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Dietrich Klein

CEO da Associação da Indústria de bioetanol da Alemanha

Op-AA-30

Biocombustíveis: podemos competir, podemos ganhar

Embora eu tenha ouvido aqui no Brasil tantas vezes a palavra “crise”, penso que vocês brasileiros tem todas as razões do mundo para serem muito otimistas. É certo que o sucesso não virá automaticamente, vocês têm que trabalhar, lutar por ele, investir nele, mas a agricultura brasileira tem um potencial tão imenso, que é só seguir esse caminho que vocês escolheram há alguns anos para que tudo dê certo.

Há concorrência, sim, claro, mas eu não fiz essa viagem de Berlim para Sertãozinho para ser um oponente. Vim para aprender, para receber e dar informações para que possamos trabalhar em parceria. Conheço o trabalho de vocês e sei que temos, de ambos os lados, muito que aprender.

Conheço, por exemplo, o trabalho da Unica e posso dizer que estão trabalhando de uma forma muito eficiente em Bruxelas, às vezes, até bem demais para nossos interesses, e eu gostaria de parabenizá-los por isso.

Gostaria de me expressar sobre a indústria do etanol na Alemanha, ou do bioetanol, como nós o chamamos lá. São três as palavras-chave sobre a indústria do bioetanol, tanto para a Alemanha quanto para a União Europeia (UE): a economia de energia, a energia de fontes renováveis e a sustentabilidade dos combustíveis para transporte.

Existem outros fatos muitos importantes também a considerar, sobre os quais devemos comentar, como a mudança do uso da terra, as emissões de gases de efeito estufa e o mercado de bioetanol.

No Brasil, a indústria do etanol pode ser denominada exclusivamente como a indústria da cana-de-açúcar. Na Alemanha, não, pois o etanol é feito de muitos produtos, como a beterraba, o milho, de cereais e de grãos em geral. Para a indústria alemã, o bioetanol é um coproduto, porque usamos um milhão de toneladas de bioetanol e dois milhões de toneladas de subprodutos, como rações, fertilizantes, alimentos, CO2 e muitas outras coisas.

Essa condição ajuda muito a concorrência e no desenvolvimento da tecnologia. Somos líderes na eficiência do biocombustível. É interessante ver o que pode ser feito para melhorar essa situação. A primeira palavra é economia de energia.

A União Europeia tem como uma decisão mandatória a substituição por fontes renováveis, até 2020, de 20% do total final de consumo de energia da comunidade e de 10% para combustíveis utilizados em todas as formas de transporte. A Alemanha foi ainda mais longe. O governo federal já determinou como meta a substituição por fontes renováveis de 30% do consumo de energia utilizada como eletricidade, calefação e combustíveis até 2030, de 45% até 2040 e de 60% até 2050.

Podemos imaginar com isso que tipo de combustíveis serão utilizados pelos filhos dos nossos jovens em 2050? E, destaca-se que, para a humanidade, 2050 é amanhã.
Considerando a evolução prevista para o consumo de energia entre 2005 e 2020 e as reduções mandatórias, temos como estimativas uma redução real da ordem de 40% da energia fóssil.

Isso não afeta apenas o mercado de combustíveis para transporte, mas todos os setores. Vamos fechar refinarias? O que acontecerá na indústria química? Quais são as indústrias baseadas no petróleo que vão conseguir continuar a funcionar?  Não temos essas respostas.

Na União Europeia, nós temos uma legislação que dá uma definição muito clara, com critérios muito bem definidos do que seja necessário para definir um produto como sustentável ou não. Sei que o governo brasileiro e a própria Unica participaram das discussões em Bruxelas, e a abordagem decidida foi completamente aceita.

Foram considerados como não aceitáveis biocombustíveis produzidos em terras com alto valor de biodiversidade, como áreas protegidas e de florestas primárias, por exemplo, com emissão de gases de efeito estufa; e oriundos de países que não se submetam ao acordo, que pratiquem a mudança indireta do uso da terra – e aqui, cabe uma explicação.

Houve um relatório de uma comissão, que ainda está pendente, e em que se verificam as opções políticas, um fator global a ser aplicado aos biocombustíveis, considerando onde eles são produzidos e o vínculo entre a produção de biocombustíveis e o desmatamento.

Quero dar destaque à condição de que o crescimento da produção de etanol no Brasil é inversamente proporcional à curva de desmatamento na Amazônia, ou seja, em 2003, o desmatamento na Amazônia era de 27 mil km2, enquanto a produção de etanol era de 14,8 milhões de m3. Em 2010, o desmatamento da Amazônia foi de 6,5 mil km2, enquanto a produção de etanol chegou a 35 milhões de m3. Esses dados comprovam que a produção do etanol está crescendo, e o desmatamento na Amazônia também está caindo.

É um efeito adverso, a produção de etanol causa desmatamento? Ou essa produção de etanol está evitando que isso ocorra? Nenhuma dessas duas possibilidades. Eu acho que o ponto crucial é que, no Brasil, as atividades de sucesso protegem a floresta Amazônica e é por isso que essa teoria ou essa hipótese de mudança indireta no uso da terra não tem fundamento. Nós não aceitamos, porque isso é a última batalha de algumas ONGs contra os biocombustíveis em geral.

Com relação às emissões de gases de efeito estufa (GEE), no que diz respeito à UE, as ações diretivas a serem aplicadas entre 2009 e 2030 para a qualidade dos combustíveis definem como meta mandatória que os fornecedores de combustíveis devam reduzir o ciclo de vida dos GEE por unidade de energia a partir dos combustíveis e energia utilizadas em 6% até 2020.  Na Alemanha, a lei federal de controle de emissões estabelece meta em 3% até 2015, 4,5% até 2017 e 7% até 2020.

A UE coloca ainda como metas adicionais indicativas 2%  do suprimento de energia para o transporte e qualquer tecnologia (incluindo captura e aprisionamento de CO2) e 2% através de créditos de emissões de gases.

A energia renovável deve ser sustentável e certificada como sustentável, esse sistema de verificação foi aceito pela União Europeia, e devemos economizar o máximo possível de GEE; e por que isso? Porque o mais importante para a indústria de combustíveis e de petróleo será a questão de quanto custa para evitar 1 tonelada da CO2. Essa é a questão mais crítica. O preço por litro perde um pouco da sua importância, mas o grande referêncial passa a ser o custo de evitar 1 tonelada de CO2.

Com relação ao tamanho do mercado de combustíveis da Europa, se prevê que, em 2020, estejamos utilizando cerca de 344 milhões de toneladas métricas de diesel, 45 de biodiesel, 67 de gasolina e 13 de bioetanol. No que se refere somente à Alemanha, é previsto que, nessa época, nosso consumo seja de 29 milhões de toneladas métricas de diesel, 4 de biodiesel, 12 de gasolina e 2,3 de bioetanol.

Quanto ao mercado de etanol, temos duas coisas diferentes a serem avaliadas: a qualidade e a quantidade. Não vamos entrar aqui nos números, mas na essência do fato, ou seja, qual o custo da redução dos GEE. Isso nos leva à concorrência. Muitas pessoas dizem que o etanol deve competir com a gasolina. Acho que não, nós temos que ganhar essa concorrência.

Com relação à eletricidade, temos que levar esse assunto a sério, porque também poderemos competir com biogás e temos boas chances. É importante que o Estado estabeça as condições apropriadas para se reduzir o consumo dos combustíveis fósseis e aí o nosso objetivo, o nosso trabalho é concorrer com as oportunidades diferentes, de produtos diferentes e com reais inovações.