O setor sucroenergético, mesmo antes da sua modernização, vem, há décadas, passando por alterações em um sobe e desce de preços, valorizações e técnicas como se vivêssemos em um sistema de ondas. Nesses tempos cíclicos, vivenciamos períodos de euforia e de crises, que, ultimamente, parecem apenas se alternar entre maiores e menores, resultando em grande volatilidade nacional e internacional, tanto dos preços da matéria-prima quanto dos bens industrializados.
Essas variações, nos últimos tempos, têm representado muito mais ônus do que bônus, tendo levado no setor diversas unidades produtoras e grupos econômicos a uma frequente troca de “mãos”, fechamento, hibernação, recuperação judicial, entre outras consequências.
Até o início da década de 1990, o setor canavieiro tinha o controle do Estado nas cotas de produção de açúcar e no preço da cana, que era pago apenas por tonelada. No governo Collor, houve o fechamento do IAA e a desregulamentação do setor, que, desde então, passou a experimentar as variações que o mercado trouxe com o novo sistema de remuneração da cana-de-açúcar, que, no momento, requer novas evoluções em função do modelo atual dessa produção.
Ainda na criação do Proálcool, em 1975, esse programa se apresentou como um grande salto para o crescimento e a modernização do setor, levando à expansão dos canaviais para regiões de solos de baixa fertilidade, tendo como consequência natural a queda da produtividade por área. Também a chegada das chamadas “multinacionais” no setor, há duas décadas, parecia um avanço em todos os sentidos, mas, apesar dos novos produtos e das novas tecnologias, não houve um aumento expressivo da produtividade, que, por razões diversas, até retrocederam em várias unidades.
Dentre outras razões, em minha opinião, a falta de experiência de novos grupos no setor, valorizando e priorizando o setor pela indústria e, em segundo plano, a lavoura, levou ao insucesso de alguns e à retração de outros. É sabido, há muito tempo, que o maior custo e o mais problemático nesse segmento é produzir a cana-de-açúcar, sempre muito sujeita, entre outras dificuldades, às intempéries, o que a torna um farto campo de erros na aplicação correta das técnicas para implantação e condução dos canaviais.
Quando olhamos para a lavoura canavieira pensando no produtor, vemos a grande dificuldade em absorver a crescente elevação dos custos, a própria modernização dos equipamentos para condução da lavoura, como, por exemplo, as colhedoras de cana e o cumprimento de legislações, como a ambiental, que eliminou a queima da cana. Esses fatores causaram uma forte redução no número de produtores e de fornecedores da matéria-prima, os quais, por não terem escala, não conseguiram viabilizar novas práticas obrigatórias, como a mecanização do plantio e da colheita.
Parece um contrassenso afirmar, mas a tecnologia para não utilização de mão de obra foi um dos grandes entraves para os pequenos produtores de cana, que passaram a depender de uma “terceirização” ou de um novo sistema de comercialização com as usinas. Como consequência, muitos estão desistindo da atividade, e outros, partindo para arrendamentos de suas terras.
A produção de cana-de-açúcar, cada vez mais, mostra que a escala tem seus limites nas duas extremidades. O possível sucesso na produção de cana está alinhado, entre outros itens, com a qualidade dos serviços executados, os custos de produção e o acesso e o uso correto de novas tecnologias disponíveis, fundamentais para alcançar o aumento da produtividade por área.
Lembramos que concorremos, atualmente, com países que não têm a mesma conduta que o Brasil em valor de impostos e legislação, seja ambiental, trabalhista ou outras, como as NRs. Não estamos dizendo que não devemos cumpri-las, mas sentimos haver um certo exagero. A concorrência nesses itens nos coloca em situação de desigualdade com outros países produtores para um mesmo produto exportado mundialmente. Estamos em um país com dimensões continentais, que tem aptidão para o agronegócio e a produção de cana-de-açúcar, principalmente no Centro-Sul.
Produzimos, com todas as dificuldades estruturais, um combustível limpo e uma energia elétrica, também limpa, a partir da biomassa, que, com certeza, irão beneficiar futuras gerações. Geramos emprego, renda e desenvolvimento, tanto no campo agronômico como na indústria de máquinas e de equipamentos, de insumos, entre outras.
O Brasil firmou o acordo de Paris, a COP21, e, com esse compromisso, devemos diminuir a emissão de GEE em 37% até 2025, em relação às emissões de 2005. Somos reconhecidos pelo maior e mais completo programa de biocombustível do planeta através do etanol, isso sem interferir em expansão de áreas cultiváveis e na produção de alimentos. Nesse item, cabe aos órgãos governamentais, às montadoras de veículos automotores e à sociedade a real valorização dos combustíveis limpos e renováveis, através de suas atitudes proativas.
A cana-de-açúcar, por ser uma planta C4, é uma das culturas que, em sua fase de crescimento, mais sequestra carbono da atmosfera de forma natural, contribuindo para minimizar o efeito dos GEE. Com a viabilização do RenovaBio, abriu-se a oportunidade de uma agenda de reedição de um Proálcool mais maduro, com muita experiência vivida pelo setor para traçar caminhos com menores obstáculos e com mais informações para superá-los.
Nos resta dizer que o sucesso do setor vai depender do comprometimento em cada segmento produtivo dessa cadeia e, principalmente, de uma política de governo em todos os níveis, que compartilhem e participem ativamente desses resultados, para garantir a manutenção e a expansão sustentável, econômica e social.