasse a qualidade de suas exportações e,
6. Bem como a produção de energias renováveis visando à melhoria de nossa já “limpa” matriz energética, com combustíveis muito menos poluentes e que serão fundamentais para o cumprimento de nossas metas de redução de emissões, item de grande importância no mundo atual.
Existem muito mais benefícios, mas se ficarmos por aqui, já será suficiente para que esse projeto seja implementado. Abro aqui parênteses para falar um pouco da produção de etanol de milho nos Estados Unidos da América, que tem a sua base orientada por um programa com características muito semelhantes ao RenovaBio. Esse programa conseguiu, ao longo desses últimos anos, elevar a produção de etanol de aproximadamente 12 bilhões de litros para mais de 50 bilhões de litros.
Isso permitiu consumir valores expressivos de milho do mercado americano (130 milhões de toneladas por ano) que causariam grandes transtornos para seus produtores e para o mercado mundial com consequências desastrosas, principalmente para EUA, Brasil e Argentina. Lembramos que esse fato abriu uma janela importante de exportação de milho do Brasil viabilizando algumas áreas da região centro-oeste.
Um RenovaBio implantado no País significa grandes oportunidades. Citarei três delas que muito impactariam a nossa economia. Primeiro em relação à produção de etanol – na qual os diferenciais de preço promovidos pelo programa viabilizariam a sua produção –, tirando a oportunidade de governos mal intencionados ou despreparados trazerem prejuízos à toda uma cadeia produtiva e as consequências negativas como assistimos num passado recente, com reflexos até os dias atuais.
Segundo, seria um mecanismo de oportunidade de produção de etanol de milho na região centro-oeste, na qual temos grandes problemas logísticos com consequente abertura de oportunidades para se trabalhar melhor o mercado dessa commodity, de acordo com o volume produzido e oportunidade de mais destinos. Em terceiro, criaríamos outra grande oportunidade de gerenciar nossa produção de soja tendo mais uma alternativa de produção de biodiesel, certamente ajudando o País no cumprimento das metas assumidas nas conferências sobre o clima.
Com certeza, programas dessa natureza trazem tantos benefícios que os custos ficam pouco representativos para a sociedade. Inúmeros ministérios estão avaliando a questão e não consigo entender o porquê da demora. Pensando bem: talvez tenhamos que acelerar a mudança de nossa representação nos poderes constituídos, pois as pessoas não estão conseguindo identificar os grandes benefícios em detrimento de alguns pequenos e pontuais malefícios.
Para finalizar, as organizações de produtores independentes de cana-de-açúcar têm se empenhado muito na efetivação desse programa, o que certamente no futuro nos trará a oportunidade também de continuar nossa produção de maneira mais sustentável economicamente. A decisão para a implementação desse programa é urgente e certamente sentiremos muito mais a sua falta numa eventual alta do petróleo, na qual mais uma vez teremos o sentimento de uma oportunidade não aproveitada.